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Valor sob gestão dos fundos imobiliários caiu pelo terceiro ano seguido

Apesar da retoma dos preços no setor imobiliário residencial e comercial em Portugal, o valor sob gestão de fundos de investimento imobiliário caiu pelo terceiro ano consecutivo. Nas carteiras dos fundos de investimento mobiliário verificou-se um aumento do investimento em dívida privada e uma redução significativa em dívida pública.
Brendan McDermid/Reuters
10 Julho 2017, 00h06

O valor sob gestão de fundos de investimento imobiliário caiu pelo terceiro ano consecutivo, para um
montante semelhante ao verificado em 2007 e 2008. No final de 2016 existiam 233 fundos em atividade, menos 13 do que no final do ano anterior, avança a CMVM no seu Relatório Anual sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários.

Apesar da retoma dos preços no setor imobiliário residencial e comercial em Portugal, em particular nas regiões de Lisboa, Porto e Algarve, os fundos de investimento imobiliário têm apresentado, nalguns casos, rentabilidades negativas, o que não será alheio à remoção da totalidade dos benefícios fiscais operada com o orçamento do Estado para 2016, conclui o relatório.

Mas em termos agregados, as subscrições líquidas de fundos abertos foram negativas em apenas cerca de um milhão de euros, pelo que a diminuição dos valores sob gestão se terá devido à revisão em baixa das avaliações dos imóveis detidos e ainda à venda de alguns imóveis da carteira.

Mercado dos Fundos de Investimento Mobiliário

No mercado dos fundos de investimento, a gestão individual de carteiras por conta de outrem teve uma evolução negativa quer dos valores sob gestão quer do número de carteiras geridas, diz o relatório de 2016 da CMVM.  Já na gestão coletiva, após o aumento registado no ano anterior, o valor global das carteiras dos fundos de investimento também diminuiu.

O desinvestimento observado nos fundos de investimento portugueses, apesar de em sintonia com a diminuição do montante de subscrições líquidas quer em fundos norte-americanos quer em fundos europeus, contrasta com o aumento do valor comercializado por organismos de investimento coletivo em valores mobiliários estrangeiros no mercado português, avança a CMVM no seu relatório anual.

Nas carteiras dos fundos de investimento mobiliário verificou-se um aumento do investimento em dívida privada e uma redução significativa em dívida pública.

Os fundos de investimento mobiliário (nacionais e estrangeiros) comercializados em Portugal, os fundos de investimento imobiliário e a gestão individual de carteiras continuaram a ter um peso inferior ao registado em 2008 face aos depósitos a prazo e aos certificados de aforro e do Tesouro.

“A par do evidente efeito de substituição por depósitos e certificados de dívida pública, tem-se assistido a uma concentração significativa de dívida pública portuguesa na gestão individual de carteiras”, explica o regulador do mercado de capitais.

“Nas carteiras dos fundos verificou-se um aumento do investimento em dívida privada e uma redução significativa em dívida pública. A sensibilidade (duration) das carteiras dos fundos de investimento mobiliário a alterações das taxas de juro caiu ligeiramente e, no final de 2016, corresponde a metade da duration da dívida detida pela gestão individual de carteiras”, diz o relatório da CMVM.

Capitais de Risco crescem

Os operadores nacionais de capital de risco tinham no final do ano aproximadamente 4,6 mil milhões de euros de ativos sob gestão (que incluem participações sociais, outros financiamentos, liquidez, posições sobre derivados e outros ativos), o que representa um crescimento de 10,5% em relação ao final do ano anterior. Considerando apenas o conjunto das participações sociais e de outros financiamentos, assistiuse a um decréscimo de atividade de 4,2%, que foi compensado pela variação positiva ocorrida no conjunto dos depósitos e outros meios líquidos e dos outros ativos afetos a capital de risco.

Os fundos de capital de risco (FCR) continuaram a manter um papel de relevo, quando comparado com a participação direta das sociedades de capital de risco (SCR).

“Os investidores em capital de risco proporcionam às empresas participadas condições financeiras necessárias ao empreendedorismo e à inovação, e ainda apoio técnico e capacidade de gestão”, diz a CMVM que lembra que o capital de risco é uma forma de financiamento “relevante para empresas com elevado potencial de crescimento e sobretudo com modelos de negócio ainda por testar”.

Na economia portuguesa, caraterizada por um tecido empresarial constituído essencialmente por pequenas e médias empresas e dada a redução dos empréstimos concedidos a instituições de pequena dimensão, “o financiamento obtido através das SCR e dos FCR representa uma alternativa ao crédito bancário. O investimento em capital de risco permite recapitalizar as empresas participadas, desenvolver processos de produção e distribuição mais eficientes, criar emprego e valorizar o setor. Contudo, o peso do capital de risco no PIB nacional continua a ser reduzido (2,5%)”, alerta a CMVM.

O supervisor dos mercados de capitais diz que as operações de reorientação estratégica ou de recuperação de empresas (turnaround) permaneceram as mais relevantes, mas viram o seu peso relativo cair.  A atividade de venture capital continuou a deter menor peso relativo face à de private equity. Os operadores de capital de risco revelam pouca apetência para investir em projetos inovadores em fase de arranque. “Esta é uma situação bastante diferente da existente na Europa, onde o segmento de start-up absorveu quase metade da atividade do capital de risco”, revela o relatório.

Fundo de Investimento Mobiliários dos EUA

A nível internacional, os fundos de investimento norte-americanos continuam a ter um peso expressivo no contexto mundial. No final de 2016 cerca de metade (19,7 biliões de Euros) do valor sob gestão de fundos de investimento no mundo era gerido por entidades sediadas nos EUA, enquanto o valor dos ativos geridos por sociedades europeias atingia os 13,7 biliões de Euros.

Segundo o Investment Company Institute (ICI), mais de 90 milhões de norte-americanos são detentores de unidades de participação de fundos de investimento e desde o início do milénio que mais de 40% das famílias norte-americanas investem em fundos. A estrutura do setor financeiro, assente num mercado de capitais muito líquido, aliada à cultura e aos valores da sua sociedade, baseados na responsabilidade individual na formação de complementos de reforma, permitem, pelo menos em parte, explicar aqueles números, que não encontram paralelo noutras áreas económicas. A principal motivação dos norte-americanos para a detenção de fundos de investimento é acautelar a reforma, conclui o Relatório Anual sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários.

A poupança para acudir a situações de emergência, a planificação fiscal e os gastos futuros em educação também foram apontadas como razões para o investimento em instrumentos de gestão coletiva.

O valor médio sob gestão dos fundos norte-americanos ascendia a aproximadamente 1.750 milhões de euros no final de 2016, mas na Alemanha e em França esse indicador não ultrapassava 314 milhões e 163 milhões de euros, respetivamente. Em Portugal, esse valor médio era ligeiramente superior a 50 milhões de euros, um valor muito semelhante ao verificado na Argentina, na Polónia, na República Checa, na Eslováquia e na Roménia.

O Estudo revela que os fundos norte-americanos detêm aproximadamente 62% do valor sob gestão dos fundos de ações mundiais e dão, assim, um forte contributo ao financiamento da economia através de capitais próprios.

Os fundos de ações têm tido uma forte concorrência dos exchange-traded funds (ETF), que replicam com facilidade índices ou estratégias, cobram comissões reduzidas e apresentam elevados padrões de transparência.

A apetência observada nos EUA nos últimos anos por instrumentos financeiros baseados em ações exprime igualmente a tolerância dos investidores norte-americanos para assumir o risco de mercado, particularmente num contexto em que as cotações acionistas nos EUA apresentam uma tendência de valorização e atingem máximos históricos, e em que as taxas de juro nominais são reduzidas.

Embora o valor das subscrições (líquidas de resgates) de fundos de ações norte-americanos tenha representado apenas 20% do total mundial para o conjunto do ano, no último trimestre de 2016 aproximadamente 68% (76,2 mil milhões de Euros) das subscrições de fundos de ações mundiais ocorreram nos EUA.

Nos fundos de obrigações tem existido um maior equilíbrio entre os valores geridos na Europa e nos EUA, com, respetivamente, 38,1% e 45,6% do valor sob gestão de fundos de obrigações no mundo no final de 2016.

Os valores sob gestão deste tipo de fundos na China e no Japão, apesar da reduzida expressão à escala mundial, cresceram de modo expressivo no último trimestre do ano em resultado de subscrições líquidas de resgates que atingiram 40% e 21%, respetivamente, do total mundial de fundos de obrigações (18,4% e 1,4%, se considerado todo o ano de 2016).

“Na Europa, aproximadamente 77% do valor sob gestão de fundos de investimento continuou a estar concentrado em cinco mercados (Alemanha, França, Irlanda, Luxemburgo e Reino Unido), sendo de realçar o crescimento anual superior a 9% do valor gerido por fundos alemães e irlandeses. A Irlanda e o Luxemburgo continuam a ter uma expressão apreciável em virtude quer das vantagens fiscais concedidas na domiciliação de um fundo , quer da possibilidade de as unidades de participação poderem ser transacionadas em todo o mercado europeu de acordo com a diretiva UCITS IV”, avança o relatório.

Em 2016, o montante de subscrições líquidas de resgates em fundos europeus foi de aproximadamente 460 mil milhões de euros, dos quais 275 mil milhões de Euros respeitaram a fundos harmonizados. Nos fundos harmonizados cerca de 40,7% das subscrições líquidas ocorreram em fundos de obrigações e 38,8% em fundos do mercado monetário. Por seu turno, os fundos mistos e as outras categorias de fundos foram as tipologias de fundos não harmonizados com um maior volume de subscrições líquidas (respetivamente 34,7% e 41,3% do total), refere o relatório.

Banca financia economia na Europa, e Wall Street financia economia nos EUA

O Relatório da CMVM compara ainda o papel dos bancos no financiamento da economia que na Europa assumem um papel predominante ao passo que nos EUA o mercado de capitais assume predominantemente esse papel.

“O sistema bancário continua a ser o pilar do sistema financeiro europeu, contrariamente ao verificado nos EUA onde o mercado de capitais tem um papel determinante na intermediação entre a poupança e o investimento. Diversas têm sido as razões apontadas para tal diferença, nomeadamente o enquadramento legal, de princípio civil na Europa e de princípio comum nos EUA, com impacto na aplicação da lei e no grau de proteção dos credores e dos acionistas, e o enquadramento institucional, mais baseado em instituições financeiras e na intermediação financeira na Europa, e na desintermediação financeira e no mercado de valores mobiliários nos países de origem anglo-saxónica”, revela o relatório.

Nos EUA, o valor dos ativos sob gestão dos organismos de investimento coletivo é comparável com o dos depósitos bancários, o que não ocorre na Europa continental, em que os segundos têm um peso mais elevado, nomeadamente em Portugal e em Espanha.

O financiamento da economia através do setor financeiro, medido pelo crédito doméstico do setor financeiro face ao PIB, revela alguma semelhança entre os países analisados, contrariamente ao papel que é desempenhado pelo mercado de capitais (capitalização bolsista face ao PIB), mais intenso na Austrália e nos EUA.

O peso que o setor de fundos de investimento de cada país tem na economia e na poupança é também heterogéneo. Enquanto nos EUA e na Austrália o valor do setor é semelhante ao do PIB, em Portugal essa relação não ultrapassa 12%. Os fundos de investimento são um instrumento financeiro popular na Austrália e nos EUA, o mesmo não sucedendo em Portugal.

Em 2016, o investimento per capita nos EUA foi superior a 54,8 mil Euros e em Portugal foi de apenas dois mil Euros, o que ilustra a grande diferença de importância do setor de fundos de investimento nas duas economias.

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