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Transações de crédito malparado em Portugal devem atingir os dois mil milhões de euros este ano

Portugal é um dos países europeus em que a transação de portfólios de ‘Non-Performing Loans’ poderá acelerar este ano, atingindo um volume muito superior ao que se estima terem sido transacionados em 2016.
30 Setembro 2017, 10h29

Segundo o mais recente estudo desenvolvido pela Prime Yield, empresa que atua na área de avaliação de ativos e consultoria, denominado “Investing in NPLs in Portugal: The Time is Now!”, tendo sido divulgado ontem em Londres, durante a conferência “NPL Europe”, o forte pipeline de negócios potenciais em Portugal face a um stock de NPLs que se estima rondar ainda os 41 mil milhões de euros (dados da European Banking Authority para 2016) é um dos factores que poderá impulsionar esta atividade, bem como o crescente interesse dos investidores por este tipo de ativos, tendo em conta quer as entidades que se encontram a investir em Portugal quer as que já anunciaram intenções de o fazer.

Além disso, também a Banca já anunciou estratégias mais dinâmicas para a resolução do malparado.  Por outro lado, também a crescente competitividade pela compra de ativos imobiliários core poderá redirecionar os investidores mais oportunistas para este segmento, encarado como uma via para investir indiretamente em imobiliário (através da compra de portfólios de créditos que se encontrem garantidos em ativos imobiliários), além de apresentar um perfil de preço mais apelativo para as suas estratégias. O estudo da Prime Yield identifica ainda como fator que poderá impulsionar a atividade de transação de NPLs, a esperada criação pelo Governo de uma solução integrada para acelerar a resolução deste tipo de créditos no sistema bancário nacional.

O stock atual de NPLs em Portugal que como referido ascende a cerca de 41 mil milhões de euros, um volume que tem um peso de cerca de 4% no stock total de 1 trilião de euros contabilizados na União Europeia. Este volume está, ainda assim, bastante distante do país líder na Europa, que é Itália, com um stock de 276 mil milhões de euros. Fora a Itália, apenas a França, Espanha e a Grécia possuem stocks de NPLs superiores a 100 biliões de euros. Já em termos de rácio de NPLs (ou seja, o peso que este tipo de crédito assume no total bruto dos empréstimos concedidos), Portugal está entre os mais elevados da Europa, com um rácio de 19,5% no final de 2016, o que compara com os 5,1% registados na média europeia. Neste indicador, acima de Portugal estão apenas o Chipre e a Grécia, os dois únicos países que tiveram que implementar medidas mais restritivas de controlo de capitais e cujos rácios de NPL estão perto dos 50% do total de crédito concedido. Ainda assim e se bem que de forma muito lenta, este rácio tem estado a decrescer desde 2015 em Portugal.

“A resolução do volume de crédito em incumprimento está a colocar desafios muito importantes aos países europeus que foram mais atingidos pela crise, como é o caso de Portugal. E numa altura em que existe uma crescente pressão para a redução destes créditos no sistema bancário português e em que este tipo de portfólio está a gerar cada vez mais interesse junto dos investidores, é muito importante que Portugal se posicione para a captação do capital estrangeiro que está atento a este setor”, revela Nelson Rêgo, CEO da Prime Yield. O responsável acrescenta ainda que “Portugal reúne um conjunto de condições muito favoráveis a que a atividade de investimento neste tipo de carteiras cresça bastante nos próximos dois anos”.

Relativamente aos desafios que ainda permanecem para que Portugal registe uma maior atividade de venda de carteiras de NPL, o estudo da Prime Yield destaca principalmente o desencontro de expectativas dos compradores e dos vendedores face aos preços. Nelson Rêgo, adianta que “há muito interesse dos investidores por este mercado, o que aliás acontece por toda a Europa. No caso concreto de Portugal, além de ser ainda necessário resolver questões de âmbito fiscal, judicial e de aguardarmos a solução governamental ainda este ano, é absolutamente crucial encontrar um equilíbrio entre os preços a que a Banca está disposta a vender os seus créditos malparados e aquele que os investidores estão dispostos a pagar, com estes últimos a reclamarem uma avaliação mais realista destas carteiras”.

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