Mesmo num tempo em que teoricamente vinga a igualdade de género e, na prática, muitas de nós conquistam áreas antes dominadas pelo género masculino, como a política, continuamos, mulheres, a ser alvo de discriminações de variada ordem e até de insultos soezes por parte de alguns protagonistas políticos, tendencialmente, e sobretudo, à direita. E por vezes, essa segregação manifesta-se de forma aparentemente jocosa, onde sobressai o piropo “donjuanistico” próprio do ego inflamado de machismo – quem não se lembra de um ex-político na Câmara do Funchal prometer “dar outros prazeres” (sic) a deputadas da oposição, com a complacência e riso dos seus pares políticos? Ou ainda, o mesmo ex-político, a tecer comentários menosprezivos como “coitados dos maridos destas socialistas”? Ou mandar uma deputada ir para casa “fazer a sua parte” para incrementar a natalidade na região, pois que ele já teria feito a sua parte? Sim, tudo isto se passou em contexto de sessões públicas para debate de questões que se deviam restringir ao interesse comum dos munícipes, sem derivar para “brincadeiras” como o denominou o próprio para justificar os seus dislates machistas e misóginos. “Gosto muito de brincar”, justificava-se, o que é o mesmo que revalidar as suas afirmações pois o mal estaria nas interpretações alheias ao seu propósito. Aliás, isto de se imputar aos outros a má interpretação das suas próprias afirmações, além de um mecanismo de defesa que denota falta de humildade, é uma forma personificada de cobardia ao não se assumir o erro refletindo as “culpas” para quem foi alvo dos seus ataques, mas … que não os entendeu e menos os acatou. A psicologia, certamente explicará tal fenómeno reincidente na política destes dias…
No parlamento regional a subtileza de ataques às mulheres é de outra ordem, a marginalização faz-se sobretudo no plano ideológico e argumentativo, com apartes hostis e preconceituosos, mas com os microfones desligados, claro – mais uma vez a cobardia a sinalizar-se. À semelhança, aliás, do que se tem aprofundado no parlamento nacional com a ala mais extremista da direita que é de matriz declaradamente misógina, o que é comprovado pelo desprezo que tem relegado às mulheres quer no seu discurso (quem não se lembra de num congresso se propor que se retirassem os ovários às mulheres que recorressem à IVG no SNS?); quer na sua prática parlamentar de visão machista que coloca as mulheres numa posição subalterna e servil em relação ao homem, chegando mesmo ao insulto torpe das deputadas da oposição, sobretudo as de esquerda, aludindo até à sua intimidade sexual. Este tipo de comportamento de ódio e vileza só pode advir de alguém que legitima a violência e no caso concreto, portanto, não é de admirar que queiram acabar com os apoios às associações e instituições que apoiam e protegem as mulheres, crianças e homens vítimas de violência doméstica e que defendem a igualdade e a ideologia de género.
A política é ainda um território maioritariamente masculino (a Madeira, por exemplo, é a única região do país onde não se aplica a Lei da Paridade) e são os valores ditos “masculinos” que lamentavelmente ainda predominam, fazendo recurso reiterado da agressividade e machismo. A política no mundo é misógina. Mesmo no ocidente, mesmo no séc. XXI. São ainda gritantes as assimetrias de representatividade igualitária entre homens e mulheres na política. E esta é uma questão central da nossa realidade: a realidade social abarca homens e mulheres e a esfera pública tem de a refletir com o mesmo simbolismo e dimensão na política, em nome da sua democratização.
Somos, mulheres, de forma recorrente, alvo de violência política que se desvela pela evidência do sexismo nas corridas eleitorais, na representação parlamentar e na ocupação de cargos públicos de poder; mas também pela reemergência de movimentos e agentes políticos que se insurgem contra os direitos das mulheres- que são direitos humanos.
A esses, um repto: expliquem-nos como é que a construção social, e sociopolítica, de um país democrático, se faz sem a dinâmica feminina, afastando as mulheres dos espaços e da dimensão pública, estereotipando-as de forma torpe, preconceituosa e ofensiva?
A política, os órgãos políticos, não carecem de gente violenta, e que não fala a mesma língua da democracia e da igualdade!
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com