“Raro é o dia, desde que iniciámos funções há três meses e meio, que não somos surpreendidos por factos, negócios ou procedimentos que denotam a forma leviana e pouco transparente, como este grupo foi gerido ao longo destes últimos anos”. Foi com uma acusação à gestão passada do Global Media Group (GMG) que José Paulo Fafe, presidente da Comissão Executiva do grupo de comunicação social, deu início a uma audição que esteve para não acontecer.
O administrador do grupo que detém o DN, o JN, entre outros títulos, aproveitou os minutos iniciais da intervenção para justificar o recuo na decisão inicial de não prestar declarações aos deputados, acusando o BE, responsável pela audição, de “aproveitamento político da situação difícil” que o grupo atravessa. “Queria deixar bem claro que continuo a pensar exatamente o mesmo sobre as motivações que levaram o BE” a requerer a audição, levantando “profundas reservas de quem pretenda forçar um grupo privado a prestar contas”.
Em resposta, Joana Mortágua sublinhou as responsabilidades de esclarecimento e a necessidade de “apurar responsabilidades” perante um “grande grupo de comunicação social em vias de ser destruído”.
“Ser responsável por grupos de media acarreta grandes responsabilidades e, naturalmente, também alguns benefícios. Uma das responsabilidades tem a ver com a prestação de contas, inclusive pelas obrigações legais de transparência que os grupos de comunicação social estão obrigados, independentemente das obrigações gerais de esclarecimento que qualquer deve perante o Parlamento”, atirou, antes de passar a um rol de quase três dezenas de questões.
“Quem me conhece, sabe bem a angústia em que vivo desde final do mês passado, eu e comissão, que nos deparámos com a impossibilidade de processar os salários do mês de novembro e antes o pagamento do subsídio de Natal”, afirmou.
Do grupo parlamentar do BE para o do PSD, João Prata questionou José Paulo Fafe sobre a responsabilidade na perda de valor da marca. Domingos Andrade, antigo diretor da TSF, foi um dos visados na resposta.
“Se alguém desvalorizou o Diário de Notícias, e não estou aqui a dizer que foi de uma forma premeditada, foi quem contribuiu para que o DN, entre 2019 e 2023, tivesse uma descida de 31 mil exemplares para 14.926”, contrapôs, levando à audiência um gráfico com números sobre a quebra de vendas em banca.
Passando ao Jornal de Notícias, líder na informação digital, como o próprio aponta, o jornal diário registou “uma queda na ordem dos oito mil exemplares” nesse mesmo período, continuou. “O JN vende uma média de 14 mil exemplares”, revelou, divulgando números das vendas nos vários distritos e, também, dos quadros do jornal – 90 jornalistas e 70 colaboradores.
O presidente executivo da Global Media, José Paulo Fafe, acusou hoje o ex-diretor da TSF Domingos Andrade de ser “um dos grandes responsáveis pela queda” do Jornal de Notícias (JN).
“O Sr. Domingos Andrade é um dos grandes responsáveis pela queda de vendas do JN. Houve uma estratégia editorial para o JN, a meu ver, errada, quando se quis transformar um jornal com um ADN profundamente regional num jornal de referência nacional. Com algum deslumbre. E o resultado está à vista”, considerou.
João Prata pediu ainda ao deputado social-democrata que esclarecesse as afirmações feitas no início da audição sobre a anterior gestão do GMG.
José Paulo Fafe falava na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, numa audição no âmbito do requerimento do Bloco Esquerda (BE) sobre a situação na Global Media Group (GMG).
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