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Rui Rio e Hugo Carneiro alvo de buscas por suspeitas de crimes na gestão do PSD

Em causa estarão suspeitas de crimes de peculato e abuso de poder devido à alegada utilização indevida de dinheiros públicos na anterior liderança do PSD. PJ fez 20 buscas que visaram também a casa do ex-presidente do partido, Rui Rio, e a sede nacional, na sequência de denúncias internas que dão conta que dinheiro do parlamento terá sido usado para pagar a funcionários do partido.
Tiago Petinga/Lusa
13 Julho 2023, 07h30

A Polícia Judiciária (PJ) investiga dinheiro público que terá sido usado para pagar a funcionários do partido. Casas, ex-líder do PSD e Hugo Carneiro deputado que foi responsável pelas contas do partido, e antigo presidente Rui Rio foram alguns dos 20 alvos de buscas por suspeitas de crimes de peculato e abuso na anterior gestão do PSD. Em causa está um alegado esquema para pagar ordenados a funcionários do partido quando era liderado por Rui Rio com recurso a verbas da Assembleia da República que são destinados a cargos de assessoria dos grupos parlamentares.

Fonte próxima ao processo avançou ao JE que o objetivo das buscas teve por base a recolha de documentação relacionada com suspeitas de crimes sob investigação, nomeadamente os nomes dos assessores que estariam registados nos computadores e telemóveis dos antigos e atuais responsáveis do PSD.

A Polícia Judiciária confirmou ontem a investigação conduzida pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) e no âmbito de inquérito dirigido pelo DIAP Regional de Lisboa – 1.ª Secção, e a realização de 20 buscas, 14 delas domiciliárias, cinco a instalações de partido político e uma em instalações de Revisor Oficial de Contas, na zona da Grande Lisboa e na zona norte do país.

Segundo a PJ, está em causa “a investigação à utilização de fundos de natureza pública, em contexto político-partidário, existindo suspeitas da eventual prática de crimes de peculato e abuso de poderes (crimes da responsabilidade de titulares de cargos políticos), a factos cujo início relevante da atuação se reporta a 2018”.

A Polícia Judiciária realizou esta quarta-feira, 12 de julho, buscas na casa do ex-líder do PSD, Rui Rio, que se estenderam à sede nacional do partido, na Lapa, e na distrital do Porto. E também alguns funcionários do partido como Hugo Carneiro, deputado social-democrata, uma vez que foi responsável pelas contas do partido durante a liderança de Rui Rio. Outro dos alvos foi Florbela Guedes, ex-assessora de Rui Rio na Câmara do Porto e também quando este assumiu as funções de líder do PSD.

Durante as buscas em casa de Rui Rio, no Porto, o ex-líder do PSD ironizou sobre as diligências da investigação e mostrou serenidade e confiança. Desde a varanda do seu prédio, Rui Rio afirmou estar “tranquilo” e perguntou aos jornalistas se já tinha chegado o carro celular, ironizando.

O deputado e ex-secretário-geral adjunto do PSD Hugo Carneiro garantiu, por sua vez, que respeita o trabalho das autoridades, pedindo que o processo avance o mais depressa possível. O responsável pelo pelouro financeiro do partido durante a liderança de Rui Rio, que teve o telemóvel apreendido, afirmou esta quarta-feira que sempre defendeu “o interesse público” e o rigor das contas, ainda que sem responder diretamente às suspeitas de que funcionários do partido teriam sido pagos via parlamento.

Os sociais-democratas confirmaram as buscas na sede nacional e na sede distrital do Porto que foram ontem objeto de buscas por parte da Polícia Judiciária. E deram conta de que, “segundo a informação das autoridades, a investigação em curso visa factos que remontam ao período de 2018 a 2021″, numa nota enviada às redações, assegurando que prestará toda a colaboração solicitada pelas autoridades judiciais.

Cerca de uma dezena de assessores na mira

Na mira da PJ está um esquema de pagamento de ordenados a funcionários do partido com recurso a verbas atribuídas pela Assembleia da República – verbas essas que eram destinadas a cargos de assessoria dos grupos parlamentares.

O JE sabe que estarão em causa cerca de 10 assessores que seriam pagos pelo orçamento público concedido ao grupo parlamentar do PSD, mas prestavam serviço apenas ao partido, que deveria ser pago através do orçamento do PSD.

A investigação, que decorre em articulação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, sustenta suspeitas de que esses funcionários não prestariam assessoria mas que prestavam sim serviços internos ao partido, em particular com apoio à juventude social-democrata.

A operação ontem realizada pela UNCC foi acompanhada por seis magistrados do Ministério Público, um Juiz de Instrução Criminal e contou com a colaboração do DIC de Setúbal, da ULIC de Évora, da UPFC e UPTI da Polícia Judiciária, tendo participado nas buscas cerca de 100 inspetores e diversos peritos informáticos e financeiros.

A PJ avança que “a investigação prosseguirá com o exame integral aos elementos probatórios alcançados, visando o cabal esclarecimento dos factos que integram o objeto do inquérito”.

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