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Há cinco vezes mais lobos marinhos na Madeira do que há 30 anos e a culpa também é da tecnologia

Projeto ‘Life Madeira Lobo Marinho’ usa câmaras e pulseiras GPS para proteger espécie em risco de extinção e descobrir dados inéditos. População da foca-monge do Mediterrâneo quintuplicou em 30 anos.
Foto IFCN
29 Agosto 2018, 17h01

Há 30 anos, a população de lobos marinhos nas Desertas não ia para além dos seis ou oito animais. Hoje, são entre 25 a 30 os exemplares monitorizados pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza que recorre às mais inovadoras tecnologias e não olha a meios para preservar esta espécie considerada em perigo crítico pela União Internacional para a Conservação da Natureza.

A foca-monge do Mediterrâneo é a foca mais rara do mundo, tem uma recuperação lenta, reproduzindo-se uma vez por ano e apenas quando as fêmeas completam 4 anos de maturação, mas na Região o Projeto ‘Life Madeira Lobo Marinho’ tem conseguido devolver a confiança a estes animais que começam a ser avistados com maior frequência a explorar as áreas marinhas fora da reserva natural criada na década de 90.

São monitorizados com recurso a câmaras fotográficas que capturam imagens de hora a hora no interior das grutas onde a espécie habita. Para além disso, três animais foram dotados de pulseiras GPS com medidores de profundidade, descobrindo-se recentemente que são capazes de mergulhar até 400 metros no oceano.

Há 3 décadas, a presença destes animais cuja esperança média de vida ronda os 22 anos restringia-se praticamente à Reserva Natural que integra uma área terrestre composta por três ilhas (Ilhéu Chão, Deserta Grande e Bugio) e ilhéus adjacentes. É aqui que ainda pernoitam e se reproduzem entre 25 a 30 lobos marinhos dos 500 que se estima existirem em todo o planeta.

Em 1990 foi criada a Área de Proteção Especial, oito anos depois o  Serviço do Parque Natural da Madeira (SPNM) iniciou um projeto para a conservação do lobo-marinho e do seu habitat que incluiu a construção da casa da doca das Desertas destinada a apoiar os vigilantes que ali permanecem em serviço.

Em 1995 as Ilhas Desertas passaram a Reserva Natural. Alvo de um intenso trabalho de conservação e protegidos da comunidade piscatória, os lobos marinhos sobreviveram e multiplicaram-se. Desde 2014, está a decorrer o projeto ‘Life Madeira lobo-marinho’ (LIFE13 NAT/ES/000974) proposto pela Fundação CBD-Habitat com um orçamento de 1,1 milhões de euros, 60% dos quais cofinanciados pela União Europeia.

Mais afoitos e confiantes, assim os descrevem os biólogos que os acompanham, os lobos marinhos têm  conquistado também a ‘afeição’ dos madeirenses e até da comunidade piscatória que colabora  na sua preservação, informando as autoridades ambientais e marítimas em caso de  avistamento.

As focas monge mais raras do mundo parecem ter recuperado a sua confiança e atrevem-se cada vez mais a explorar as zonas junto à costa da Ilha da Madeira, revelando preferências, alguns animais preferem a zona norte, outros, sabe-se hoje, que se deliciam na área mais a sul, aproximando-se inclusive das zonas balneares. Dos 25 a 30 exemplares, oito são fêmeas.

“Os 30 anos de monitorização desta espécie em risco de extinção permitiram fomentar uma maior consciencialização e definir um projeto de conservação que se quer cada vez mais eficaz e ajustado às caraterísticas destes animais”, afirma Susana Prada.

A secretária regional do Ambiente integrou, na passada terça-feira, uma comitiva composta por elementos do IFCN, o comandante da Zona Marítima da Madeira e diversos jornalistas que viajou até à Deserta Grande a bordo do NRP Mondego, em missão no arquipélago.

Susana Prada não tem dúvidas que, dada a relevância do  ‘Life Madeira lobo-marinho’, o projeto vai continuar a beneficiar de apoios comunitários no período para além de 2019. “O apoio foi prorrogado por mais um ano, até 2019, e contamos com nova ajuda à conservação depois desse período”, declara.

Rosa Pires: a bióloga que sabe tudo sobre os lobos marinhos
O nome de Rosa Pires, coordenadora do Projeto de Conservação do Lobo-marinho na Madeira, está  há longos anos associado aos trabalhos de preservação desta espécie.

A bióloga acompanhou o crescimento da colónia e é com satisfação que dá conta do progresso na sua preservação e da maior consciencialização dos madeirenses e dos pescadores que, há 3 décadas, olhavam para este animal como uma ameaça aos stocks de peixe.

“Por se sentirem protegidos, já é frequente encontrar lobos marinhos em diversos locais na ilha da Madeira. Eles procuram as zonas balneares para repousar e dormitar, podem dormir à tona. Recebemos vários alertas de pessoas preocupadas com a saúde dos animais, mas o comum é estarem a descansar”, conta.

Não obstante o aspeto dócil e de não serem agressivos, Rosa Pires lembra que estes são animais de grande porte podem atingir os 2,4 m de comprimento e pesar entre os 240 a 400 kg. Apesar de permitirem a aproximação humana, podem ser perigosos. O melhor, alerta, é usufruir da sua presença à distância e em segurança.

No mar, perante um avistamento, a bióloga lembra que as embarcações não devem perturbar o animal, mantendo-se afastadas e navegando a baixa velocidade.

Refira-se que o primeiro contacto dos portugueses com as focas-monge data de 1419, quando João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira chegaram à Madeira. Nessa altura, os portugueses batizaram o animal de lobo marinho, nome que originou a designação Câmara de Lobos por ser este um concelho com uma pequena baía em anfiteatro muito frequentada pela espécie.

 

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