São mais de 65 km entre a aldeia de São Pedro da Cadeira, Torres Vedras, e a baixa de Lisboa. Há 60 anos, João Alves vinha com o seu pai, com a A8 ainda longe de existir, vender bacalhau porta-a-porta nas ruas da baixa da capital portuguesa.
O bacalhau continuou a ser uma paixão e em 1985 abriu a Riberalves. Inicialmente, era uma empresa do sector da distribuição, apesar do fiel amigo continuar a ter destaque. Mas em 1990 vendeu o cash&carry e decidiu apostar exclusivamente na indústria de transformação de bacalhau. Abriu uma unidade industrial no Carvalhal, Torres Vedras, a sede da empresa. Mais tarde, abriu na Moita, Setúbal, a maior fábrica mundial de processamento de bacalhau. A empresa produz atualmente 30 mil toneladas de bacalhau por ano, cerca de 8% a 10% do bacalhau pescado em todo o mundo.
A Riberalves é hoje líder do mercado nacional de bacalhau e exporta para 20 países.
E, como diz o ditado, filhos de bacalhau sabem nadar. O negócio é hoje liderado pelo filho Ricardo Alves, CEO da companhia. O filho mais novo, Bernardo Alves, lidera os negócios imobiliários e o dos vinhos (AdegaMãe em Torres Vedras).
E é aqui que entra a Riberalves Imobiliária. A empresa tem um projeto turístico previsto para o concelho de Alcochete que prevê quase mil camas à beira do rio Tejo.
No total, o conjunto turístico conta com dois empreendimentos, complementares: dois edifícios de apartamentos turísticos (115 T3), correspondentes a 690 camas; e um edifício para um estabelecimento hoteleiro com 150 quartos duplos, correspondentes a 300 camas. No total, 990 camas. Os edifícios do projeto contam com dois pisos acima do solo.
A propriedade conta com duas parcelas com uma área total de 14 hectares, com a área de construção a contar com 27 mil m2.
O projeto conta com espaços e áreas verdes de uso comum, incluindo um circuito de manutenção, e equipamentos de desporto e lazer, incluindo uma piscina. As informações constam no estudo de impacte ambiental que encontra-se em consulta pública até 9 de outubro.
Localizado a “cerca de 1 km a oeste do centro urbano de Alcochete e da área de recreio e lazer da Praia dos Moinhos, ocupando uma faixa de terreno de forma sensivelmente retangular, situada entre o Estuário do Rio Tejo — Mar da Palha e a zona da praia dos Moinhos (a norte) e uma área de salinas (salinas da Fundação Jorge Gonçalves Júnior e salinas da Fundação das Salinas do Samouco a nascente, sul e poente)”.
Neste local existem duas instalações industriais em estado de abandono que pertenciam à Sociedade Nacional de Armadores de Bacalhau (SNAB) e à Empresa Comercial Industrial de Pesca (PESCAL).
A Riberalves Imobiliária comprou os antigos terrenos da SNAB em 1997, e da antiga Sociedade Europeia de Aquacultura (SEA) em 2006.
“O projeto constitui uma oportunidade de regenerar uma área devoluta e em progressiva degradação, bem como uma oportunidade para perpetuar a memória das secas de bacalhau e das salinas de Alcochete, encarando e incorporando as restrições do ponto de vista ambiental como sendo um fator valorizador e diferenciador, inclusive reabilitando algumas das construções existentes”, pode ler-se no documento.
“Atualmente a área de intervenção encontra-se degradada, com sinais evidentes do que foi noutros tempos uma intensa indústria de secagem de bacalhau. Através do projeto previsto, este ambiente será recuperado, valorizado e comunicado/divulgado contribuindo claramente para a sustentabilidade ambiental do município e da região”, argumenta o promotor.
A Riberalves Imobiliária sustém que o “projeto oferece a oportunidade do município resolver um problema estrutural, e que a passagem do tempo só fará acentuar, de degradação de espaço e edifícios. Pensado para o território concreto, é indissociável da história e tradição do lugar”.
Depois, sublinha a “disponibilidade do promotor para desenvolver projeto diferenciador e fortemente orientado por padrões de pleno respeito ambiental é um fator a considerar num espaço em que a valorização do capital natural é um fator crítico”.
Por último, sustenta que este é um “projeto gerador de emprego e dinamização económica associada a desenvolvimento territorial, sustentabilidade ambiental e usufruto para população”.
O promotor também destaca que o objetivo é a “reconversão de preexistências (áreas edificadas e impermeabilizadas), com alvará válido e onde todas as construções são comprovadamente legais, que se encontram sem qualquer utilização há diversos anos. Propõe-se a recuperação de algumas das construções existentes afetando-as a novos usos, bem como novas construções a edificar em áreas atualmente ocupadas com construção ou impermeabilizadas com pavimentação”.
A empresa explica que este projeto “foi objeto de diferentes propostas de ocupação, em momentos anteriores que tiveram como resultado a situação de não aprovação dos projetos em causa. Face a estes antecedentes e à fragilidade/sensibilidade da área de estudo foi adotada uma metodologia antecipativa, de envolvimento das principais entidades através da realização de várias reuniões de debate, e da equipa projetista e equipa do EIA na identificação de condicionantes do território e na proposta de soluções de ocupação que tivessem em considerações essas mesmas condicionantes”.
Na descrição do projeto, destaque para a “preservação e reabilitação de alguns edifícios existentes, que serão reconvertidos para alguns serviços do Conjunto Turístico e equipamentos tais como, um restaurante, núcleo museológico e de sensibilização ambiental, alusivo à antiga ocupação das Secas e ao território onde as mesmas se integram”.
A empresa vai também elevar os edifícios para evitar inundações, recorrendo à palafita, um conceito de construção milenar. “Considera-se que o Piso 0 dos edifícios, seja elevado do terreno entre cerca de 1,30m e 1,50m, reforçando o carácter palafítico dos mesmos, considerando a eventual ocorrência de cheias que as alterações climáticas podem produzir”.
Planta do projeto
Taguspark
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