No rescaldo das eleições para o Parlamento Europeu, podemos sentir-nos alivados com o facto das forças políticas democráticas e pró-europeístas terem mantido uma maioria relativamente confortável, ainda que mais estreita do que a obtida em 2019.

Não podemos, contudo, fechar os olhos ao avanço do ilusório voto de protesto que alimentou forças populistas e extremistas, ameaçando o próprio projeto europeu. Não terá sido um avanço tão forte como se temia; houve mesmo recuos dessas forças nos países nórdicos e a Leste, onde a proximidade da ameaça russa mobilizou o eleitorado pró-europeu. Mas a fragilidade da Democracia e dos valores que estão na base da nossa civilização ficaram bem patentes, sobretudo nos dois países que tradicionalmente atuam como o motor que tem impulsionado a construção europeia – a França e a Alemanha.

A curto prazo, creio que as implicações dos resultados das eleições europeias serão mais marcantes ao nível do desenvolvimento da situação política nestes dois países, sobretudo em França, onde foram já convocadas eleições legislativas antecipadas cujo resultado é altamente imprevisível, mas também na Alemanha, onde a coligação governamental ficou significativamente enfraquecida.

Sem me alongar em análises políticas que não me cabe desenvolver, a grande conclusão que retiro destas eleições é a da grande responsabilidade que recai sobre aqueles que continuam a acreditar, como eu, no imperativo de dar mais força à Europa como um bloco coeso e solidário, empenhado em construir soluções comuns que respondam às aspirações de melhoria do bem-estar dos seus cidadãos. Isso implica colocar as pessoas, mais do que as ideologias, no centro da ação política.

Se as forças moderadas não forem capazes de responder a esse imperativo, deixarão aos promotores da demagogia e da irresponsabilidade o monopólio da promessa de um futuro melhor e mais próspero. De facto, são as expectativas frustradas e os sentimentos de desilusão e de medo que têm alimentado a ascensão de defensores de soluções extremistas e populistas.

O mesmo poderia dizer relativamente à situação política nacional. Ainda que, entre nós, a escolha dos eleitores tenha sido claramente favorável às forças políticas moderadas, a leitura que faço aponta para a necessidade de evitar divisionismos e situações de instabilidade e incerteza que enfraqueçam a nossa capacidade de ação para vencer as dificuldades.