Os dados mais recentes do INE voltam a apontar para uma diminuição da inflação homóloga em Portugal. Em abril, a inflação terá recuado pelo sexto mês consecutivo para 5,7%, face aos 10,1% observados em outubro. A trajetória de queda da inflação é clara e irá provavelmente continuar ao longo do ano.
Já há vários meses que defendo a tese de que a inflação irá ficar abaixo das previsões das principais instituições (ver aqui), nomeadamente a estimativa de 5,5% do Banco de Portugal, e parece cada vez mais provável que isso se concretize. O facto de em abril os preços terem subido apenas 0,6% numa base mensal apenas reforça esta perspetiva.
Abril é “sempre” um mês de inflação positiva – pelo menos assim o foi nos últimos 16 anos, mostrando que a sazonalidade conta – e +0,6% é precisamente a média histórica da variação mensal nesse mês, o que contrasta com os +2,2% de abril de 2022. Ou seja, se ainda estivéssemos numa espiral inflacionista, seria de esperar que em abril os preços subissem mais do que a média histórica.
Por outro lado, é cada vez mais evidente que os fatores que induziram e alimentaram o surto inflacionista estão a dissipar-se. Os temas logísticos estão praticamente resolvidos, a subida dos preços da energia está em grande parte corrigida (com os preços do petróleo e combustíveis a continuarem a cair) e não há escassez da maioria dos bens, mesmo a nível alimentar.
A inflação mais recente tem provavelmente como origem a expansão de margens, como tenho vindo a defender aqui, mas à medida que o consumidor vai perdendo oxigénio, é provável que a capacidade para subir preços diminua, até porque o espaço para subir salários tenderá a ser menor. Assim, não me parece descabido prever uma inflação média abaixo de 5% este ano para Portugal.
Para o longo prazo, é preciso ter em conta uma inovação disruptiva que poderá ser muito deflacionista: a massificação da utilização da Inteligência Artificial.