De que falamos quando falamos em “rios que transbordam e desabam”? Poderia ser poesia, e acaba por sê-lo, mas sob a forma de pinturas, bordados e um mosaico inesperado. Falamos de quê, afinal? Da exposição “Metamorfoses”, de Ilda David, patente até dia 22 de julho na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), em Lisboa.
Com a curadoria de Nuno Faria, “Metamorfoses – Os rios que transbordam e desabam” reúne obras novas e uma seleção de trabalhos mais antigos, permitindo assim um olhar panorâmico sobre um universo habitado de mitologia, e marcado pelo encontro entre referências literárias e pictóricas.
A pintura de Ilda David é, pois, um espaço de marcação poética. Nas suas obras está presente tanto a imagem como a palavra, apesar de nenhuma delas estar perfeitamente formada ou ser passível de se distinguir entre si. O exterior está também muito presente. Assim como referências a diferentes momentos, épocas, invocações que tanto remetem para a Antiguidade Clássica, como para o final do século XIX, início do século XX, sem esquecer a infância da artista, o Ribatejo e as cheias que inundavam a lezíria. Rios que transbordam, azuis, verdes, ocres, que inundam as telas, homenagem a quem já partiu, navegando o presente.
A pintora que confessa não saber se alguma vez pintaria se não lesse – confissão de uma enorme paixão pelos livros, melhor dizendo, pela Literatura –, não se coíbe de olhar para outros pintores e de se deixar arrebatar, inspirar. É o caso de uma série denominada “Incubus” (2000), que serviram de ponto de partida para uma edição de Fausto a partir de um retrato do dramaturgo e escritor francês Antonin Artaud, e de Mefistófeles a partir de um retrato do escritor, poeta e pintor belga Henri Michaux.
Breve nota biográfica
Pintora portuguesa nascida em 1955, em Benavente. Frequentou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa entre 1976 e 1981 e é uma das mais destacadas representantes da pintura portuguesa contemporânea.
Ilda David tem trabalhado na área da ilustração, acompanhando livros de autores portugueses e estrangeiros. Um deles é particularmente emblemático. Falamos da obra “Fausto” de Goethe, com edição do Círculo de Leitores e Relógio de Água, que esteve na origem da exposição “Incubus”, na Sala Jorge Vieira do Pavilhão das Exposições, no Parque das Nações, em fevereiro de 2000.
Um dos projetos mais conhecidos do público intitula-se “Navigatio Sancti Brendanni Abbatis”. Trata-se de um painel de azulejos inspirado no relato da “Eneida”, no qual alude à tradição bíblica, aos contos de aventura árabes e aos mitos persas. Este projeto foi realizado no âmbito da Expo 98, mas pode ser visitado no Parque das Nações, em Lisboa.
“Metamorfoses – Os rios transbordam e desabam”, de Ilda David pode ser visto até dia 22 de julho na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa. A entrada é livre.
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