O ex-primeiro-ministro José Sócrates quebrou o silêncio sobre a investigação que levou à queda do Governo socialista por suspeitas de corrupção. “Há uma semana que o Partido Socialista é massacrado diariamente nas televisões, sendo apresentado como um partido dirigido por gente desonesta”, escreve José Sócrates nas primeiras linhas do artigo de opinião publicado no “DN”.
Sócrates lembra que, desta vez e ao contrário do que aconteceu consigo, “a ação do Ministério Público derrubou um Governo e acabou com uma maioria absoluta e dissolveu a Assembleia da República”. De relembrar que, desde que se tornou pública a investigação contra António Costa, que muitas têm sido as ligações entre o seu nome e o de Sócrates.
Apesar de ter sido a justiça a derrubar o Governo, como o primeiro considera, “o conselho dos estrategas do partido é que a luta é contra a direita, não contra o sistema judiciário”. Assim, o ex-primeiro-ministro diz que “a caminho do cadafalso, os lábios dos socialistas entoam cânticos de confiança na Justiça. Esplêndido”.
Para o ex-chefe de Governo, “os procuradores expressam, apressadamente, o argumento de que todas as suspeitas têm de ser investigadas”. “A investigação existe há quatro anos e ninguém protestou contra ela. O que está em causa são os motivos para prender, para fazer buscas e para tornar públicas suspeitas que, podendo fundamentar a decisão de investigar, não justificam a violência sobre as pessoas”.
Sócrates defende que o tempo é “o ponto crítico nesta história”. Seguindo o exemplo da Operação Marquês, que demorou anos a julgar, este defende que o Ministério Público deve iniciar buscar e tornar pública a investigação quando já tem “na sua posse provas que considere suficientes da culpabilidade dos envolvidos. Deve estar pronto para acusar”.
“Todos sabemos que esta investigação vai durar anos, que os suspeitos vão pedir a aceleração processual que os prazos de inquérito não vão ser cumpridos e que os procuradores manterão os suspeitos devidamente presos na prisão da opinião pública durante o tempo necessário a que outro tempo político floresça”.
Na opinião de José Sócrates, o processo do Ministério Público retirou “ilegitimamente” a maioria absoluta ao Governo e “o direito a governar”. “Talvez mais importante, mesmo que esse processo tenha detido cinco pessoas por motivos fúteis e arruinado a sua reputação pública”.
“Aqui, nesta democracia, o Ministério Público presta contas a Deus, não aos homens, que se devem limitar a baixar a cabeça e expressar a sua confiança na Justiça. Daqui a quatro meses haverá novo governo, haverá novos escândalos e haverá novas oportunidades para dizer que confiamos na Justiça. Nada de novo debaixo do sol – apenas a Justiça a funcionar”, termina o ex-primeiro-ministro que esteve indiciado de branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e corrupção no caso Operação Marquês.
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