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DBRS defende que descida dos juros pelo BCE não terá impacto imediato na qualidade do crédito dos bancos

Embora os cortes nas taxas possam ser positivos para os clientes (mutuários) no médio prazo, “não esperamos que os primeiros cortes nas taxas tenham um impacto positivo significativo na qualidade dos activos imediatamente”, refere a DBRS Morninstar que espera ainda alguma deterioração do Custo do Risco no médio prazo.
10 Junho 2024, 11h10

A DBRS divulgou um comentário analisando o custo do risco dos bancos europeus no primeiro trimestre de 2024. É a primeira análise depois do anúncio do BCE de 6 de junho de 2024.

O Banco Central Europeu anunciou uma redução de 25 pontos base (bps) na sua taxa de juro, o primeiro corte desde que as taxas começaram a subir em julho de 2022. O Banco de Inglaterra também apontou para a possibilidade de cortes nas taxas mais cedo e não mais tarde, enquanto os cortes nas taxas da Reserva Federal dos EUA só são esperados depois do Verão.

Embora os cortes nas taxas possam ser positivos para os clientes (mutuários) no médio prazo, “não esperamos que os primeiros cortes nas taxas tenham um impacto positivo significativo na qualidade dos activos imediatamente”, refere a DBRS Morninstar.

“Espera-se ainda alguma deterioração no médio prazo. Os desafios permanecem para os bancos europeus, incluindo riscos geopolíticos elevados, algumas pressões inflacionistas remanescentes e fraco desempenho económico, bem como desafios no mercado imobiliário, especialmente no imobiliário comercial. Isto poderá eventualmente traduzir-se num CoR mais elevado para os bancos europeus, especialmente para aqueles que registaram aumentos constantes desde o exercício financeiro de 2022”, conclui a agência de rating canadiana numa nota assinada por Maria Rivas, Senior Vice President & Sector Lead, European Financial Institution Ratings da Morningstar DBRS.

“O custo do risco (CoR) dos bancos europeus manteve-se estável no primeiro trimestre de 2024 em comparação com o ano de 2023 e com o primeiro trimestre de 2023, e a maioria dos bancos reportou níveis semelhantes ou melhores de CoR. No entanto, alguns bancos continuaram a comunicar um aumento constante dos níveis do CoR no primeiro trimestre de 2024, seguindo a tendência observada no exercício financeiro de 2023, embora na maioria dos casos a deterioração não tenha sido material e ainda esteja abaixo dos níveis do exercício financeiro de 2019”, revela a agência de rating.

O custo do risco de crédito corresponde ao fluxo das imparidades para crédito em percentagem do total do crédito bruto concedido a clientes.

Este comentário centra-se no Custo do Risco de Crédito de uma amostra de bancos na Europa no primeiro trimestre de 2024, incluindo bancos na Áustria, França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Suécia, Noruega, Portugal, Dinamarca, Finlândia, Bélgica, Reino Unido e Grécia. A DBRS não incluiu os bancos gregos na amostra de 32 bancos uma vez que os seus níveis do CoR são muito superiores à média da amostra.

A DBRS detalha que o CoR médio da amostra de bancos europeus foi de 30 pontos base (0,30%) no primeiro trimestre de 2024, em linha com os 33 pontos base (0,33%) no exercício financeiro de 2023 e com os 30 pontos base (0,30%) no primeiro trimestre de 2023. Ao mesmo tempo, a banca de seis países comunicou, em média, níveis melhorados do CoR no primeiro trimestre de 2024. Aqui estão incluídos Itália, Portugal e, em menor medida, Reino Unido, Finlândia e Suécia.

“Calculamos o CoR para este comentário com base na média simples das provisões para perdas com empréstimos como uma proporção da média total de empréstimos líquidos a clientes”, explica a DBRS.

Os bancos na Alemanha reportaram níveis estáveis ​​de CoR no primeiro trimestre de 2024, depois de apresentarem um dos maiores aumentos nos níveis de CoR no exercício de 2023, principalmente devido a provisões para riscos imobiliários comerciais (CRE).

Entretanto, os bancos em Itália continuaram a reportar melhores níveis do CoR no primeiro trimestre de 2024, em média, seguindo a tendência observada no exercício financeiro de 2023.

O CoR dos bancos italianos caiu para 33 pontos base (0,33%) no primeiro trimestre de 2024, face aos 42 pontos base (0,42%) no exercício financeiro de 2023, com todos os bancos da  amostra a reduzirem os níveis do CoR e a maior redução a ser alcançada no Sondrio e no BPER.

Os bancos em Portugal apresentaram a melhoria mais forte nos níveis do CoR desde o exercício de 2023, reportando um CoR médio de 17 pontos de base (0,17%), abaixo dos 37 pontos de base (0,37%) no exercício de 2023, embora isto se tenha devido em grande parte às libertações de provisões para crédito na Caixa Geral de Depósitos (CGD) e a uma melhoria no CoR no Montepio.

Já os bancos em Espanha continuam a ter os níveis mais elevados de CoR no primeiro  trimestre, reflectindo em grande medida a exposição internacional do BBVA e do Santander aos mercados emergentes.

No 1.º trimestre de 2024, os bancos em Espanha registaram um pequeno aumento dos níveis de CoR em relação ao exercício de 2023 e ao 1.º trimestre de 2023. No entanto, este aumento foi, em grande medida, influenciado por provisões mais elevadas no BBVA, relacionadas com um aumento do CoR no México, enquanto as restantes instituições de crédito em Espanha (da amostra) comunicaram níveis de CoR ligeiramente inferiores aos registados no exercício de 2023.

Excluindo o BBVA e o Santander, o CoR médio dos bancos espanhóis foi de 34 pontos de base no primeiro trimestre de 2024 (face a 36 pontos de base no exercício de 2023).

A DBRS conclui que na sua amostra de 31 bancos, 11 reportaram níveis de CoR mais elevados no 1.º trimestre de 2024 do que no exercício de 2023 e 18 reportaram níveis mais elevados do que no 1.º trimestre de 2023. Além disso, 15 bancos comunicaram níveis de CoR no 1.º trimestre de 2024 superiores à média da amostra de 33 pontos base e um banco comunicou libertações de provisões (CGD).

Posto isto, o CoR dos bancos europeus continua a ser baixo no 1.º trimestre de 2024, tendo apenas 11 bancos comunicado níveis de CoR mais elevados do que em 2019, sobretudo em Espanha, na Alemanha e no Reino Unido.

Os bancos portugueses incluídos na amostra são, para além da CGD, o BCP, o Banco Montepio e o Novobanco.

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