O novo museu Judaico de Lisboa começa a ganhar forma. Localizado perto da Torre de Belém, foram divulgadas esta semana mais projeções do novo museu permitindo visualizar como vai ficar o novo edifício que vai ser instalado num baldio naquela zona.
O projeto é da autoria do arquiteto polaco-americano Daniel Libeskind, autor de outros projetos reconhecidos a nível mundial como o Museu Judeu em Berlim ou a reconstrução do World Trade Center em Nova Iorque.
“É um enorme prazer anunciar a nossa colaboração com o arquiteto de renome internacional Daniel Libeskind no Tikvá – Museu Judaico de Lisboa. Em breve será uma referência no tecido urbano junto ao rio”, escreveu o atelier de arquitetura Saraiva e Associados nas redes sociais esta semana sobre o Tikvá (que significa esperança em hebraico).
A inauguração do museu está planeada para 2025 e nasce de uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Associação Hagadá (que significa narrar, contar, em hebraico), entidade privada sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a criação, construção, instalação e gestão do museu.
“Em Portugal, a cultura judaica teve um papel importante, sobretudo entre os séculos XII e XV. Aqui, os judeus foram artesãos, médicos, matemáticos, astrólogos e astrónomos, dedicaram-se ao comércio, às finanças e à agricultura, marcando indelevelmente a história do país. Apesar das medidas de carácter discriminatório impostas aos judeus portugueses, reinou nesses séculos um período de convivência entre a minoria judaica e a maioria cristã. A comunidade judaica gozava de liberdade de culto e desenvolvia uma atividade económica, científica e cultural, contribuindo para o desenvolvimento do seu país”, começa por dizer o museu na sua página.
Mas também houve um lado bastante negativo: a expulsão dos judeus do país, os judeus perseguidos pela Inquisição ou o massacre de Lisboa de 1506 que terminou com a morte de dois mil judeus. “Este clima de tolerância cultural e religiosa foi brutalmente interrompido no final do século XV com a assinatura do Édito de Expulsão pelo rei D. Manuel I, as conversões forçadas e a instauração do Tribunal da Inquisição, em 1536. As judiarias foram abandonadas, as sinagogas, escolas e livrarias destruídas, os cemitérios profanados. As perseguições e a passagem do tempo foram apagando as marcas de mais de três séculos de convivência fecunda da vida e da memória do povo português”, de acordo com o museu.
O Tikvá chegou a estar projeto para o largo de São Miguel em Alfama, num projeto da arquiteta Graça Bachmann, mas as críticas por parte de uma associação de moradores cilminaram na sua mudança para Belém, num terreno cedido pela CML por 75 anos renováveis.
“O museu não será o “museu dos judeus”, mas um museu português que contará uma história específica (…) A vida dos judeus em Portugal é uma história judaica e portuguesa, o que significa que ela não pode ser abordada de forma separada da história de Portugal e, em particular, da sociedade cristã na qual foi evoluindo e sofrendo todos os embates, todas as influências. (…) Mas o judaísmo português tem outra particularidade: a longevidade de uma presença ininterrupta pelo menos até ao final do século XV, quando se inicia o período da expulsão, do baptismo forçado e da instauração da Inquisição. Contrariamente aos seus irmãos de fé na Europa cristã, sucessivamente expulsos dos mais diversos países e novamente readmitidos ao sabor da necessidade dos seus préstimos, os judeus na Península Ibérica aqui permaneceram praticamente sem interrupção durante perto de 2000 anos. Esta longevidade teve como consequência não apenas uma convivência multiétnica e multirreligiosa, mas também usufruir de um estatuto social impensável no resto da Europa. Apesar de momentos dolorosos de discriminação e perseguição, o clima de relativa tolerância permitiu-lhes contribuir decisivamente para o Portugal de hoje”, escreveu Esther Mucznik da Associação Hagadá no jornal “Público” em dezembro de 2020.
“O Museu Judaico de Lisboa não tem a ambição de contar a história da interacção luso-judaica na sua globalidade. Mais modestamente e de forma acessível ao grande público, o seu objectivo é cruzar as duas histórias em épocas, momentos, episódios e personagens concretos que demonstrem essa relação íntima, feita de convivência e de perseguição, de amor e de ódio, de desterro e de saudade, de reencontro e reconciliação… Na verdade, tal como todas as histórias de amor…”, segundo a escritora e presidente da associação Hagadá.
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