Quase meio século após o 25 de Abril, celebrá-lo é, também, exercermos a nossa cidadania em plenitude. Exercício de cidadania que cada um de nós, a seu modo, é desafiado a fazer.

Parece hoje ser evidente uma diminuição da participação dos cidadãos na vida colectiva e, desde logo, na vida política. Quando assim é, começamos a percorrer o caminho para o enfraquecimento e degradação dos regimes democráticos e para a diminuição das liberdades individuais.

O percurso de séculos de construção do estado de direito e do primado da Lei é hoje posto em crise, em múltiplas zonas do globo.

Estranhamente as desigualdades ampliam-se, as expectativas de ascensão socioeconómica parecem gorar-se, e a ambição de uma sociedade mais equitativa e mais fraterna parece esfumar-se na marcha do tempo.

Os desequilíbrios demográficos, os movimentos migratórios à escala global, a incapacidade de distribuir a população pelos diversos territórios, estão a conduzir-nos a realidades novas que verdadeiramente não sabemos tratar, nem estamos a tratar.

Vivemos num quadro de sucessivos factores de incerteza. Das crises humanitárias sem precedentes aos mares que se transformam em cemitérios de pessoas, de esperanças e de valores.

A esperanças passageiras de mais liberdade sucedem Invernos duradouros e rigorosos para os Direitos Humanos.

Esta viagem pela vida que todos vamos fazendo, cada um a seu modo, se é uma exortação da vida, da liberdade, da responsabilidade de agir, é, também, uma exortação à individualidade e á diversidade.

Estes são tempos de ousar porque esta é a oportunidade de uma geração, daqueles que estão agora a entrar no mercado de trabalho, ou no início das suas carreiras. É deles o momento de construir um novo modelo de sociedade em que todos possam ter acesso à dignidade que hoje é tantas vezes negada, ou, pior, camuflada.

Estes são tempos de ousar porque se impõe construir um novo modelo de equilíbrio territorial que não deixe ninguém, nenhuma região, para trás.

Estes são tempos de ousar porque temos de reconstruir o modelo democrático em que nos acomodámos e que, porventura, não considera nem enquadra as novas realidades que as dinâmicas sociais foram criando.

Estes são tempos de ousar porque é necessário encontrar novas formas de organização internacional, capazes de “governar” o mundo policêntrico em que vivemos sem fazer “vista grossa” às ditaduras.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.