Já está em vigor a nova tranche de tarifas norte-americanas às importações chinesas, justificadas por Washington pelas preocupações sobre a transferência forçada de tecnologias e propriedade intelectual.

As novas taxas alfandegárias, que incidem sobre mais 200 mil milhões de dólares de produtos chineses, estão atualmente fixadas em 10% e aumentarão para 25% a 1 de janeiro, mas esta não é a única escalada em agenda, pois a Casa Branca deixou claro que qualquer retaliação levará à imposição de novas taxas sobre mais 267 mil milhões de dólares em importações.

O governo chinês indicou que seria inviável manter negociações com os EUA, mas não avançou com qualquer retaliação até ao momento. Se é certo que a China pode suspendê-la por mais tempo – a pressão poderá ter outros contornos, como aconteceu no caso da disputa antimíssil com a Coreia do Sul –, não ficaríamos muito surpreendidos se acabássemos por ver taxados todos os produtos transacionados entre as duas potências. Ora, as posições chinesa e norte-americana são muito extremadas e baseiam-se em pilares ideológico-estratégicos de que nem Trump nem Xi Jinping estão dispostos a abrir mão.

De um lado da trincheira, a China, que vê as suas políticas comerciais como parte essencial da estratégia de crescimento, condição para travar o arrefecimento da economia e pilar do seu plano “Made in China 2025”, traçado para a reforçar como potência global no setor tecnológico (inteligência artificial, robótica, etc.).

Do outro lado, está Trump, com as suas intenções de colocar a “America First” e uma equipa de trabalho que vê a China como a raiz do declínio de vários setores da economia norte-americana, acusando-a de forçar empresas estrangeiras a transferirem as suas tecnologias, e de subsidiar as suas empresas ao mesmo tempo que as protege da concorrência externa.

Menos exportações, menos crescimento

Em termos macro, as últimas tarifas vão certamente reduzir o crescimento das exportações chinesas para os EUA, embora a extensão do impacto dependa da sensibilidade ao preço dos produtos em causa e da capacidade para encontrar fornecedores alternativos. Os movimentos na taxa de câmbio podem também compensar parte das taxas, se bem que a desvalorização do renminbi não nos parece estar entre as respostas a adotar pela China.

Em resultado das simulações que fizemos, acreditamos que o crescimento das exportações chinesas pode abrandar entre 2% a 5%, com consequências de médio prazo para o crescimento global.

Já no curto prazo, vimos inclusive as exportações chinesas a aumentar, pois as empresas norte-americanas tendem a antecipar e aumentar o volume de encomendas antes da entrada de tarifas mais penalizadoras. Esta situação torna mais complicado para o governo norte-americano compreender o real impacto das tarifas impostas e, sem dúvida, frustrará as suas intenções de reduzir o défice bilateral.

Em consequência desta guerra comercial, há ainda um outro efeito de médio prazo que nos parece quase certo: um efeito estagflacionário, pois enquanto o custo adicional dos bens importados pressiona o aumento da inflação, a redução das trocas comerciais, e a incerteza que cria, vai repercutir-se negativamente no investimento de capitais.