Obras de arte contemporânea das coleções Ellipse, Berardo, Teixeira de Freitas e da coleção do Estado vão estar em diálogo a partir de sexta-feira, na inauguração do Museu de Arte Contemporânea – Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), em Lisboa.
Uma seleção de peças em pintura, fotografia, escultura, vídeo e instalação das quatro coleções nacionais de arte contemporânea – cada uma com a sua história e percurso – passou a estar incluída nas duas exposições permanentes do museu cujo nome tomou o lugar do Museu Coleção Berardo, ali instalado durante 15 anos, até ao final de 2022.
Numa visita para jornalistas que antecedeu a inauguração oficial, a ocorrer na sexta-feira à noite, a administração do CCB e o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, percorreram as salas onde sobressai, nas duas novas exposições permanentes, o diálogo entre obras das várias coleções, como destacou o curador Delfim Sardo.
No percurso pelas salas, os visitantes poderão ver, entre outras, obras de Robert Gober, Agnes Martin, Sol Lewitt, Joseph Kosuth da Coleção Ellipse, de Juan Munoz, Jorge Molder e Donald Judd da Coleção Berardo, e de Ângela Ferreira da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE).
As exposições permanentes intitulam-se “Objeto, Corpo e Espaço – A revisão dos géneros artísticos a partir da década de 1960” e “Coleção Berardo do Primeiro Modernismo às Novas Vanguardas do Século XX”, num percurso com núcleos dedicados às principais vanguardas históricas da primeira metade do século XX, como o cubismo, o dadaísmo e o surrealismo.
A Coleção Berardo continua à guarda do CCB por decisão judicial, até que surja uma decisão nos tribunais, que a arrestaram em julho de 2019, na sequência de um processo interposto em tribunal pelo Novo Banco, pela Caixa Geral de Depósitos e pelo BCP, que reclamam uma dívida de perto de 1.000 milhões de euros, que dizem ter do empresário.
No ano passado, o Estado adquiriu a coleções de arte Ellipse e do BPP – com cerca de 1300 obras -, por cerca de 35 milhões de euros, que passaram para a tutela pública, na CACE, enquanto a coleção privada Teixeira de Freitas deu entrada em depósito no CCB com um foco especial no desenho, em diversos suportes, de artistas sobretudo da América Latina e do Brasil.
Desta última coleção, também é inaugurada na sexta-feira a exposição temporária “Ou o desenho contínuo”, que, segundo Delfim Sardo, desfila várias temáticas que o visitante poderá descobrir através de um “jogo por cores e conotações das obras”.
Rui Toscano, Robert Barry, Armando Andrade Tudela, Scott Hunt, Gabriela Albergaria, Mark Lombardi e Edgard de Souza são alguns dos artistas representados na exposição, desde nomes emergentes até figuras já com longos percursos artísticos.
A outra exposição temporária prevista no programa inaugural é da artista belga Berlinde de Bruyckere, intitulada “Atravessar uma ponte em chamas”.
A artista, nascida em 1964, tem vindo a desenvolver um trabalho no campo da escultura e do desenho em torno das grandes temáticas da arte, nomeadamente a morte, a redenção, a dor e a memória.
Presente na visita, Berlinde de Bruyckere disse, sobre a exposição de escultura: “Dizem que o meu trabalho é muito focado na violência, na raiva, na dor e no medo. Esta exposição é muito importante pelo tema que abordo, da sexualidade”, comentou.
A mostra será acompanhada por duas performances do bailarino português Romeu Runa – “My Deer” e “Sybille” -, que tem trabalhado muito proximamente com Berlinde De Bruyckere.
O MAC/CCB é inaugurado oficialmente na sexta-feira, às 21:30, com uma programação especial de entrada gratuita, que inclui uma performance musical de João Pimenta Gomes (sintetizador modular) com voz de Carminho, e a atuação do DJ Jonathan Uliel Saldanha.
No sábado e no domingo, entre as 10:00 e as 19:00, o museu será ainda palco de concertos, visitas guiadas e atividades pensadas para o público adulto e famílias.
Criado depois da extinção da Fundação de Arte Moderna e Arte Contemporânea – Coleção Berardo, o MAC/CCB foi anunciado após a denúncia, pelo Ministério da Cultura, de um protocolo de comodato assinado entre o Estado e o colecionador de arte José Berardo, que passou a vigorar a partir de 01 de janeiro deste ano, sempre com a oposição do empresário.
A Coleção Berardo reúne os desenvolvimentos artísticos no mundo ocidental, no decurso do século XX, e inclui, entre outras obras, artistas estrangeiros de renome como Jean Dubuffet, Joan Miró, Yves Klein, Piet Mondrian, Duchamp, Chagall, Picasso e Andy Warhol, e de portugueses como Rui Chafes, Fernanda Fragateiro e Julião Sarmento.
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