Os trabalhadores de JN, DN, TSF e O Jogo disseram hoje, no parlamento, não compreender o que se passa no grupo Global Media e pediram intervenção dos poderes públicos, desde logo dos reguladores ERC e Banco de Portugal.
Membros dos Conselhos de Redação (CR) e Comissão de Trabalhadores (CT) de Jornal de Notícias (JN), Diário de Notícias, O Jogo e TSF foram hoje ouvidos na Comissão de Cultura, Comunicação Juventude e Desporto, após requerimentos do PCP e do BE, isto quando o grupo Global Media (controlado pelo World Opportunity Fund) está a promover a saída de 150 a 200 trabalhadores (a maioria no JN e na TSF). Em entrevista ao Eco, o presidente executivo, José Paulo Fafe, disse que sem a saída de centenas de funcionários o “grupo morre”.
O membro do CR do JN Augusto Correia disse que o jornal feito sobretudo a Norte é “a voz de milhares de portugueses” que ficará “calada” com os despedimentos e que já há gente silenciada pois muitos correspondentes, pagos à peça, “não conseguem ir trabalhar porque ainda não receberam e não têm dinheiro para a gasolina do carro”.
Augusto Correia pediu aos deputados ajuda “a salvar este grupo”, lembrando que “o jornalismo presta um serviço muito importante à sociedade”, permitindo que “o cidadão comum tenha acesso a direitos fundamentais, à informação e à liberdade de expressão”.
Para a jornalista da TSF e membro do CR Judith Menezes e Sousa, o que se passa “é uma farsa absurda” e questionou como pode um “fundo sem rosto entrar de rompante no meio, sitiar um grupo”, sem que se compreenda o que pretende “além de uma sistemática e perversa situação de esvaziamento das redações”. Pediu intervenção dos poderes públicos para que haja “escrutínio do que está por detrás deste fundo”.
O membro da CT da TSF Filipe Santa-Bárbara defendeu que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) tem de ser “mais presente, mais forte nos seus pronunciamentos, no seu trabalho enquanto regulador”.
Sobre o fundo, disse que nada se sabe mas parece ser “uma entidade corpórea”, pois “fica zangado, não gosta, tem receio, está a pensar ir embora…”.
O jornalista explicou ainda aos deputados que, perante eles, estava metade da equipa de política da rádio, questionando como podem apenas quatro pessas fazer parlamento, Governo, Presidente da República e partidos e como será fazer uma campaha eleitoral com o corte anunciado de 30 pessoas.
“A TSF está em vias de extinção, não é um ‘soundbite’, é o que está a acontecer”, vincou.
Os jornalistas elencaram situações que denotam o grave estado da TSF: deixou de ter acesso à France Presse, não tem jornalista para as madrugadas da época do Natal (ainda antes do despedimento) e há trabalhadores sem dinheiro sequer para comprar o passe.
Ambos os jornalistas da TSF concordaram que urge falar do financiamento da comunicação social. Para Santa-Bárbara, os partidos políticos devem ter “pensamento político e um debate sério” sobre o tema, ainda que, afirmou Judith Menezes e Sousa, esse seja um “debate incómodo e com muitas divergências”.
“No dia em que os jornais convencionais morrerem, as pessoas passarão a consumir informação ainda mais através das redes sociais. Quem consome informação só através desses canais não tem preocupações democráticas”, disse, por seu lado, o membro do Conselho de Redação do Diário de Notícias João Pedro Henriques, que defendeu que os próximos programas eleitorais dos partidos não podem ficar à margem destes temas.
O jornalista defendeu ainda uma espécie de lei do mecenato cívico que dê benefícios a quem investe na comunicação social, pois – afirmou – em Portugal é muito difícil um jornal dar lucro.
Sobre a reestruturação do grupo, João Pedro Henriques disse não compreender “o racional” e que há poderes públicos que devem intervir, questionando se não cabe ao Banco de Portugal perceber quem é o fundo financeiro e a origem do dinheiro para daí se perceber quem está por detrás e o que pretende.
Pelo O Jogo, Ana Luísa Magalhães (do CR) afirmou que há hoje apenas dois jornais nacionais sediados no Porto, o JN e O Jogo, e que estão ambos em risco. Defendeu que o Estado devia ter meios legais para evitar que “qualquer um entre num grupo de comunicação e o vire do avesso”.
Sobre a falta de pagamento aos trabalhadores, nomeadamente a quem trabalha à peça, disse que as pessoas estão muito zangadas, mas também com a “falta de respeito da administração, a falta de empatia” e que, ao mesmo tempo que despede centenas, abriu uma vaga de especialista em marketing e comunicação.
Na audição foi ainda abordada a Lusa. O Estado esteve para comprar a posição da Global Media e da Páginas Civilizadas (ambas detidas pelo World Opportunity Fund) na agência de notícias mas o negócio não foi avante por “falta de compromisso político alargado”, disse o Governo.
Em resposta a perguntas de deputados, Ana Luísa Magalhães, de O Jogo, considerou “normal que o Estado tenha querido adiar a resolução deste problema [da Lusa]” para a próxima legislatura pois poderia “ficar com o ónus de estar a financiar o despedimento coletivo” na Global Media.
Filipe Santa-Bárbara, da TSF, disse que há várias dúvidas que ficam desse negócio não concretizado, nomeadamente “o facto de a nova administração da Global Media já contar com esse negócio e sabendo-se que esse negócio foi iniciado ainda por Marco Galinha”.
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