O Antropoceno, termo cunhado pelo químico Paul Crutzen, em 2000, remete para a era geológica marcada pelo impacto humano na Terra. Ora, a incessante procura pelo progresso tem conduzido à exploração desenfreada dos recursos naturais, resultando numa expansão descontrolada da urbanização do território. Somos parte do problema!
Crutzen alerta, também, para os riscos iminentes de eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade e mudanças climáticas, destacando a urgência de uma mudança de paradigma.
Cada vez mais conscientes de que as nossas ações moldam o ambiente global, enfrentamos o desafio de redefinir a nossa relação com o planeta e de assumir a responsabilidade pelo futuro do nosso habitat. E, diante deste cenário, a discussão sobre o Antropoceno torna-se crucial, especialmente ao abordar as relações entre humanos, natureza, tempo e avanço tecnológico.
Iniciativas como a exposição ‘Eco-Visionários: Arte, Arquitetura após o Antropoceno’, com curadoria de Mariana Pestana, em 2018, proporcionam uma plataforma para visões críticas e criativas diante das mudanças climáticas e a relação entre humanos e natureza. Esta reuniu mais de 35 artistas e arquitetos, com propostas inovadoras e provocativas, lançando a urgência de repensar as práticas humanas e a necessidade de adotar abordagens mais conscientes em relação ao meio ambiente. Em 2024, na 7.ª edição do Madrid Design Festival, através do designer Ben Reason, o papel do design no Antropoceno volta a ser tema de reflexão.
Ambas destacam a importância de abordar o papel do design, arquitetura e urbanismo neste contexto. A proposta de considerar entidades não humanas como ponto central no processo de desenho de soluções para as cidades é particularmente motivadora, questionando se as necessidades humanas devem ser o único foco. Esta abordagem surge no âmbito de uma mudança de paradigma, incentivando soluções que beneficiem não apenas os humanos, mas também a natureza e outras formas de vida com as quais coabitamos o planeta Terra.
A ideia de soluções construídas centradas em baleias, algas ou florestas, como exemplificado pelo teto florido numa paragem de autocarro para abelhas e outros insetos, ilustra de forma clara como as práticas de projeto podem ser adaptadas para coexistir harmoniosamente com o meio ambiente.
A menção à implementação de perspetivas multi-espécies, o grande ecossistema e a consideração do futuro do design não centrado nos humanos, juntamente com o uso de tecnologias como veículos de aproximação, destaca o potencial para uma abordagem mais holística e integrada.
A oportunidade de envolver a natureza no processo criativo e construtivo abre portas para soluções inovadoras e sustentáveis, contribuindo para a construção de um futuro mais equilibrado e harmonioso no Antropoceno.