O secretário de Estado das Finanças garantiu este sábado que o lançamento de uma nova série de certificados de aforro, com condições piores para os aforradores, não é uma cedência à banca, sublinhando que não houve “nenhuma pressão” por parte das instituições financeiras. Em declarações aos jornalistas, João Nuno Mendes defendeu os certificados de aforro continuarão ser um produto “bom, atrativo e competitivo”.
“[Esta mudança] é para fazer uma correta gestão da dívida pública. Há zero cedência à banca. Temos de gerir aquilo que são as necessidades de financiamento da dívida pública, que são limitadas ao longo do ano. A Agência de Gestão da Dívida Pública já tem feito um enorme esforço para acomodar a extraordinária procura de subscrição de certificados, que temos tido”, sublinhou o responsável.
O Governo decidiu suspender na sexta-feira a atual série dos certificados de aforro, substituindo-a por uma nova com piores condições para os aforradores: até aqui, este produto oferecia uma remuneração de 3,5% ao ano, mas a partir de segunda-feira o valor máximo da remuneração baixa para 2,5%.
Esta mudança é feita numa altura em que os bancos têm vindo a alertar para a fuga das poupanças das famílias dos depósitos tradicionais para os certificados de aforro, já que estes asseguram taxas muito superiores às oferecidas pelas instituições financeiras.
Além disso, no final de maio, em entrevista à CNN, João Moreira Rato, economista e chairman do Banco CTT, defendeu que o Estado deveria interromper a emissão de certificados de aforro, de modo a travar o seu peso na dívida portuguesa.
Por isso, em reação à mudança agora anunciada neste produto de poupança do Estado, a oposição não tardou a acusar o Governo de estar a ceder ao sector bancário.
Mas o secretário de Estado das Finanças veio este sábado rejeitar essa hipótese, garantindo que não sentiu pressão alguma por parte das instituições financeiras e que está “muito confiante” de que a mudança anunciada é a mais adequada.
Aos jornalistas, João Nuno Mendes explicou que “havia a necessidade de adequar a taxa de remuneração dos certificados ao nível da remuneração dos restantes financiamentos da República”.
” É um quadro de gestão planeada da dívida pública. Entendemos que é uma adaptação da remuneração. Se comparamos com outras ofertas do mercados, chegamos à conclusão que é um produto bom, atrativo, competitivo”, defendeu o responsável, que salientou ainda que o Governo quer que os portugueses continuem a poupar e “a socorrer-se aos produtos que o Estado oferece”.
A estes argumentos, o secretário de Estado acrescentou ainda um outro: “o Estado português tem de se preparar para o acréscimo dos juros”. “Em termos globais, em juros, no final de 2022, suportávamos cerca de cinco mil milhões de euros. Em 2027, vamos estar a suportar mais de oito mil milhões de euros. Tem de haver uma gestão com regras e equilíbrio”, salientou.
Já sobre a relação com a banca, o João Nuno Mendes lembrou a forma como o Governo tem lidado com a gestão do crédito à habitação, que mostra, vincou, que este é “exigente para com a banca”.
“Criamos obrigações à própria banca para apresentar novas soluções aos seus clientes. Temos tido resultados”, afirmou, realçando que, neste quadro, já foram feitas alterações no crédito à habitação no valor de seis mil milhões de euros. “O Estado tem sido muito exigente”, frisou.
Secretário de Estado junta-se a PR no apelo a que a banca aumente remuneração dos depósitos
Depois de o Presidente da República ter apelado a que a banca faça um “esforçozinho” para reforçar a remuneração dos depósitos, o secretário de Estado das Finanças sublinhou, na mesma linha, que é importante “haver um incentivo a que exista” essa subida.
“Temos uma referência, que é a taxa de juro dos depósitos dos bancos da zona euro, que anda na casa dos 2,11%. Este deveria ser um referencial a incentivar a banca portuguesa a corrigir para esses valores”, declarou João Nuno Mendes, que considerou “relevante” o apelo deixado por Marcelo Rebelo de Sousa.
Atualizada às 18h43
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