Depois de tantos debates, de tantas ações de campanha, de todo o tempo ocupado pelas análises de uma multidão de comentadores profissionais, estarão os portugueses esclarecidos sobre as soluções que os candidatos apresentam para os problemas que condicionam o futuro do nosso país?

A julgar pelo que nos dizem as sondagens, à medida que a campanha avança, o número de indecisos – mais elevado do que em anteriores eleições – não para de aumentar. Será porque se sentem desiludidos pelos partidos em quem antes confiavam? Será porque não encontram, em nenhuma força política, um projeto de mudança coerente e credível no qual se revejam?

Em todo o caso, penso que o debate de ideias a que temos assistido se tem mostrado pobre, primando pela abundância de promessas – a começar pelo omnipresente, mas inconsistente apelo a melhores salários – mas pela escassez de propostas concretas capazes de convencer e mobilizar o eleitorado.

Em particular, noto a ausência de temas cuja relevância me parece óbvia, mas que permanecem arredados da discussão.

A ausência que me deixa mais perplexo é a da discussão sobre a reforma da Justiça, consensualmente tida como uma das mais importantes de que Portugal carece. Em primeiro lugar, porque a falta de confiança dos cidadãos na Justiça põe em causa o próprio regime democrático. Em segundo lugar, pelo impacto que a melhoria da eficiência do sistema judicial proporcionaria para o regular funcionamento das empresas e para as suas decisões de investimento.

E o que dizer do debate em torno da educação, onde parece que a única questão que importa é a da recuperação do tempo de serviço para efeitos progressão na carreira docente?

Onde está a reflexão sobre o sistema eleitoral, praticamente inalterado desde a Constituição de 1976? Será que, passados quase 50 anos, continua adequado, nas suas dimensões de proporcionalidade, governabilidade e qualidade da representação? Será que contribui para aproximar os portugueses da política e dos políticos ou, pelo contrário, favorece a abstenção?

Também os assuntos internacionais parecem ausentes das prioridades dos candidatos às eleições. O que pensam os políticos portugueses dos riscos geopolíticos e dos seus efeitos no nosso futuro coletivo? Quais as suas opções para a política externa e de defesa? Quais os seus desígnios para o futuro da Europa?

Já basta de leilões de promessas eleitorais. Nestes, como noutros temas, gostaria de ser confrontado com propostas concretas para um futuro diferente.