Enquanto estudante, recebi um aconselhamento do Professor Pedro Tavares de Almeida, no sentido de revisitar certas literaturas para ter um maior domínio antes de abordar uma matéria nova. Em 2019, decidi escrever um artigo intitulado “Revisão da Literatura sobre os Conflitos Armados na realidade africana entre a abordagem quantitativa e qualitativa”, onde compreendi algumas das causas da durabilidade das guerras.

A durabilidade de uma guerra está associada à sua capacidade de financiamento, de suporte humano e técnico. A literatura especializada tem demonstrado, eficazmente, que as fontes de financiamento dos grupos rebeldes são cada vez mais diversas.

Por exemplo, os rebeldes tâmiles (Sri Lanka) conseguem financiar a sua luta armada através da diáspora e dos sequestros. As fontes de obtenção de recursos financeiros por parte dos grupos armados deixaram de ser exclusivamente os recursos naturais (diamantes, petróleo, etc.), conforme explicado nos estudos de Paul Collier e Anke Hoeffler.

A fonte de financiamento acaba por ser também importante para termos uma noção do potencial de extensão temporal de uma guerra. Se um actor de guerra estiver dependente, exclusivamente, do financiamento externo acaba por estar numa situação de debilidade e a sua estratégia estará sempre condicionada por agentes exteriores.

Por sua vez, um actor com o seu financiamento interno tem uma maior autonomia e disponibilidade para prolongar o conflito armado. Por exemplo, as guerras civis angolanas e moçambicanas tiveram durabilidades diferentes devido à origem dos respectivos financiamentos.

Em Moçambique, o financiamento da RENAMO dependia inicialmente da Rodésia (actual Zimbábue), e, posteriormente, do regime racista da África do Sul. Por isso, o colapso do regime do apartheid significou o fim do financiamento da guerra civil de Moçambique. O mesmo poderá suceder com a guerra na Ucrânia, onde a fonte de financiamento é quase exclusivamente externa, contando com a solidariedade dos povos europeus e dos EUA.

Por sua vez, a UNITA teve a capacidade de transformar a sua dependência externa em termos de financiamento numa lógica interna, através da exploração de diamantes, motivando o desenvolvimento de uma economia de guerra, que é das mais analisadas pelos estudiosos africanos ou africanistas (“Angola’s War Economy: The Role of Oil and Diamonds”, de 2000).

No caso angolano, foi mesmo possível estabelecer uma rede logística própria e com bastante autonomia e eficácia no abastecimento militar.

Outro aspecto relevante é considerar que a durabilidade da guerra fomenta quase sempre uma economia de guerra para sustentar as despesas inerentes ao conflito. Sem isto, uma guerra não tem capacidade para se estender no tempo. Contudo, as fontes de financiamento podem desempenhar um papel fundamental e favorável com vista ao seu término, como aconteceu, por exemplo, com a guerra civil de Moçambique.

Importa frisar que, segundo a cientista política Monica Toft, da Universidade de Oxford, o tempo médio de duração dos conflitos armados situava-se nos cinco anos. Mas, quando se trata de conflitos de natureza religiosa ou étnica, a duração tende a aumentar para sete anos, em média.

As guerras continuam a ser um fenómeno complexo que desencadeia análises técnicas e científicas sobre as várias camadas e dimensões do conflito, porque, segundo Stephen Ellis, “identificar precisamente porquê a guerra acontece é mais difícil [do] que os cientistas sociais pensam”. Daí que os estudiosos ainda discutam, actualmente, quais são as causas efectivas da Primeira Guerra Mundial, volvidos mais de 90 anos e mais de um milhar de livros publicados sobre o tema.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.