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Primeiros alunos acabam curso da 42 em Portugal. Tiago era operário fabril e tornou-se programador

A escola tecnológica sem propinas, sem professores e sem salas de aula formou oficialmente os cinco primeiros alunos de Lisboa no chamado “Common Core”, semelhante a um bacharelado, revelou a 42 a Jornal Económico. “Funciona bem porquê? Gera um conhecimento muito mais profundo do que marrar para um exame”, diz Pedro Santa Clara, diretor da 42 em Portugal e professor de Finanças.
13 Março 2023, 16h30

Já são conhecidos os primeiros cinco alunos formados em tecnologia pela escola internacional 42 em Portugal. André Hernández, Eduardo Julião, João Pedro Ceia, Manuel Sousa e Tiago Santos – de idades e percursos profissionais completamente diferentes – foram os precursores de um movimento de “dezenas ou centenas” de talentos requalificados no próximo ano. Quem o diz ao Jornal Económico (JE) é o diretor da 42 em Portugal.

“É uma escola em que é difícil de entrar, mas a que qualquer um se pode candidatar. Estes perfis são engraçados, porque são variados. Temos portugueses, um brasileiro e um mexicano, com idades entre os 19 e os 35 anos. Pessoas que vieram diretamente do liceu a outros que tiveram de deixar de estudar no fim do 12º para trabalhar e tiraram partido da 42 para poder voltar à escola”, conta Pedro Santa Clara sobre os recém-diplomados.

Tiago Santos, por exemplo, completou o ensino secundário e foi trabalhar numa fábrica como estofador. Hoje, tem o canudo de programador. “Formar-me na 42 abriu-me novas portas para um mundo profissional com melhores condições e uma boa perspetiva de carreira”, afirma.

Com apenas 19 anos, Eduardo Julião já tratava a tecnologia por ‘tu’, mas como trabalha enquanto fullstack developer na Miles in the Sky e é freelancer de desenvolvimento de websites e webservers, a 42 deu-lhe ferramentas para escalar as competências.

Ambos com 35 anos, João Pedro Ceia e Manuel Sousa trabalham nas áreas de ciência de dados e engenharia de software para a Ezcart, Dingoo, Indie Campers e na Critical Techworks, respetivamente. Já o mexicano André Hernández vai utilizar as valências agora adquiridas no trabalho como administrador de sistemas, rede e TI Network na consultora Vitalis.

Estes cinco adultos foram os primeiros alunos a terminar o curso chamado “Common Core”, que se assemelha a bacharelado e inclui seis meses de um estágio remunerado. A seguir ao estágio, os ex-alunos poderão voltar à 42 para se especializarem numa das 20 áreas que preferirem, entre as quais sistemas operativos, Inteligência Artificial robótica, desenvolvimento de jogos, entre outras.

Ao JE, o diretor da 42 em Portugal lembra que, para entrar, não é preciso background académico ou conhecimentos de programação, mas para chegar onde esta equipa chegou… “Como em qualquer jogo, os que chegam mais longe são aqueles que tiverem mais tempo dedicados e esforçados”, alerta o professor de Finanças.

É uma gestão que tem de partir de cada um, tendo em conta que a 42 tem um método gamificado (uma espécie de “jogo social”), que promove a aprendizagem sem salas de aula, sem horários e sem professores. Desde que abriu portas em Portugal, em 2020, contam-se cinco kick-offs, mais de 500 alunos, 36 mil candidatos registados, onze ‘piscines’ (bootcamps de 26 dias) em Lisboa e três no Porto. “A escola está aberta 24 horas por dia todos os dias. Por um lado, as pessoas têm total liberdade, por outro lado, total responsabilidade”, diz Pedro Santa Clara.

“Funciona bem porquê? Gera um conhecimento muito mais profundo do que marrar para um exame e, durante o processo, leva as pessoas a desenvolverem uma série de competências pessoais (iniciativa, responsabilidade, criatividade, resiliência e colaboração), aquelas características que de facto fazem a diferença entre os profissionais”, refere o diretor da escola.

Pedro Santa Clara revelou também ao JE que em setembro ou outubro a 42 irá lançar cursos para o ensino secundário, uma vez que aquele que agora este grupo finalizou esta direcionado para o ensino superior. “Para o secundário será um projeto diferente. Este, universitário, estou convencido de que é uma alternativa e que neste modelo aprendizagem pode ser adaptado a muitas outras áreas”, assegura.

Para o aluno, o programa formativo da 42 é 100% gratuito, porque as propinas são financiadas na sua totalidade por mecenas. Assim, a 42 tem o apoio dos seguintes parceiros: Fundação Santander Portugal, Vanguard Properties, Fidelidade, Reformosa, Bi4all, Mercedes-benz.io, Observador, DST Group, BA Glass, Casa Relvas, NTTData, Huawei, KPMG, Axians, SaltPay, Sul Account, The Claude and Sofia Marion Foundation, Família Alves Ribeiro, Rita e Filipe Botton, Fundação José Neves, Critical Techworks. Amorim, Ecosteel, Sodecia, Sogrape, Sonae, Prozis, Vicaima, João Nuno Macedo Silva e Câmara Municipal do Porto.

“Cautelosamente otimista” em conseguir novos mecenas

Quando esta escola internacional chegou a Portugal, o acordo de financiamento assinado comtemplava os primeiros cinco anos de atividade. Com o folhear do calendário, Pedro Santa Clara assume-se “cautelosamente otimista” na obtenção de novos apoios e admite “uma preocupação grande em assegurar a sustentabilidade” da escola no longo prazo. “O processo de arranjar apoios é contínuo, mas nunca é fácil”, apesar da “enorme recetividade das pessoas e das empresas”, que entendem que a escassez de talentos tecnológicos “é uma enorme restrição ao crescimento económico do país”, diz.

“Mantenho e reforço as declarações de que este é o ensino do futuro. Esta escola foi a primeira a usar tecnologia não para ensinar à distância, mas para promover um melhor modelo educativo. Há mais de 100 anos em pedagogia que sabemos que os princípios fundamentais são: aprender fazendo, aprender motivado por um problema que se quer resolver e aprender entre colegas”, conclui.

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