Os eleitores tailandeses disseram um retumbante ‘não’ à elite militar que está no poder na Tailândia, com as eleições deste fim-de-semana a serrem ‘varridas’ pelo partido Segue em Frente (MFP), comandado por uma imensa maioria de jovens. O candidato do partido a primeiro-ministro, Pita Limjaroenrat, ‘arrisca’ conseguir mesmo o lugar.
É que a oposição reformista da Tailândia conquistou o maior número de lugares e prepara-se para relegar para segundo plano os partidos apoiados por militares que governaram o país por quase uma década. Para isso contará com o suporte do partido populista Pheu Thai Party: ambos devem assegurar 286 lugares, num Parlamento com 500 membros.
Mas nada está decido: é que, para além da Câmara baixa de 500 lugares, regras parlamentares paulatinamente acrescentadas ao edifício jurídico eleitoral fazem com que os 250 membros do Senado, nomeado pelos militares, também votem no primeiro-ministro, o que significa que MFP e Pheu Thai precisarão do apoio de partidos menores para estabelecerem um novo governo.
A surpresa é ainda maior se se recordar que o MFP, um partido claramente progressista liderado por jovens, disputou as eleições gerais pela primeira vez com uma agenda clara de reformas da monarquia vigente e de redução do poder dos militares. O partido conseguiu um total de 147 lugares – que incluem 112 dos 400 lugares eleitos por sufrágio direto e 35 dos 100 lugares atribuídos aos partidos de forma proporcional.
Analistas citados pelas agências internacionais descreveram o resultado do MFP como “excelente”, já que as sondagens pré-eleitorais previam que seriam os populistas do Pheu Thaia vencerem, tal como sucede desde 2001- estando ligado à bilionária família Shinawatra. Mas o partido não foi além dos 138 lugares (112 mais 27).
O Partido das Nações Unidas da Tailândia, do primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha, que assumiu o poder como chefe do exército num golpe de Estado em 2014, está apenas em quinto lugar, com 36 lugares – atrás do seu antigo partido, o Palang Pracharath, que conseguiu 40 lugares. Em terceiro lugar ficou o Bhumjaithai Party, parte da atual coligação do governo, com 70 lugares. As eleições foram genericamente muito concorridas.
Os resultados marcam “uma grande mudança para a Tailândia porque indica que a maioria das pessoas no país quer essas mudanças”, disse um comentador citado pela Al Jazeera. “Estamos realmente a ver o poder do eleitorado, que desta vez lutou muito pela mudança”.
Em declarações depois de conhecidos os resultados, o líder do MFP, Pita Limjaroenrat, considerou “sensacionais”. “Agora está claro que o Move Forward ganhou a imensa confiança do povo e do país”, escreveu no Twitter.
Do outro lado da cidade, na sede de Pheu Thai, o líder do partido, Paetongtarn Shinawatra, disse que o partido com mais votos deve assumir a liderança na formação do próximo governo. “Estamos prontos para conversar com o MFP, mas aguardamos os resultados oficiais”, disse, citado pelas mesmas fontes. O atual primeiro-ministro disse que respeitava a democracia, mas ausentou-se da sede do seu partido antes de tecer outros comentários.
A Comissão Eleitoral tem agora 60 dias para certificar os resultados eleitorais. E só a partir daí as contas podem ser fechadas. E são difíceis: qualquer candidato vencedor precisará de 376 votos na Câmara dos Deputados e no Senado para se tornar primeiro-ministro.
Recorde-se que, nas últimas eleições (em 2019), foi o Senado a decidir a quem seria atribuído o cargo de primeiro-ministro: a câmara alta votou por unanimidade em Prayuth, apesar de o seu partido ter menos lugares que Pheu Thai. Mais tarde, o primeiro-ministro conseguiu formar uma coligação de 19 partidos diferentes que o manteve no cargo ao longo dos últimos quatro anos.
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