Este é o diário de uma viagem que terminou há exatamente cem anos e que incluiu uma estadia de seis semanas no Japão, doze dias na Palestina e ainda três semanas em Espanha, para além de paragens em Singapura e Xangai.
A 6 de outubro de 1922, Albert Einstein e a mulher Elsa partiam de Zurique para Marselha para aí embarcarem numa viagem de mais de cinco meses ao Extremo Oriente, que incluiu diversas palestras. Durante a viagem, Einstein vence o Nobel da Física, faltando à cerimónia, já que esta tem lugar em dezembro, em Estocolmo.
Há quem defenda que a ausência foi propositada (ou seja, que esta viagem poderia ter sido realizada noutra altura), numa espécie de protesto pela demora na atribuição do prémio – havia muitos anticorpos pelo facto de Einstein ser judeu – ou no tema que o justifica – recorde-se que a razão do prémio foi o Efeito Fotoelétrico e não a Teoria da Relatividade Geral, tão incompreensível como contestada por muitos dos seus pares.
Apesar de as entradas serem em estilo telegráfico, talvez para não roubarem demasiado tempo ao trabalho científico a que se dedicava mesmo em viagem (às tantas, pensa no “problema gravitação-eletricidade”), o diário contém descrições, por vezes acompanhadas de desenhos, de momentos mais marcantes, como o avistamento do Stromboli, coberto de nuvens de vapor; a passagem do Canal do Suez, celebrando o fim de tanto deserto; a chegada a Hong Kong, antecedida de um tufão a bordo, com um “maravilhoso espectáculo na proa”, que incluiu peixes-voadores em abundância; a Festa do crisântemo no jardim do Palácio Imperial, recebido pela própria imperatriz Teimei, apesar da imensa dificuldade em arranjar uma sobrecasaca com cartola…”.
Sem esquecer as “árvores maravilhosas” e as “pessoas banais” de Singapura; a beleza de uma cingalesa com sangue holandês, entrevista na estação de Colombo; a «lamentável visão de pessoas com passado, mas sem presente» a rezar frente ao Muro das Lamentações, em Jerusalém; a excursão a Toledo, “um dos melhores dias da minha vida”.
No diário, encontramos reflexões sobre geografia, história, ciência, filosofia, arte e política, bem como as suas impressões imediatas sobre o que viu e pensamentos relativos a alguns eventos. Mas este é um livro que não está isento de polémica, pois em algumas passagens é possível que os leitores de hoje sintam estranheza, mesmo algum incómodo, perante a exposição dos estereótipos de Einstein quanto aos nacionais de várias nações.
“Os Diários de Viagem de Albert Einstein”, publicados pela Gradiva, têm edição de Ze’ev Rosenkranz e tradução de Carlos Fiolhais.
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