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Global Media: o que se passa com o “dono” do DN, JN e TSF?

O grupo de comunicação social está viver um mês de dezembro repleto de problemas, que vão desde os planos de despedimento coletivo ao alerta do Governo sobre a possibilidade de uma situação de insolvência. Os problemas financeiros estão na base de tudo, mas o que está em causa?
29 Dezembro 2023, 17h30

O Global Media Group (GMG) vive uma situação de profundas dificuldades, com salários em atraso e demissões em bloco, de tal forma que, esta quinta-feira, foi o próprio Governo a reagir às informações que são públicas, apontando para a possibilidade de o próprio grupo acionar os “mecanismos” que dão acesso ao Fundo de Garantia Salarial. Isto depois de o Estado ter recuado na intenção de comprar a participação do grupo Global Media na Lusa, em face da falta de acordo entre o Governo e o PSD.

Em simultâneo, surgem questões sobre o investidor que entrou recentemente na Global Media, na medida em que se trata de um fundo sediado nas Bahamas do qual pouco se sabe. Mas, acima de tudo, colocam-se questões sobre os trabalhadores e acerca da defesa da pluralidade de informação já que o grupo é detentor de meios como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, TSF e o jornal O Jogo.

O que fez disparar os alarmes e como se desenrolou toda a situação?

O “inesperado recuo”, como lhe chamou a empresa, do Estado no negócio que resultaria na aquisição da participação na Lusa que é detida pelo Global Media Group, foi um revés nos planos da administração, conhecido no dia 1 de dezembro. Menos de uma semana tinha passado quando, no dia 6, foram conhecidos os planos do grupo para despedir 150 a 200 trabalhadores dos seus meios de comunicação social, com o propósito de evitar “a mais do que previsível falência do grupo”. O anúncio foi feito num comunicado interno, que rapidamente se espalhou pela comunicação social.

A administração do GMG fez saber ainda que, os “constrangimentos financeiros criados pela anulação do negócio da Lusa”, geraram uma situação em que “o pagamento do subsídio de Natal referente ao ano de 2023 só poderá ser efetuado através de duodécimos, acrescido nos vencimentos de janeiro a dezembro do próximo ano”.

À data, qual é o ponto de situação do grupo?

A situação despoletou enorme instabilidade. À cabeça, surgiram as demissões das direções do Jornal de Notícias (JN), TSF, O Jogo e do Dinheiro Vivo (DV). Em reação a esta sucessão de acontecimentos, a administração do grupo sublinhou que “compreende” as decisões tomadas, em face da dimensão e exigência do “indispensável processo de reestruturação em curso”, reconhecendo naturalidade na posição das direções em causa pelo facto de se sentirem “sem condições para se manterem”, de acordo com declarações à Lusa de fonte oficial, no dia 15 de dezembro.

Neste contexto, a Global Media informou em comunicado, esta quinta-feira, que não vai pagar salários de dezembro em tempo útil. Recordou que a situação financeira do grupo é “extremamente grave” e reconheceu as dificuldades em antever o futuro. “Neste momento, a Comissão Executiva não pode adiantar nem se comprometer com qualquer data para o pagamento dos salários de dezembro, podendo unicamente garantir estar a fazer todos os esforços para que o atraso desse pagamento seja o menor possível”, pode ler-se no documento.

Os acionistas já reagiram à polémica?

Os acionistas do Global Media Group, Marco Galinha, Kevin Ho, José Pedro Soeiro e Mendes Ferreira, deixaram clara a “grande preocupação” face a toda a situação de problemas financeiros.

Num comunicado emitido esta sexta-feira, sublinharam que em causa está um contexto de “manifesto incumprimento” da parte do investidor World Opportunity Fund, Ltd. relativamente a “obrigações relevantes dos contratos, que, ao não ter ocorrido, teria permitido o pagamento dos salários e o cumprimento de outras responsabilidades da empresa”.

O Governo já reagiu, assim como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Que posições apresentaram?

O Governo reagiu através de um comunicado divulgado na última quinta-feira onde alertou para a possibilidade de, “no limite”, a Global Media “desencadear os mecanismos necessários para que o Fundo de Garantia Salarial seja acionado”. Para que tal aconteça, é necessário que seja proferida sentença de declaração de insolvência do empregador, pode ler-se no site da Segurança Social.

De resto, o executivo reconheceu “a maior das perplexidades” relativamente à situação vivida pelo GMG, mas reiterou que, “após a entrada de um novo acionista num grupo (…), não é crível” o cenário de que os investidores, não teriam conhecimento das “circunstâncias financeiras do grupo em que decidiram investir”, segundo a informação patente no documento.

Já na sexta-feira, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) informou que procedeu, junto da Global Media, ao pedido de informações a propósito do cumprimento de obrigações de transparência e titularidade. Em causa está a intenção de esclarecer dúvidas relativas à propriedade e responsabilidade pelo controlo deste grupo de comunicação social.

De resto trata-se de um pedido que vem reforçar uma solicitação que foi veiculada no mesmo sentido em audição da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República, no passado dia 21.

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