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União Europeia e Estados Unidos: o primeiro confronto a sério

A cimeira do G20, agenda para esta semana em Hamburgo, pode redundar numa acesa troca de argumentações entre o bloco europeu e os Estados Unidos. Angela Merkel, numa cimeira preparatória na semana passada, quis assumir uma posição de força.
Reuters
1 Julho 2017, 16h30

Desde o primeiro instante – o da campanha eleitoral – ficou claro que uma possível vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais iria colocar em causa o tradicional bom relacionamento entre a União Europeia e os Estados Unidos. Para além das idiossincrasias avulsas do discurso do rei do imobiliário, Trump foi taxativo no apoio ao Brexit, na condenação do nível de envolvimento dos parceiros europeus na NATO e no desprezo pelo aprofundamento do processo de federalização da União Europeia.

Depois da surpreendente eleição para a Casa Branca, Trump limitou-se a transpor para a política externa as ideias, ou parte substancial delas, que tinha consolidado durante a campanha eleitoral. Tudo isto teve o seu momento alto na cimeira da NATO em Bruxelas e na do G7 em Itália, há umas semanas atrás, ocasião em que Trump decidiu passear o seu desprezo por algumas das capitais da Europa – culminando com o anúncio de que os Estados Unidos iriam desvincular-se do Acordo de Paris sobre Alterações Climatéricas; para, disse, propor uma nova entrada, mais favorável aos interesses e às empresas norte-americanas.

A resposta interna a esta decisão não terá sido a que Trump esperava – uma infinidade de organismos, empresas, governos federais, universidades, etc., desvinculou-se da ‘desvinculação’ e assumiu que iria continuar a perseguir as metas de Paris.

É neste quadro de relações cada vez mais abespinhadas entre a União Europeia e os Estados Unidos que ocorrerá, já esta semana, mais uma cimeira do G20, em Hamburgo, Alemanha. Mas, desta vez – e ao contrário do que é tradicional – o bloco da União Europeia não quer ser apanhado desprevenido.

Na semana que ontem acabou, Angela Merkel decidiu chamar os líderes dos países da União Europeia com lugar no G20 – para além da Alemanha, a França, Itália, a União enquanto conjunto e o Reino Unido (parece que ainda conta…) – para acertar azimutes para a cimeira. Nada de novo, portanto. Mas o que transpirou dessa minicimeira preparatória parece ser, essa sim uma novidade: os países europeus e a União Europeia preparam-se para mostrar a Donald Trump que os seus tirocínios internacionais não são propriamente reconhecidos do lado de cá do Atlântico como uma excelência em termos diplomáticos.

E a questão do Acordo de Paris é apenas uma das facetas da reserva com que o agregado europeu observa a evolução do posicionamento internacional dos Estados Unidos. Como não poderia deixar de ser, Angela Merkel afirmou em conferência de imprensa que não está interessada em nenhum confronto com os Estados Unidos. Mas a envolvente indica, se mais não for, que o bloco europeu do G20 esgotou a paciência para a titubeante evolução do presidente norte-americano no plano internacional.

Cimeira? Qual cimeira?

Do seu lado, Trump – como já fez antes, nomeadamente em relação à referida cimeira da NATO em Bruxelas – tem feito declarações de menosprezo pelo encontro de Hamburgo. Como se quisesse retirar impacto ao que lá se vai passar – escudando-se sempre, como é seu hábito, naquilo que continua a referir como ‘interesse americano’, algo que à posteriori não tem confirmação sequer no interior das fronteiras do seu próprio país (como ficou evidente no cado do Acordo de Paris, mas também no do encerramento das fronteiras com sete países muçulmanos).

Na conferência de imprensa, parece ter ficado a cargo do presidente francês, Emmanuel Macron, responder, por vias transversais, a essa tentativa de desqualificação da cimeira do G20. Fica à escolha de cada um seguir os nossos passos, disse Macron, para se referir especificamente ao Acordo de Paris – como que querendo dizer que quem decidir ficar para trás não deverá depois queixar-se das consequências.

Para alguns analistas, pode mesmo suceder que Trump decida, à última da hora, nem sequer se dignar aparecer em Hamburgo. A suceder – o que não será provável – isso seria um grave precedente em relação ao andamento dos trabalhos. Mas o grau de imprevisibilidade da agenda do presidente dos Estados Unidos é de tal ordem, que tudo pode acontecer.

Seja como for, a cimeira deverá ser pródiga em acontecimentos políticos, com soundbites à mistura e, possivelmente, muitas declarações desencontradas. A não perder, portanto.

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