O modelo de negócio dos portos como o conhecemos está a evoluir. Vivemos tempos férteis em inovação, em que todos os setores se estão a virar mais do que nunca para a integração de serviços e plataformas que tirem partido das vastas possibilidades criadas pelo mundo digital.

Hoje, as vantagens competitivas e as propostas de valor diferenciadas na atividade portuária dependem, entre outros fatores, da digitalização. Soluções tecnológicas de vanguarda serão incontornáveis para uma nova realidade de ecossistemas portuários e logísticos, servidos por sistemas em rede hiperconectados.

O desenvolvimento de um novo conceito de digitalização portuária a nível nacional vai permitir elevar os já exemplares portos portugueses a uma nova era de digitalização das redes multimodais. Uma era assente em conceitos de última geração como as extended gateways e a sincromodalidade, instrumentos e práticas que irão sem dúvida trazer novos desafios, mas acima de tudo, novas oportunidades.

É esta a visão que o Ministério do Mar está a colocar em prática, através da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) e da Associação dos Portos de Portugal (APP). O culminar desta nova realidade será possível com a evolução da Janela Única Portuária (JUP) para a Janela Única Logística (JUL), projeto que se encontra em curso.

O ponto de partida para o desenvolvimento da JUL passa por uma proposta de integração de ferramentas digitais nos portos nacionais, tendo em vista quatro objetivos estratégicos:

1. Eficiência e colaboração nas redes logísticas

A JUL deverá assumir-se como a estrutura base para a sustentação e desenvolvimento de redes logísticas de alta performance. Num modelo assente na sincromodalidade, serão estabelecidos processos sincronizados entre os vários intervenientes na rede, com visibilidade total sobre as operações e também integrações flexíveis (tanto ao nível do negócio como no relacionamento com as autoridades). O que se pretende é que “todos os atores da rede, incluindo as autoridades, partilhem informação em tempo real e alinhem os seus processos para garantir o maior nível de sincronização possível entre planeamento e gestão da execução dos serviços multimodais”.

A JUL deverá ainda disponibilizar mecanismos para implementar colaborações estratégicas com portos conectados noutros países e regiões, bem como plataformas relevantes de valor acrescentado (como marketplaces de transportes).

2. Operações inteligentes

Através da automatização digital, a JUL deverá contribuir de forma decisiva para a agilização dos processos operacionais dos portos, promovendo uma comunicação e colaboração mais eficaz entre donos da carga, empresas de transporte marítimo e operadores portuários. A inovação dos modelos de negócio e a partilha integrada de informação irão permitir uma cadeia de valor logística mais interligada, mais interativa e mais transparente.

3. Foco na experiência do utilizador e na visibilidade da rede

Espera-se que a JUL venha assegurar uma ótima experiência de utilização por parte de todos aqueles que participem na cadeia logística. Conseguirá isso através da oferta de serviços adequados e de confiança, que fortaleçam a relação entre os demais intervenientes. A JUL ajudará ainda a estabelecer uma rede de colaboração que permitirá aos portos, às empresas de transporte marítimo, às empresas de logística e aos carregadores (entre outros), obter visibilidade em tempo real de todas as operações.

4. Espírito inovador

A JUL deverá promover um verdadeiro ambiente de inovação em toda a cadeia de valor logística, através de uma mais coesa colaboração entre os vários elementos na rede. E terá ainda a responsabilidade de colocar em prática mecanismos disruptivos para responder aos novos desafios estratégicos, operacionais e culturais, bem como para o desenvolvimento de portos ecológicos e sustentáveis.

Apresentação do projecto JUL

Durante os recentes eventos internacionais organizados pelo Ministério do Mar (Portugal Shipping Week, Oceans Meeting, Biomarine Business Convention), o projeto JUL foi apresentado e despertou o interesse dos visitantes oriundos de diferentes partes do globo.

O fator mais destacado pelos visitantes foi a existência em Portugal de fortes competências para as tecnologias no setor marítimo-portuário e logístico, considerando o nosso país como uma referência a seguir e com um posicionamento privilegiado para a exportação de tecnologia nacional, que poderá assim ser replicada noutros países.

O Secretário-geral da International Maritime Organization (IMO) enalteceu o elevado nível de harmonização de procedimentos e de informatização dos portos portugueses e demonstrou elevada satisfação por Portugal estar a trabalhar para uma plena integração do shipping com os restantes meios de transporte terrestres. Mais afirmou que esse é um desafio endereçado pela própria IMO para ser discutido no comité de facilitação, convidando Portugal a ter uma participação mais ativa nas futuras reuniões, bem como a realização de uma apresentação do projeto JUL em Londres.

Vários elementos das delegações de diferentes países demonstraram muito interesse nas soluções tecnológicas de Portugal, não só ao nível dos sistemas relativos às operações nos portos, mas também ao nível do envio e tratamento da informação aos organismos do estado para o rápido desembaraço de navios e mercadorias.

O conceito de “Single Window” para efeito de atos únicos declarativos ao Estado é uma preocupação transversal a muitos países. A prática continua a mostrar que em muitos portos as autoridades continuam a solicitar atos declarativos individuais para cada uma, muitas vezes ainda em suporte de papel e com requisitos que variam de porto para porto.

Em Portugal, constataram a existência de uma solução robusta e testada para as escalas de navios (Janela Única Portuária), sendo uma boa prática que agora está a ser alargada para a rodo e ferrovia no hinterland e para a ligação às linhas de shipping e outros portos no foreland.