[weglot_switcher]

Porto é uma cidade atrativa pelo seu próprio ‘eu’. ‘Invicta’ abraça a felicidade na edição do Happiness Camp

A cidade do Porto não compete com nenhuma outra do país, escolhendo “manter a sua alma, a sua identidade e o seu carácter”. Quem o diz é Ricardo Valente, vereador da Economia, Emprego e Empreendedorismo da Câmara Municipal do Porto, ao Jornal Económico no dia em que começa mais uma edição do Happiness Camp, que promove a Invicta como uma cidade atrativa e feliz para investir, viver e estudar.
14 Setembro 2023, 12h54

Depois de vários anos a recuar, a população do Porto tem subido desde 2018. Como é que o Porto tem conseguido atrair habitantes?

De anos consecutivos de perda de habitantes, o Porto começou a reverter esta tendência nos últimos anos, fruto da capacidade de a cidade voltar a ser um centro indutor de economia, investimento, e, portanto, oportunidades de emprego. De notar que segundo as estimativas para 2022 e que são pós-censitárias da população residente (revistas pelo INE em função dos resultados definitivos dos Censos 2021) o Porto terá cerca de 240.600 habitantes (contra 235.100 habitantes em 2012).

Lisboa é o ‘centro’ do país, mas o Norte tem conquistado o coração de portugueses e estrangeiros. Quais são os maiores atrativos da Invicta?

O Porto não compete por ser capital nem centro de nada. A cidade procura antes manter a sua alma, a sua identidade e o seu carácter; no fundo aquele que a caracteriza e define ao longo do tempo, a cidade da liberdade, da vanguarda em termos das artes e da abertura ao mundo em termos de negócios e pensamento.

Talento e competências, boas infraestruturas, qualidade de vida e um contexto macroeconómico favorável colocam o Porto no topo das preferências dos investidores estrangeiros. A aposta tem reflexos expressivos ao nível da criação de emprego.

A região tem conseguido captar investimento diversificado e de elevado valor, acabando por atrair talento. Esse investimento é notório em sectores tradicionais com componentes de inovação, que diferenciam o Porto de outras cidades, com a procura alavancada em quatro indicadores: macroeconómicos, talento e competências (know-how), boas infraestruturas e qualidade de vida.

O Porto tornou-se ponto de atração para o investimento internacional. Falamos de uma região cada vez mais conhecida como destino para a instalação de empresas com serviços de valor acrescentado, uma vez que os seus argumentos são fortíssimos para este tipo de ocupantes. Além dos custos competitivos do imobiliário, há ainda uma força de trabalho altamente qualificada, um ecossistema académico e de Investigação & Desenvolvimento (I&D) muito forte, um clima mediterrâneo e um custo de vida acessível, tudo isto num país que é considerado um dos mais seguros do mundo.

Talento e competências, boas infraestruturas, qualidade de vida e um contexto macroeconómico favorável colocam o Porto no topo das preferências dos investidores estrangeiros.

Não menos importante, tudo isto reflete-se no fator emprego. A criação de postos de trabalho é superior no Porto. Em termos absolutos, por cada projeto de investimento estrangeiro são, em média, gerados 115 postos de trabalho no Porto, ao passo que em Lisboa apenas menos de metade (47), segundo um estudo realizado por uma consultora imobiliária.

De que forma é que o Porto está a garantir a sustentabilidade do seu território para o futuro?

Qualquer visão de futuro tem que ter a sustentabilidade do desenvolvimento da cidade e do seu território.

É, pois, chegada a hora de apostar estrategicamente na densificação inteligente das áreas de expansão da cidade, que crie as condições para o sucesso dos desafios colocados por uma cidade que pretende competitiva neste século XXI, ao mesmo tempo que defenda os valores ambientais, paisagísticos e patrimoniais do território.

Essa densificação deve ser sensível aos grandes sistemas urbanos, designadamente aos relacionados com a mobilidade e com o ambiente. Uma densificação inteligente permitirá a qualificação dos espaços urbanos não destinados à edificação, contribuído para a construção de uma estrutura ecológica coerente. Simultaneamente, uma abordagem estratégica à densificação permitirá reduzir os movimentos pendulares em automóvel privado, e aumentar a sustentabilidade das redes de transporte coletivo existentes, designadamente o metro.

Estamos também a reforçar a defesa do património construído. O património que o passado nos legou é um recurso do nosso presente e é a matriz do nosso carácter. Essa defesa deve ser baseada em mecanismos de salvaguarda criteriosos e cientificamente sustentados. Mas paralelamente, a cidade contemporânea será o nosso legado para o futuro. Nesse sentido, a defesa do património histórico tem de ser compaginável com a construção do novo património contemporâneo. O crescimento deve permitir a integração do património construído em todas as épocas, permitindo que as diversas camadas da nossa memória coexistam harmoniosamente no território. No fundo, centramos a sustentabilidade deste crescimento na noção de que o passado conformou o nosso presente, mas não limita o nosso futuro.

Assim, temos vindo a reforçar das redes de transporte coletivo, incluindo a rede de metro, o progressivo condicionamento do trânsito de automóveis particulares, e a progressiva pedonalização do centro histórico. A resolução do desafio da demografia não pode ser alcançada às custas da diminuição da qualidade de vida urbana e das condições de mobilidade. A única forma de resolver essa equação de forma satisfatória é o progressivo abandono do atual paradigma de mobilidade na cidade, excessivamente dependente do transporte individual motorizado.

Ao nível da política sectorial de ambiente são grandes os desafios que enfrentaremos no futuro. Temos que preparar a cidade para o efeito inexorável das alterações climáticas, mitigando os seus riscos, e potenciando a resiliência do território. Será fundamental, portanto, uma qualificação e uma integração em sistema dos diversos espaços não destinados à edificação, e o reforço das soluções de base natural para o reforço ou o restabelecimento dos ciclos naturais no metabolismo urbano.

Acredito que o Porto pode ser uma porta para o Mundo, pode trazer pessoas e negócios que tragam riqueza, inovação, transferência de tecnologia e saberes

O Porto foi designado, pelo Financial Times, como a Cidade Europeia do Futuro. O que significa este título?

Este prémio único na vida de uma cidade portuguesa, corporiza a qualidade do trabalho que desenvolvemos, dá corpo à visão pioneira de Rui Moreira de colocar o investimento como pedra basilar de uma estratégia de cidade, dotando-a de um veículo de atração e promoção de investimento – Divisão Municipal InvestPorto.

Todos estes esforços de concretização de investimento têm um contributo importante para o desenvolvimento económico do Porto, não apenas em termos do emprego e investimento gerado, mas também devido à transferência de tecnologia e know-how, à reabilitação do património urbano da cidade e ao aumento da competitividade e visibilidade internacional da cidade.

O Porto é hoje visto como um centro de excelência em muitas áreas da designada nova economia, sendo este prémio um fator de certificação dessa excelência e da capacidade poder responder aos desafios colocados pelas empresas que chegam à cidade.

Como é que a cidade pode melhorar para um futuro mais feliz? Quais as estratégias que planeiam implementar?

A cidade pode sempre melhorar. Para ser mais feliz, diria que temos que ser capazes de não ser engolidos pelo medo. O medo é fator chave para o esmorecimento e para o desanimo. O Porto não pode embargar no fado trágico de que o país parece refém.

Para tal temos que continuar a nossa política, distinta, assente no conhecimento dos territórios e dos ativos que aqui germinam. A estratégia número um para a cidade é aumentar a sua qualidade de vida; fazê-la crescer economicamente; manter o seu valor patrimonial sem abafar a inovação e ter uma política social agregadora e assente na valorização das pessoas (educação) e não na sua subjugação a uma lógica meramente assistencialista.

O número de nómadas digitais aumentou no Porto nos últimos anos. A cidade prepara-se para acolher mais cidadãos do mundo? 

O Porto é uma cidade aberta. Queremos ou não um mundo aberto? Queremos crescer com o Mundo ou queremos o isolacionismo e voltar a ficar atrás das muralhas?

Acredito que o Porto pode ser uma porta para o Mundo, pode trazer pessoas e negócios que tragam riqueza, inovação, transferência de tecnologia e saberes. Como querer ser cidadão do mundo sem estar numa cidade voltada para o Mundo?

Como é que a cidade aumentou a sua visibilidade para o estrangeiro?

Desde que tomei as rédeas da Economia da cidade, a cidade passou a estar nas maiores feiras de investimento na Europa e a mostrar-se em distintos países e continentes. A cidade investiu numa diplomacia económica que a posiciona-se ativamente como cidade amiga do investimento, das pessoas, da tolerância, criatividade e inovação.

No ano passado, o município do Porto conseguiu atingir 433 milhões de euros em investimento direto, o que levou à criação de mais de mil postos de trabalho. Como está a correr o investimento este ano? Já superaram o valor do ano passado?

O investimento este ano parece estar em nodo menos dinâmico, temos vindo a fechar uma série de investimento que “ganhámos no ano de 2022”. Contudo não posso deixar de salientar importantes investimentos que existirão a curto prazo na cidade na área das ciências da vida e a abertura do Centro de Excelência para a tecnologia da Saúde, Robótica e Empreendedorismo da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Portugal. Projeto este estrutural e onde estive envolvido como representante do Município do Porto.

Qual o investimento da própria cidade para conseguir investir no seu futuro?

O plano de investimentos de 2022 foi de 114,4 milhões de euros. Destacam-se a reabilitação de habitação de renda apoiada (18,5 milhões), finalização da requalificação e instalação do Mercado do Bolhão (5,5 milhões), reabilitação de escolas (9,7 milhões), equipamentos desportivos (5 milhões), parques e jardins (7,3 milhões), ou a iluminação pública com tecnologia LED (6,5 milhões).

Este valor de investimento mostra o quanto, sem onerar as gerações futuras com endividamento, é possível investir na criação de condições para que os portuenses tenham a capacidade de criar a sua felicidade.

A estratégia número um para a cidade é aumentar a sua qualidade de vida; fazê-la crescer economicamente; manter o seu valor patrimonial sem abafar a inovação e ter uma política social agregadora e assente na valorização das pessoas (educação) e não na sua subjugação a uma lógica meramente assistencialista.

O Happiness Camp decorre a partir desta quinta-feira, 14 de setembro. Quais as perspetivas para este evento?

As perspetivas e expectativas são elevadíssimas. Pelo que vi no evento do ano passado, só posso afirmar que qualquer cidade no Mundo gostaria de ter um evento com esta qualidade de palestrantes e com esta qualidade de organização,

Deste modo, vemos com agrado que seja no Porto que se  volta a promover a felicidade no local de trabalho com a realização do Happiness Camp. O grande objetivo é promover, junto de empresas e empregadores, a aprendizagem de competências e técnicas para a sustentabilidade humana, pois não há humanidade sem felicidade!

Como bem afirmou John Locke: “A necessidade de procurar a verdadeira felicidade é o fundamento da nossa liberdade.”

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.