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Frente-a-Frente: As empresas aguentam novas subidas das taxas de juro pelo BCE?

Elena Neves Docente do Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior No último ano, o BCE tem vindo a adotar uma política de aumentos sucessivos das taxas de juro, tendo como grande objetivo baixar a inflação. No curto prazo este objetivo é geralmente prosseguido via redução da procura agregada, o que no […]
6 Junho 2023, 07h45

Elena Neves
Docente do Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior
No último ano, o BCE tem vindo a adotar uma política de aumentos sucessivos das taxas de juro, tendo como grande objetivo baixar a inflação. No curto prazo este objetivo é geralmente prosseguido via redução da procura agregada, o que no caso do BCE passa por limitar a concessão de crédito bancário. Assim, o aumento dos custos de financiamento das empresas é, na verdade, uma consequência esperada da política monetária contracionista. No caso de Portugal, os dados preliminares para o primeiro semestre de 2023 já apontam para uma crescente percentagem das empresas em vulnerabilidade, independentemente da sua dimensão.

Dado que a conjuntura externa não faz antever, por enquanto, uma inversão na política do BCE, é provável que mais empresas enfrentem dificuldades decorrentes de subidas adicionais nas taxas de juro. O agravamento da situação financeira será mais preocupante nas empresas mais vulneráveis, nas mais endividadas e nas mais afetadas pelo aumento dos custos dos fatores produtivos, em especial os associados aos recursos energéticos. Adicionalmente, perante a eventualidade de uma evolução menos favorável da atividade macroeconómica, o impacto negativo de novas subidas das taxas de juro poderá vir a ser ainda maior.

Ricardo Jorge Silva
Instituto Politécnico do Porto
Existe uma certa perplexidade geral perante as subidas recentes das taxas de juro de referência pelo Banco Central Europeu (Zona Euro[1]) e pelo Reserva Federal (Estados Unidos da América[2]). Em aproximadamente catorze meses (até maio-2023), na Zona Euro a taxa subiu sete degraus, +3,75 pontos percentuais (p.p.) e nos Estados Unidos 10 degraus equivalentes a +5,00 p.p.

Uma evolução desta magnitude tem impacto negativo na actividade económica em geral. Os particulares e as empresas com empréstimos negociados a taxas variáveis, terão dificuldades acrescidas em relação aos seus planos de amortização. Nas empresas, principal foco da análise, o nível de endividamento irá determinar a capacidade de pagamento dos juros. Em tempos favoráveis, uma dívida elevada pode ser administrada com taxas de juro baixas, mas pode ser letal com taxas elevadas. Do outro lado da intermediação financeira, os bancos sofrerão uma pressão acrescida para transferirem também o aumento das taxas de juro para os aforradores. A análise da evolução dos preços demonstra que as políticas monetárias estão a ter impacto na desinflação (redução da taxa de crescimento dos preços).

Estamos perante um processo de subida das taxas de juro que, infelizmente, ainda não terminou e cujo mal-estar já se faz sentir. As empresas, bem como as famílias, devem cuidar do equilíbrio entre a dívida e o capital (património).

Conteúdo reservado a assinantes. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor. Edição do Económico Madeira de 2 de junho.

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