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Quebra nos serviços da zona euro castiga crescimento nos próximos trimestres

Depois de largos meses como a boia de salvação da economia europeia, o sector dos serviços entrou em terreno de contração, levantando novamente as preocupações quanto a uma recessão este ano. Reino Unido fica em posição ainda mais frágil, enquanto EUA continuam em expansão, mas a mais lenta do último meio ano.
24 Agosto 2023, 07h30

Os sinais de fraqueza das economias ocidentais acumulam-se e esta quarta-feira trouxe mais uma leva de dados desapontantes: na zona euro, o índice de gestores de compras (PMI) afundou ainda mais em terreno de contração (abaixo de 50), com os serviços a passarem também para uma situação de quebra da atividade; nos EUA, nova descida coloca o indicador composto ainda mais em zona de quebra da atividade; no Reino Unido, agosto registou um mínimo de 31 meses.

O ambiente de subida de custos, incluindo dos juros, tem pressionado as empresas europeias, britânicas e norte-americanas, deteriorando as perspetivas de crescimento este ano à medida que os bancos centrais se debatem com uma inflação elevada e persistente. A resistência à recessão tinha sido assinalável, surpreendendo mesmo parte do mercado, mas o fulgor parece estar a perder-se.

Os indicadores compostos europeu e britânico estão em terreno negativo, com a leitura da moeda única a registar uma queda de 48,6 para 47,0 em agosto, ao passo que a britânica caiu de 50,8, ou seja, de uma situação de expansão, para 47,9. Em ambos os casos, as expectativas do mercado saíram defraudadas e registaram-se mínimos de vários meses – 33 no caso europeu e 31 para o Reino Unido.

A indústria é claramente o lado mais negativo, embora os serviços comecem a perder gás. Na zona euro, o subíndice do sector secundário até melhorou, passando de 42,7 para 43,7, mas o resultado continua a revelar uma quebra significativa da atividade nos próximos meses.

O motor industrial germânico continua a deteriorar, registando um mínimo de 39 meses no indicador composto, com 44,7; já o subindicador referente à indústria até melhorou, mas os 39,1 são tão negativos que não permitem grande otimismo. Também França registou decréscimos no indicador composto e no da indústria, que mergulharam ainda mais fundo em terreno de contração da economia.

Os serviços são, ainda assim, a nova preocupação: por um lado, a atividade no sector também dá sinais de abrandamento, com o subindicador europeu a cair abaixo de 50, de 50,9 para 48,3, isto depois de largos meses como a boia de salvação da zona euro; por outro, as pressões inflacionistas agravam-se com a dinâmica salarial aquecida, algo que tem estado na mira do Banco Central Europeu (BCE).

Depois de ter registado um crescimento de 0,3% no segundo trimestre, as perspetivas são fracas, segundo as análises do banco ING e da Pantheon Macro. O banco neerlandês lembra que o resultado do último trimestre foi muito à custa da performance irlandesa, “que mascarou fraquezas noutros países”; já o think-tank projeta uma quebra de 0,1% no PIB em cadeia no terceiro trimestre.

Já Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, vê uma possibilidade real de recessão nas economias europeia e britânica, com os serviços a acompanharem a tendência negativa dos últimos meses da indústria. Ambas as geografias vão assim “confirmando a fraqueza cada vez mais transversal diante de taxas de juro mais elevadas”, pressionando os bancos centrais a adotarem uma postura menos hawkish.

EUA mantém-se à tona

Apesar de também terem registado uma deterioração das condições e perspetivas, os EUA continuam a destoar do panorama negativo, embora se aproximem cada vez mais da quebra da atividade. Em particular, os serviços têm dado um fôlego crucial à maior economia do mundo, mas vão desacelerando progressivamente, levantando algumas questões sobre a resistência no médio-prazo aos juros elevados.

O indicador composto caiu de 52,0 em julho para 50,4 em agosto, ficando abaixo da projeção do mercado, de uma variação nula. Tal como acontece nos serviços, este foi um mínimo de meio ano, depois de aquele segmento ter registado uma quebra de 52,3 para 51,0. Ainda assim, este valor continua a corresponder a uma expansão da atividade, ao ficar acima de 50.

Já o subindicador referente ao sector secundário abrandou de 49,0 para 47,0, mantendo-se em terreno de contração da atividade e abaixo das expectativas dos analistas, que passava por uma ligeira melhoria para 49,3. Olhando para a produção das fábricas norte-americanas, o subindicador passou de 50,2, ou seja, em terreno de expansão, para 47,5, o que corresponde a uma esperada redução da atividade.

Os empresários registaram a primeira queda nas novas encomendas industriais desde fevereiro, em linha com o recuo na criação de negócios nos serviços, também o primeiro desde o mesmo mês. Ainda assim, o otimismo para os próximos meses é o mais notório das últimas leituras dos PMI, dada a expectativa do fim do ciclo de subidas dos juros, o que permitirá maior estabilidade e previsibilidade aos consumidores.

“O PMI dos serviços sustenta os discursos dos ‘falcões’ da Reserva Federal dos EUA, muitos advogando mais subidas de taxas de juro para travarem a inflação mais elevada dos últimos 40 anos, pressionando, deste modo, o discurso de Powell”, projeta Paulo Rosa. Assim, é expectável uma postura agressiva do presidente da Fed no simpósio em Jackson Hole, Wyoming, a realizar entre hoje, dia 24, e sábado, 26.

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