Sucedem-se governos e orçamentos de Estado, ao longo de anos, mas nenhum teve a lucidez – e a clarividência- de incluir a medicina veterinária como componente indissociável da Saúde, remetendo-a apenas para a Agricultura. A medicina veterinária, na verdade, é a ponte entre as duas áreas, sendo incontornável na sua confluência como garante da saúde pública e de Uma Só Saúde para Todos.
Os atos médico-veterinários continuam na vanguarda dos apoios do Estado, que não cede à abolição do IVA, fazendo dos médicos veterinários os únicos profissionais de saúde em Portugal que ainda pagam IVA. E isto num país, onde os salários não crescem ao ritmo da brutal inflação dos últimos tempos; num país onde a legislação se plasma pela defesa dos direitos dos animais (onde se inclui o direito à saúde); num país que, para mais tendo presente a recente pandemia que atravessámos, continua a descurar a saúde pública, essencial à organização social e matéria central da socioeconomia em qualquer país evoluído. Mas em Portugal, a medicina veterinária é ainda tida como um luxo, o que obriga os cidadãos a pagar o único imposto sobre a saúde, no nosso país.
Nunca é demais relembrar (e alertar a opinião pública para tal – já que a nível político tem faltado sensibilidade e conhecimento nesta matéria) que a intervenção da medicina veterinária se centra não apenas na saúde animal per si, mas também (e cada vez mais) na saúde humana sob várias e diferenciadas atuações, até porque a Saúde não é, nem pode ser, uma coutada de saberes: animais, pessoas e ambiente estão inextricavelmente unidos numa Saúde Única, e esta é interdisciplinar!
Senão vejamos:
– Seja como clínico, epidemiologista ou ecologista, o médico veterinário (MV) é fundamental e imprescindível na tríade pessoas-animais e ambiente;
– Sobretudo na atuação profilática sanitária destaca-se, o seu papel na prevenção e combate às zoonoses transmitidas por animais e por alimentos de animais;
– Assume, o MV, um papel fundamental ano desenvolvimento das populações, garantindo o equilíbrio com o meio ambiente e os animais;
– É uma peça essencial no combate à na resistência antimicrobiana e nas doenças e outras ameaças emergentes para a saúde pública;
– Intervém cada mais em terapias assistidas por animais – área em nítido crescimento no nosso país e com resultados tão animadores quanto fascinantes, tal é o retorno para a saúde de pessoas de várias idades, variadas patologias e múltiplos contextos; entre muitas outras ações destes profissionais no âmbito da saúde.
A fraca representatividade da Medicina Veterinária nos serviços de Saúde coloca em risco a criação de estratégias técnicas e políticas, adequadas para a defesa da Saúde Pública seja a nível local, regional ou nacional. Há mesmo uma Saúde Pública Veterinária (assim denominada pela OMS), dotada de princípios que estão enraizados tanto em ciências biológicas como sociais e que são compartilhados entre a medicina (saúde!), a agricultura e as ciências ambientais, na mira da proteção e melhoria da saúde humana. Deveriam, os responsáveis pela tutela da saúde em Portugal, ter presente o recente exemplo da pandemia Covid-19, que veio reforçar a importância do trabalho interdisciplinar, expresso no conceito de Saúde Única, ao demonstrar o potencial do médico veterinário na intervenção da interface humano-animal que atua como fonte primária de doenças zoonóticas emergentes.
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