A descida de um clube de divisão traz consigo vários desafios não só a nível desportivo como também no plano da gestão desportiva e financeira. Especialistas ouvidos pelo Económico Madeira traçam algumas opções que os clubes podem tomar de modo a rentabilizar as suas estruturas.
As regiões autónomas marcavam presença na I Liga desde 1985/1986.
O professor da Universidade Autónoma, Paulo Ventura, diz, ao Económico Madeira, que a descida de divisão do Marítimo leva a que a notoriedade e exposição mediática “sejam afetados”, trazendo impactos como a “redução de ganhos a nível económico/financeiro que se prendem com a redução de estadias em hotéis (tanto jogadores das equipas visitantes como adeptos), viagens, alimentação, aluguer de viaturas, promoção internacional da equipa na liga principal de futebol profissional”.
Já o professor da Universidade de Évora, Mário Teixeira, aborda as consequências, e respetivas alterações estratégicas, que esta descida de divisão pode trazer para o clube madeirense.
Nesse sentido esse novo posicionamento pode passar pelo assumir do objetivo de ser campeão da II liga.
Mário Teixeira refere, ao Económico Madeira, que o assumir desse objetivo, pode ser impactante, e pode tornar o clube mais apelativo em termos de atração de patrocinadores.
Outra medida poderia passar por assumir um melhor posicionamento em termos do resultado na Taça de Portugal, face a prestações anteriores na prova.
No plano desportivo, Mário Teixeira salienta que uma descida de divisão leva a que o clube tenha de efetuar mudanças. Uma delas passaria por ir buscar um treinador especialista na subida de divisão.
Tendo em conta o menor financiamento que o clube deverá ter Mário Teixeira diz que o clube terá que apostar no plano interno, ou seja, apostar na formação no clube.
Para o docente estes tipos de objetivos seriam importantes para criar mobilização no clube.
O docente da Universidade Autónoma, Paulo Ventura, quando questionado sobre que medidas devem ser tomadas de modo a assegurar estabilidade económica e financeira, e ao mesmo tempo conseguir manter uma boa competitividade no plano desportivo, diz que com a despromoção é difícil para um clube “assegurar a sua estabilidade económica e ao mesmo tempo conseguir uma boa competitividade” no plano desportivo.
“É efetivamente verdade que a paixão e o entusiasmo em relação a um clube despromovido, pode diminuir temporariamente, levando a um decréscimo na frequência aos jogos e do envolvimento dos adeptos com o seu clube, existindo a possibilidade real de um afastamento temporário da massa associativa”, alerta o docente.
Face a isto o docente considera importante nesta fase que o clube “tome medidas para manter o apoio dos adeptos e criar um ambiente positivo e motivador para que a temporada que se segue, que se adivinha difícil, seja o mais branda possível”.
O docente sugere várias medidas que podem ser implementadas pelos clubes em áreas que vão desde os patrocínios até ao merchandising.
Entre as medidas sugeridas pelo docente ao nível dos patrocínios estão: “criação de novos patrocínios, encontrar patrocinadores novos para um clube desportivo, pode trazer bastantes benefícios”.
O docente universitário sugere também medidas ao nível das redes sociais. Entre elas “uma equipa de marketing digital que detenha particular atenção na “nutrição” continuada de vários tipos de publicações; criação e promoção de ativos de conteúdo com o objetivo de gerar reconhecimento da marca, promoção através do Marítimo TV, crescimento de tráfego, geração de leads e clientes”, acrescentando que “atualmente os podcasts com jogadores pode ser uma opção viável”.
Paulo Ventura contudo sublinha que é preciso ter atenção ao website do clube, apesar das redes sociais terem uma “resposta imediata dos seus adeptos e ser fácil medir” o seu alcance, tendo em conta que um website “continua a ser um canal de comunicação bastante importante” para um clube, “porque para além de conseguir agregar todo o conteúdo digital, também lhe confere um carácter mais profissional e tecnológico”.
O professor da Universidade Autónoma diz que o merchandising é outra área para o qual os clubes devem ter atenção.
“Atualmente o merchandising está comumente associado a clubes de grandes dimensões, contudo quando uma comunidade se envolve com o seu clube, mesmo de menor dimensão, pode ser facilmente adaptável e gerar receitas bastante significativas, ex. pack sócio e bilhete familiar; proximidade da comunidade. Chegou o momento de criar uma maior proximidade dos jogadores com a comunidade local; ir às escolas e associações, por forma a que os jovens sintam que os seus ídolos estão mais próximos. Iniciativas como: sessões de autógrafos, t-shirts autografadas, fotografias, etc. poderão consubstanciar em boas práticas”, explica o professor universitário.
Paulo Ventura diz que a descida de divisão de um clube “exige um esforço anímico e motivacional acrescido, uma reavaliação estratégica e uma gestão cuidadosa por parte dos seus dirigentes”. Pelo que é “importante definir metas realistas e implementar medidas adequadas para alcançá-las”.
O docente refere que “poderá ser necessário” à estabilização económica do clube a saída/venda de alguns jogadores chave do plantel.
Paulo Ventura considera de “relevante importância” a elaboração de um plano estratégico de atuação assente em três níveis: “nível corporativo (a organização deve proceder à criação de estratégia); nível empresarial (uso eficaz dos recursos); unidade de estratégia (áreas funcionais onde a empresa irá usar os recursos para a implementação das estratégias)”.
A isto acrescenta-se as adaptações que o clube necessitará de fazer na sua gestão.
Com menos recursos vem a necessidade de fazer um ‘downsizing’ na estrutura, que inclui medidas como o corte nas chamadas gorduras, e também a redução dos custos da própria estrutura, e a redução dos gastos supérfluos. E também a necessidade do clube ter nas suas fileiras profissionais especializados, refere Mário Teixeira.
O docente diz que a descida de divisão pode expor os clubes a outros perigos. Se estes estiverem numa situação de descapitalização e/ou deficitária, ficariam mais disponíveis para a entrada de investidores, e porventura à mercê dos chamados investidores abutres.
Face às implicações que a descida de divisão pode ter num clube Mário Teixeira defende que o Governo da Madeira, referindo-se à despromoção do Marítimo, deve acompanhar a situação e não deixar os clubes da região caírem em situações de risco.
Já Paulo Ventura diz que apesar de isto não se poder generalizar com a descida à II liga um clube “fica mais exposto e vulnerável” à atração de clubes da I Liga e estrangeiros, que “pretendem efetivamente aproveitar a vulnerabilidade e o momento que o clube atravessa, para adquirirem jogadores de alto nível a preços de saldo, resultando para o clube numa perda significativa de jogadores importantes e, na necessidade de reconstruir o plantel”.
Perante isto, no entender de Paulo Ventura, os dirigentes do clube devem “acautelar essa situação, caso contrário, poderá correr o risco da descida se manter por vários anos, consubstanciando-se em prejuízos difíceis de quantificar”.
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