Em 2014, com o mercado imobiliário a renascer das cinzas, devido ao crescente interesse de estrangeiros e à lei que descongelou as rendas, dois irmãos decidiram aventurar-se no setor. A oportunidade perfeita surgiu quando a Segurança Social colocou à venda um velho edifício de três pisos, situado na Rua do Terreiro do Trigo, uma zona privilegiada de Alfama, muito perto do Museu do Fado. Os dois irmãos pagaram 347 mil euros pelo prédio, investiram outros 650 mil em obras de requalificação e chegaram a acordo com a maioria dos inquilinos para rescindir os contratos de arrendamento. Já no final de 2017, com o edifício reabilitado e com mais um andar, colocaram-no à venda numa imobiliária especializada em imóveis de luxo, com uma avaliação de 5,7 milhões de euros, o que significa 29 mil euros por cada um dos 192 m2 de área de implantação do edifício, descritos na Conservatória. Por outras palavras, terão uma mais-valia potencial de 4,7 milhões de euros.
Este seria apenas mais um negócio milionário numa Lisboa onde a especulação imobiliária permite a alguns fazerem pequenas fortunas da noite para o dia, não fosse o facto de um dos protagonistas ser uma das pessoas que mais têm criticado a especulação imobiliária e os despejos de inquilinos: Ricardo Robles, cabeça de lista do Bloco de Esquerda nas últimas eleições autárquicas e atual vereador da Câmara Municipal de Lisboa (CML), com o pelouro da Educação e das Áreas Sociais. Ao longo dos últimos anos, Ricardo Robles tem defendido que Lisboa se transformou numa “agência imobiliária” e, na última campanha eleitoral, acusou a autarquia de ser “promotora da especulação imobiliária”.
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