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Empresas de “clipping” ganham milhões com conteúdos dos media

Apenas quatro empresas de “clipping” têm licença da Visapress, pagando uma compensação às empresas de comunicação social que produzem os conteúdos que utilizam. A líder do mercado não tem essa licença, embora fature 9,7 milhões de euros por ano.
25 Dezembro 2018, 09h00

O Presidente da República colocou na ordem do dia a crise que a comunicação social atravessa, devido aos novos hábitos de consumo na era digital e à fuga do investimento publicitário para outras plataformas. Mas ainda há quem fature milhões de euros por ano com a venda dos conteúdos produzidos pela comunicação social, como as empresas que fornecem serviços de “recorte” de notícias, o denominado “clipping”, a centenas de entidades públicas e privadas em Portugal.

Não foi possível confirmar se empresas como a Cision Portugal, a Manchete Research ou a Multicomunicação, entre outras, pagam uma compensação financeira aos produtores dos conteúdos que difundem através dos seus serviços. O certo é que as únicas empresas de clipping licenciadas pela Visapress, entidade que gere coletivamente os direitos de autor da maior parte da imprensa portuguesa, são a News Search, a Media Monitor, a Press Power e a Surprise Evolution. “Nós pagamos uma compensação através dessa licença”, afirma Vera Pereira, membro da direção da News Search.

Questionada sobre o valor dessa compensação, Vera Pereira diz que “é confidencial”. Por seu lado, a Visapress não respondeu aos contactos do Jornal Económico. Na medida em que a News Search paga uma compensação à Visapress, ao contrário de várias concorrentes, não se trata de uma situação de concorrência desleal? “Cada qual sabe de si, a única coisa que posso dizer é que a News Search tem a licença e paga uma compensação anual”, responde Vera Pereira.

A Cision Portugal é a empresa dominante no mercado de serviços de clipping em Portugal. Em 2017 registou um volume de negócios de 9,7 milhões de euros e um resultado líquido (depois de impostos) de 2,64 milhões de euros. No ano anterior, o volume de negócios da Cision Portugal foi de 9,57 milhões de euros.

O Jornal Económico contatou a direção da empresa, perguntando se paga alguma compensação aos produtores dos conteúdos e que percentagem do volume de negócios corresponde efetivamente a serviços de clipping, mas até ao fecho não obteve resposta.

 

Entidades públicas pagam milhares de euros pelo “clipping”

Entre os clientes da Cision Portugal destacam-se várias entidades públicas. Durante o ano de 2018, por exemplo, a Cision Portugal recebeu contratos por ajuste direto do Município de Braga, Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, Águas de Portugal, Tribunal de Contas, Instituto do Turismo de Portugal, Infarmed, Universidade Nova de Lisboa, Região de Turismo do Algarve, Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, Município de Viseu, entre outras.

O contrato do Tribunal de Contas, por exemplo, visou a “aquisição do serviço de recolha, tratamento e arquivo de informação noticiosa (recorte de imprensa nacional e ‘alertas’ de rádio e televisão), que tenha relação com o Tribunal de Contas e as entidades fiscalizadas por este órgão”. Preço contratual: cerca de 35 mil euros.

Quanto ao contrato por ajuste direto da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, celebrado em novembro de 2018, visou a “prestação de serviços de seleção e disponibilização eletrónica de notícias”, com um preço de cerca de 10 mil euros.

Por sua vez, a News Search teve um volume de negócios de 258 mil euros em 2017, ao passo que a Manchete Researche alcançou 149 mil euros e a Multicomunicação registou 457 mil euros (importa contudo salientar que a Multicomunicação também presta serviços de “assessoria” e “imagem”).

De acordo com vários especialistas em direitos de autor e propriedade intelectual, contatados pelo Jornal Económico, se se verifica uma exploração comercial dos conteúdos, as empresas em causa têm de pedir uma licença à sociedade de gestão coletiva, neste caso a Visapress, para poderem utilizar e divulgar os respetivos conteúdos, sob pena de estarem a violar eventuais direitos de autor.

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