A coligação no Governo na Guiné-Bissau acusou hoje o batalhão do Palácio Presidencial de estar a fazer um uso “desproporcional e despropositado” da força após confrontos com a Guarda Nacional relacionados com a detenção de dois membros do executivo.
Em declarações à agência Lusa a partir de Bissau, uma fonte da Coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) – Terra Ranka, que pediu para não ser identificada, considerou que a troca de tiros que ocorreu esta madrugada e hoje de manhã em Bissau é “um golpe de força da Presidência da República contra a Guarda Nacional que simplesmente havia protegido a vida de dois membros do governo”.
“Nada justifica tal uso da força e este nível de violência indiscriminada”, acrescentou a mesma fonte, pedindo à comunidade internacional que exija uma intervenção da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental CEDEAO), que tem no país uma força desde a tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2022.
A fonte considerou que “está claramente a acontecer um uso desproporcional e despropositado de força, que deve ser travado”, referindo que uma intervenção da CEDEAO seria importante para “pôr cobro a essa situação para o esclarecimento político e normal funcionamento das instituições”.
Questionada sobre se o atual confronto pode evoluir para um conflito mais grave, a fonte da coligação considerou que “se não se parar a atual ofensiva, será esse o risco”.
Tiros de armas ligeiras e pesadas voltaram a ser ouvidos em Bissau desde as 07:00 desta manhã (mesma hora em Lisboa), depois de ao início da madrugada a capital da Guiné-Bissau ter sido surpreendida por disparos.
Fontes militares afirmam à Lusa tratar-se de confrontações entre elementos da Guarda Nacional e forças do Batalhão do Palácio presidencial.
Os tiros acontecem na sequência de tensões vividas durante toda a noite de quinta-feira, depois de o Ministério Público ter decretado a prisão preventiva do ministro das Finanças, Sulemaine Seide, e do secretário de Estado do tesouro, António Monteiro.
Os governantes estão a ser investigados no âmbito de um pagamento de seis mil milhões de francos CFA (cerca de 10 milhões de dólares) a 11 empresários, através de um crédito a um banco comercial de Bissau.
Os dois membros do Governo foram levados para a sede da Polícia Judiciária, de onde terão sido retirados das celas por elementos da Guarda Nacional, segundo indicaram à Lusa várias testemunhas.
Entretanto, o comandante da Guarda Nacional da Guiné-Bissau e mais alguns elementos da corporação foram detidos e conduzidos para as instalações do Estado Maior-General das Forças armadas na Amura, em Bissau, avançaram à Lusa fontes militares.
De acordo com as fontes, o coronel Vítor Tchongo “e mais alguns soldados” da Guarda Nacional foram detidos por elementos da Polícia Militar, depois dos confrontos.
Os confrontos ocorreram numa altura em que o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Biague Na Ntan, se encontra fora do país.
Também o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, se encontra fora do país, estando no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para participar na Conferência das Nações Unidas para Alterações Climáticas (COP28).
A Lusa tentou falar com o chefe de Estado sobre a situação no país, mas sem sucesso.
Suleimane Seidi e António Monteiro são dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que lidera a coligação PAI -Terra Ranka, no Governo, juntamente com o Partido da Renovação Social (PRS), Partido dos Trabalhadores da Guiné (PTG) e mais cinco pequenas formações políticas.
O Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15), partido que apoia o presidente da República, e a Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU – PDGB) são os únicos da oposição no parlamento.
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