O abrandamento da atividade na zona euro agravou-se em julho, deixando mais dúvidas sobre a capacidade do bloco de enfrentar a atual subida de taxas sem cair numa recessão. A indústria continua a ser o principal entrave ao crescimento, apresentando perspetivas ainda mais negativas do que no mês passado, mas os serviços começam também a dar sinais de fraqueza. Com uma reunião de política monetária à porta, o Banco Central Europeu (BCE) estará certamente atento.
O índice de gestores de compras (PMI) para a zona euro em julho foi de 48,9, ou seja, uma redução em relação aos 49,9 do mês passado e bastante menos do que os projetados 49,7. A leitura atira a atividade no bloco da moeda única ainda mais para terreno de contração, ou seja, abaixo de 50, deixando antever uma quebra nos próximos meses.
O subindicador referente à indústria continua a apresentar os valores mais negativos, recuando de 43,4 para 42,7; já o dos serviços, embora mantendo-se em território de expansão, caiu de 52,0 para 51,1.
O número de novas encomendas é dos indicadores que mais salta à vista: do lado da indústria, a desaceleração registada é a mais abrupta desde novembro do ano passado; por outro lado, a diferença entre novas encomendas e a produção “está no valor mais elevado desde fevereiro de 2009, um sinal claro de que mais quedas na produção devem estar para breve”, argumenta a Pantheon Macro.
Do lado dos serviços também se verificou uma redução no número de novas encomendas, a primeira em sete meses, continua o think-tank britânico.
“Estes dados suportam a nossa previsão de que a economia da zona euro ficará presa na lama no terceiro trimestre, depois de mais um trimestre desapontante no lado do crescimento”, lê-se na nota da organização, que identifica os riscos como principalmente negativos. Aliás, os dados são tão alarmantes que o BCE não os poderá ignorar na reunião desta semana – o impacto na decisão de julho de política monetária não se deve fazer sentir, mas a atualização das projeções macro em setembro deve ser influenciada por estas leituras.
Na mesma linha, o banco ING projeta um discurso relativamente hawkish de Christine Lagarde esta semana para contrariar a possível expectativa crescente de um corte de juros mais para o final do ano. A expressão “taxas mais altas durante mais tempo” deve ser novamente repetida pela presidente do BCE, de forma a nivelar as projeções do mercado, mas esta tentativa da autoridade monetária pode enfrentar desafios depois dos dados fracos do PMI desta segunda-feira.
Um possível instrumento para transmitir essa agressividade ao mercado sem se comprometer com um caminho específico para as taxas de juro seria uma indicação de regresso ao aperto quantitativo, continua o ING. Finalizado o programa de compra de ativos de emergência e os seus reinvestimentos, há um obstáculo: estes títulos têm servido como “travão à subida dos spreads soberanos”, impedindo possíveis fragmentações da dívida entre Estados do euro.
“Os sinais de aperto quantitativo não terão de ser dados na conferência de imprensa; mas, caso a reação dos mercados seja demasiado dovish, o tópico pode ser reavivado através das habituais declarações pós-conferência dos representantes do BCE”, projeta o ING.
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