A frase da urbanista Janette Sadik-Khan, “Se conseguires mudar a rua, consegues mudar o mundo”, destaca os desafios atuais que as cidades enfrentam e incentiva à adoção de uma nova perspetiva sobre as ruas. O argumento de que estas ocupam um terço das áreas urbanas, e não devem ser simples vias de tráfego rodoviário, tem sido o mote para repensar os espaços de convívio e lazer que desempenham um papel fundamental na vida urbana dos cidadãos.
Viver a rua na vida quotidiana é uma experiência enriquecedora, que transforma as ruas em locais de interação social, onde as pessoas se reúnem para partilhar refeições, celebrações e momentos de convívio. Esta dinâmica de ‘rua viva’ defendida pelo arquiteto Donald Appleyard fortalece a coesão social e o sentido de pertença à comunidade.
Várias cidades europeias, como Oslo, Copenhaga, Amesterdão, Barcelona, Londres e Paris, cientes de que o desenho das ruas influencia a vida social, têm adotado novas abordagens no planeamento e implementação de soluções urbanas. O objetivo é tornar as ruas o mais inclusivas e seguras possível, criando espaços e ambientes cuja qualidade e atratividade promovam uma relação dos cidadãos com as ruas marcada pela vivência e diversidade.
As ações de caminhar, brincar, dançar, conversar e jogar transformam as ruas em locais de encontro e interação, impulsionando a promoção da inclusão e igualdade, assim como tornam as cidades mais equitativas e dinâmicas.
Neste sentido, têm sido elaborados diversos manuais de desenho de ruas, com o intuito de definir princípios e requisitos técnicos para a vida urbana, cenários simplificados para diferentes atividades, infraestruturas subterrâneas e acima do solo, e vegetação em conformidade com a acessibilidade universal.
O projeto The Future Design of Streets é um exemplo do que se está a discutir em Portugal. O arquiteto Daniel Casas-Valle enfatiza a importância de repensar o desenho das ruas para promover a porosidade das áreas urbanas, tornando-as mais permeáveis e acessíveis, reduzindo a dependência de veículos motorizados e melhorando a qualidade de vida. Para além disso, é essencial promover a ideia de brincar na rua e viver a rua na vida quotidiana, visto ser a oportunidade, por excelência para explorar, aprender e socializar nas ruas da cidade.
Em suma, as ruas desempenham um papel crucial na construção de cidades mais humanas e sustentáveis, beneficiando os cidadãos, o ambiente e a qualidade de vida urbana.