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Turquia: inflação atinge 68,5% mas parece estar a ser dominada

O mês de março indica uma descida da inflação em relação ao mês anterior, tal como já tinha sucedido em fevereiro. Mas o combate ao crescimento dos preços está a deixar o presidente Erdogan em dificuldade.
Recep Tayyip Erdogan
3 Abril 2024, 12h08

A taxa de inflação anual da Turquia subiu para 68,5% em março, segundo dados conhecidos esta quarta-feira, o que, segundo alguns analistas, pode explicar uma parte dos maus resultados do partido de Recep Erdogan nas eleições municipais do passado fim-de-semana.

Mas uma análise mais final do desenvolvimento do processo inflacionista pode indicar pistas contrárias: de facto, o aumento mensal foi de 3,16%, aliviando em relação aos 4,53% e aos 6,7% que se registaram nos dois meses anteriores.

Os dados de preços ao consumidor ficaram um pouco abaixo das expectativas, com a inflação anual provavelmente a subir até meados do ano. A taxa anual esperada está nos 69,1% em março e a mensal em 3,5%, segundo uma pesquisa da agência Reuters.

A inflação anual – que tem subido bem acima da meta de 5% há anos na Turquia, em grande parte devido às políticas monetárias heterodoxas de Erdogan – deverá cair para cerca de 44% (ainda segundo a agência) no final do ano, acima da previsão do banco central de 36%.

O AKP, de Erdogan, foi derrotado em diversas localidades e em várias províncias nas eleições do passado fim-de-semana e não conseguiu recuperar a posse política das três principais cidades, Ancara, Istambul e Esmirna. Mas estas três cidades já não estava na sua posse, tendo sido perdidas pelo AKP nas eleições anteriores. Ora, dessas eleições para cá, Erdogan conseguiu novas vitórias – onde avulta uma reeleição para o cargo da presidência. Uma reeleição, ainda por cima, com poderes reforçados para a figura da presidência. Neste quadro, os analistas mais moderados não conseguem ver nos resultados de domingo qualquer evidência de que a ‘era Erdogan’ este propriamente a aproximar-se do fim.

“Sabíamos que esta eleição seria mais difícil que outras porque estamos a aplicar uma política fiscal muito rígida que pode ter um sabor amargo no imediato, mas sabemos que ajudará no futuro”, disse Harun Armagan, membro do conselho de decisão central do AKP e vice-presidente de relações exteriores, citado por vários jornais.

O banco central lançou um ciclo agressivo de aperto monetário em junho, revertendo a política de juros baixos supervisionada por Erdogan durante anos – e contrária àquilo que foram as opções da esmagadora maioria dos países. Os resultados em manter o dinheiro ‘barato’ não foram os esperados: os investimentos não dispararam e as exportações não conseguiram a alavanca que o presidente esperava.

No mês passado, o banco surpreendeu os analistas ao ir em sentido contrário, elevando as taxas de juros em mais 500 pontos-base, para 50%, devido ao que chamou de deterioração das perspetivas de inflação.

Erdogan, falando numa reunião do AKP na terça-feira, reconheceu que a alta inflação estava a ter um grande impacto no comportamento dos eleitores. “Particularmente os reformados sofreram uma perda de bem-estar, e os esforços para aliviar essas dificuldades ficaram aquém”, disse Erdogan.

Os dados de inflação de preços ao consumidor (CPI) de março mostraram as maiores altas mensais se deram na educação (13,1%), e nas comunicações (5,65%). Alimentação e bebidas não alcoólicas, habitação e restaurantes também impulsionaram a inflação.

Logo após a divulgação dos dados, o ministro das Finanças, Mehmet Simsek, disse que o recente aperto monetário e fiscal ajudaria a ancorar as expectativas de uma descida da inflação. “Faremos o que for necessário até atingirmos a nossa meta de estabilidade de preços, que é a nossa principal prioridade”, disse.

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