“Michael Fernandes debruça-se sobre a varanda do seu restaurante de madeira sonhando com viagens até Lisboa. Tudo parece estar certo e no seu lugar.” O lugar é Lisboa, o espaço é ali mesmo à entrada do Bairro Alto, a madeira está lá – nas paredes, nas cadeiras, nas molduras que acarinham fotografias. Não seguimos Michael Fernandes até Lisboa, mas até poderíamos fazê-lo se ele fosse o alter ego de Afonso Melo, dono do restaurante Laranja Tigre e um visitante regular desse território de encontros e influências gastronómicas que é Goa, e que furtou a um livro seu, “Uma Sombra Laranja-Tigre”, o nome para este apetecível cantinho.
Afonso Melo, habitué do anterior avatar do nº 17 da rua do Norte, o Calcutá, quando o então proprietário o abordou para ficar com o restaurante – quem sabe pensando nos muitos serões, e não só, que aí passou em amena tertúlia ou furiosa escrita –, nem pestanejou e desafiou o amigo Ricardo Regal, sócio do restaurante Boi-Cavalo, em Lisboa, para se juntar a ele nesta missão. Logo depois, entrou em cena o chef Hugo Brito, também do Boi-Cavalo, para criar a carta do novo Laranja Tigre.
Este trio sem raízes goesas não tem família a quem ‘roubar’ receitas, mas isso não quer dizer que não tenha feito o “TPC”. Longe disso. Esta é comida que pede partilha e que tem como inspiração o receituário goês, mas que não se coíbe de dar largas à sua magia criativa. E sem a loucura picante dos pratos originais, ou correríamos o risco de levantar voo após uma garfada de vindalho.
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