A energética vai construir uma unidade de hidrogénio verde e outra de biocombustíveis para a aviação e rodovia.
A Galp vai arrancar com a construção dos projetos de 650 milhões de euros na refinaria de Sines nas próximas semanas. Um dos projetos visa a construção de uma unidade de produção de hidrogénio verde para começar a substituir o hidrogénio à base de combustíveis fósseis que é usado atualmente na refinaria. O outro projeto visa a construção de uma unidade de produção de biocombustíveis para a aviação e rodovia.
“Arrancamos a construção nas próximas semanas, estamos prontos para arrancar, estamos a fazer mobilização, temos comunicação à autoridade de segurança, estamos à espera do último papelinho, uma semana ou duas e estamos em obra nos dois investimentos em Sines”, disse ao JE Sérgio Goulart Machado, diretor para o hidrogénio da Galp.
“É claramente este o caminho da descarbonização e mantendo disciplina de investimentos. Temos o duplo desafio de fazer transição energética, mas também fazer investimentos que sejam rentáveis. Estes que temos na calha agora permitem-nos afirmar com confiança: já temos estas decisões de investimento”, acrescentou o responsável em declarações à margem da conferência EvEx que decorreu na semana passada em Lisboa.
Estes investimentos foram revelados em primeira mão pelo Jornal Económico em abril. No final de setembro, a companhia anunciou a decisão final de investimento. Os projetos deverão estar operacionais em 2025.
Antes, Sérgio Goulart Machado destacou que a Galp está a apostar forte nas energias de baixo carbono com 70% do investimento anual a destinar-se à transição energética.
“Temos uma aposta grande nas renováveis, em particular no solar. A Ibéria é o melhor sítio para fazer isto na Europa”, destacando que a empresa está no top 3 de energia solar na Ibéria com 4 gigawatts de potência solar até 2035.
“A refinaria de Sines é a greenfield [construída de raíz] mais nova da Europa. Ao longo desse tempo foi-se adaptando ao mercado. É uma unidade hoje tecnologicamente mais evoluída do que há 45 anos. Há menos de um mês anunciámos dois grandes investimentos na refinaria. O projeto SAF é o maior da Península Ibérica, o de hidrogénio é o segundo maior na Europa na escala de investimento já aprovados [com final investiment decision já tomada]”, disse previamente durante o painel em que participou na conferência.
A Galp espera gerar mais 430 milhões de euros de receitas extra por ano na refinaria de Sines. A estimativa prende-se com as receitas da nova unidade de produção de biocombustíveis para o transporte rodoviário e aéreo que deverá entrar em produção no final de 2025.
A unidade de biocombustíveis representa a maior fatia deste investimento: 400 milhões de euros para produzir 270 mil toneladas por ano, num consórcio formado entre a Galp e a japonesa Mitsui (75%-25%, respetivamente).
O projeto vai produzir “diesel renovável (hydrotreated vegetable oil – HVO) e combustível sustentável para a aviação (Sustainable Aviation Fuel – SAF) a partir de resíduos usados, permitindo uma redução das emissões de gases com efeito estufa em cerca de 800 mil toneladas anuais (Scope 3, CO2e), comparativamente às alternativas fósseis disponíveis”, anunciou a empresa em comunicado em setembro.
Em relação à unidade de produção de hidrogénio verde, a companhia prevê investir 250 milhões de euros. O projeto terá uma capacidade de 100 megawatts de eletrólise para produzir até 15 mil toneladas de hidrogénio verde por ano.
“A integração deste projeto de larga escala nas operações da refinaria de Sines permitirá a substituição de cerca de 20% do consumo atual de hidrogénio cinzento e poderá representar uma redução das emissões de gases com efeito estufa de aproximadamente 110 mil toneladas por ano (Scope 1 e 2, CO2e)”, detalhou a companhia.
“Os eletrolisadores serão alimentados a eletricidade renovável, através de acordos de fornecimento de longo prazo, alavancados também pela capacidade de geração renovável da Galp. Recorrendo a água industrial reciclada, estima-se que o consumo de água desta unidade represente menos de 3% do consumo médio anual da refinaria”, avançou a Galp.
A Galp prevê criar 128 postos de trabalho diretos para operar estas unidades, com mais de mil trabalhadores para a fase de construção.
A presidente do conselho de administração da petrolífera aproveitou no final de setembro para deixar um recado ao atual Governo, e futuros, sobre a importância da estabilidade regulatória e fiscal no país.
“Estes projetos, dois dos maiores desta natureza, representam um investimento global de 650 milhões de euros. Trata-se de um contributo significativo para a transformação e o crescimento do sector industrial em Portugal, colocando a Galp na vanguarda do desenvolvimento de soluções de baixo carbono, imprescindíveis para assegurar a transição energética. Estas decisões de investimento foram tomadas na expetativa de que a evolução do enquadramento fiscal e regulatório em Portugal não prejudique o sucesso destes projetos de grande dimensão, garantindo que as nossas operações industriais se mantenham competitivas a longo prazo num contexto global”, disse a presidente do conselho de administração, Paula Amorim, em comunicado na altura.