Os portugueses vivem, pelo menos desde quando “Novos mundos ao mundo irão mostrando”, a reconhecer a emigração como sua idiossincrasia. Todos temos, ou tivemos, alguém próximo que percorre, ou percorreu, os caminhos da emigração.
Segundo a FLAD, nos Estados Unidos da América, cerca de 1,3 milhões de pessoas identificam-se como portugueses ou seus descendentes. Dados oficiais recentes estimam em 5,2 milhões os portugueses e luso-descendentes residentes no estrangeiro. Desses, 2,3 milhões são naturais de Portugal. Espalham-se um pouco por todo o mundo, com maior expressão na Europa e nas Américas.
Atendo-nos às pessoas com nacionalidade portuguesa, a síntese, segundo dados do Observatório da Emigração, será como segue: América do Norte, 358.564; América Latina e Caraíbas, 234.078; África, 147.245; Oceânia, 21.014; Ásia, 3.683; Europa, 1.502.151. O que perfaz um total de 2.266.735.
Se pensarmos no que representam os luso-descendentes e nas comunidades que, há séculos, se sentem portuguesas rapidamente concluímos que a realidade é outra. Basta pensarmos em Macau, no Brasil, ou em Goa, para que se perceba o alcance do que estamos a dizer.
Ora, vivo na convicção de que não temos sido capazes, nem de acompanhar estas comunidades como elas mereciam, nem de aproveitar o seu enorme potencial para Portugal.
Por vezes distraímo-nos com pormenores e o essencial escapa-nos.
Quando tanto se fala em Soft Power, i.e., “na capacidade de um Estado, por exemplo, para influenciar indiretamente o comportamento ou interesses de outros corpos políticos pelo exemplo ou pelo convencimento”. Portugal deve pensar, por uma vez, como pode mobilizar os portugueses residentes no estrangeiro e os luso-descendentes para serem agentes activos da sua afirmação.
O discurso político já os considera essenciais, mas talvez seja o tempo, é o tempo, de passarmos do discurso à acção, dando a cada um as ferramentas básicas para poderem ajudar Portugal.
Sermos capazes de dar a cada um informação sobre o Portugal moderno e a nossa capacidade de realização e de afirmação no contexto europeu. Fazermos que cada um seja um porta-voz orgulhoso do país que, quantas vezes, frustrou as suas expectativas. Darmos a cada um a capacidade de ser um divulgador dos produtos e da cultura portugueses e, consequentemente, um agente exportador.
Transformar os cinco milhões de portugueses e de luso-descendentes numa rede de afirmação de Portugal em dezenas de países é uma prioridade absoluta, para o bem de todos.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.