Num sábado de manhã, Berlim, a incontornável capital alemã é invadida por centenas de tratores, numa manifestação que traz um inesperado colorido a uma manhã de chumbo.
Na semana passada, com o apoio de organizações como a Greenpeace, milhares de manifestantes a pé (e nos ditos tratores) entoaram palavras de ordem indecifráveis para quem não percebe alemão e percorreram um trajeto de vários quilómetros, ao longo de horas, pela nova Berlim, renascida da reunificação alemã, em 1990.
Porque estão eles aqui, arrancando para a sua marcha de protesto a partir de uma das mais icónicas praças de Berlim, a Potsdamer Platz?
Trata-se de uma manifestação dos agricultores alemães, a que se juntam ativistas, políticos, cidadãos em geral e, claro, jornalistas. O objetivo é protestar contra as políticas agrícolas da União Europeia (UE) e do governo alemão. E contra os tratados internacionais de comércio, como o TTIP, entre os Estados Unidos e a Europa (que Trump já revogou), e o CETA, entre o Canadá e a UE.
A posse das terras; o uso de pesticidas e antibióticos; as alterações climáticas, o bem-estar dos animais; o recurso a OGM – Organismos Geneticamente Modificados, mais conhecidos em Portugal por produtos transgénicos; a preocupação com a possibilidade de extinção das abelhas e o efeito que isso pode ter no meio rural e na produção de alimentos; a batalha contra o desperdício alimentar (calcula-se que na Alemanha cerca de 30% da produção agroalimentar vai parar ao caixote do lixo quando noutros pontos do Globo há centenas de milhar de pessoas a passar fome); o controlo do acesso às sementes e a oposição ao crescente domínio dos grandes conglomerados agroindustriais (por exemplo, a Bayer e a Monsanto têm em curso um processo de fusão) foram algumas das preocupações que desfilaram nesta manifestação.
Com o arranque à vista das negociações para a PAC – Política Agrícola Comum para o horizonte temporal subsequente a 2020, pode dizer-se que estas preocupações dos agricultores germânicos, que se deslocaram para esta manifestação vindos de todas as partes da Alemanha, não devem ser só deles, mas de todos nós, merecendo uma reflexão sobre o que deverá ser a agricultura do futuro num planeta em crescente aumento de população e, portanto, com pressão galopante sobre os recursos naturais, como a terra e a água, para produzir mais alimentos para mais milhões de pessoas.
Nem de propósito, a Comissão Europeia anunciou hoje o início do processo de consulta pública sobre o futuro da PAC, por um período de três meses.
A Alemanha, todos os sabemos, é a maior potência económica da UE, a quarta maior do Mundo, mas é sempre mais associada à indústria. No entanto, é igualmente poderosa no setor agrícola, incluindo a fileira florestal e as pescas, valendo o volume de negócios deste setor na Alemanha mais 30% que as indústrias papeleira ou farmacêutica, mais do dobro da indústria têxtil e de vestuário do país, ou mais do quádruplo do setor de extração mineira da Alemanha.
Pela relevância do tema e pela originalidade do evento, o Jornal Económico disponibiliza aqui uma seleção fotográfica desta manifestação gigantesca de agricultores alemães, que, além das questões mais sérias anteriormente referidas, traz sempre acompanhado um pouco de pitoresco e de folclórico.
Nota de redação: O jornalista viajou a convite da Embaixada da Alemanha em Portugal
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