Em termos de proporção da população, Portugal é o oitavo país do mundo com maior incidência de emigração, com 30% dos nascidos, entre os 15 e os 39 anos, fora do país. Ao mesmo tempo que se verifica esta sangria, vamos importando números avassaladores de imigrantes. Emigram os portugueses, jovens e mais qualificados, e chegam de outras geografias jovens pouco qualificados para os sectores de baixo valor acrescentado.
Sectores que se caracterizam pela precariedade e informalidade, nos quais a economia portuguesa se especializou nas últimas duas décadas, como é o caso da agricultura de regadio, o alojamento local, a hotelaria ou a restauração.
Escusam de me tentar persuadir que serão estes sectores, com o seu emprego de baixos salários, a salvar o nosso sistema de repartição nas reformas. Não é verdade.
O que assegura o futuro de um país é o emprego qualificado e a recusa de um modelo de especialização económica em que a acumulação de capital e de empregos qualificados não se faz no país dos trabalhadores, mas sim no dos detentores do capital.
Portugal tem de apostar num outro modelo económico, como me parece evidente, ainda que não pareça evidente a todos.
Precisamos de atrair investimentos industriais e de serviços qualificados, de empresas que desenvolvam produtos para concorrerem nos mercados internacionais de clientes finais.
Necessitamos de mais investimentos como a Autoeuropa e não apenas de mera extração de lítio ou de miríficos data centers que deveriam cobrir de ridículo quem os tenta promover.
Precisamos de reforçar a contratação coletiva, dificultando as portarias de extensão e as denúncias unilaterais, como medida mais relevante de elevação dos salários médios.
Necessitamos de baixar os impostos sobre quem trabalha e de caminhar com celeridade para uma realidade em que os impostos sobre lucros, rendas, e demais origens em capital, tenham tributação similar à que incide sobre o trabalho.
Precisamos de encontrar os mecanismos para que empresas sediadas no estrangeiro não venham contratar em Portugal com ofertas para fora do nosso país. É cruel que dezenas de milhares de recém-licenciados e mestres, em áreas como a saúde, tecnologias, engenharias e matemáticas, emigrem quando muitas destas posições de trabalho poderiam ser desempenhadas em Portugal, prestando serviço para fora.
Precisamos de desenhar um pacote legislativo e um conjunto de incentivos para que empresas e jovens queiram criar emprego e riqueza em Portugal.
É isto que está em causa nas próximas eleições, ganhe quem ganhar. O resto é espuma.