O volume de investimento em imobiliário comercial em Portugal registou uma quebra de 10%, para 690 milhões de euros no primeiro semestre, em relação ao período homólogo de 2023, segundo os dados revelados no relatório “Real Estate Market Overview”, da consultora Savills, revelado esta terça-feira.
No documento, a consultora indica que com Portugal a crescer ao dobro do ritmo da zona Euro, as previsões para a segunda metade do ano são mais otimistas. Contudo, as descidas antecipadas nas taxas de juros devem trazer uma mudança na atividade de investimento. Embora os efeitos possam não ser imediatos e o volume de investimento deva ficar abaixo dos dois mil milhões de euros em 2024, a confiança dos investidores será fortalecida.
No período em análise, o investimento internacional teve um peso de 83%, com destaque para os clientes alemães, franceses e norte-americanos. “Apesar da quebra registada no primeiro semestre no mercado de investimento imobiliário comercial em Portugal, o segundo trimestre mostrou já alguns sinais positivos com um aumento de 65% em relação ao trimestre anterior”, refere Paulo Silva, head of country da Savills.
Analisando por segmentos, o mercado de escritórios em Lisboa registou, no primeiro semestre, 127.645 m2 de volume de absorção, mais do que triplicando os 37.917 m2 do período homólogo de 2023, com um total de 82 operações concluídas, o que representou um aumento de 15% face ao mesmo período do ano passado.
A zona do Parque das Nações com 50.133 m² e a nova zona de escritórios (Sete Rios/Praça de Espanha) com 28.172 m² representaram 61% do volume de absorção total, tendo o sector financeiro sido responsável por 39% das operações fechadas e as TMT´s & Utilities por 18%. No período em análise foram concluídos quatro projetos que adicionaram ao stock perto de 45 mil m2 de novos espaços de escritórios.
“Os números demonstram que Lisboa continua a ser uma escolha preferencial para muitas empresas e que o mercado de escritórios da capital, que apresenta um crescimento robusto e dinâmico, continuará a apresentar resiliência e potencial para o futuro”, afirma Frederico Leitão de Sousa, head of offices da Savills.
Já na cidade do Porto, o mercado de escritórios registou, no primeiro semestre, um volume total de absorção de 28.375 m2, um aumento de 13% em relação ao mesmo período de 2023, tendo sido verificada uma subida homóloga de 82% no total da Área Bruta Locável (ABL) ocupada por novas empresas.
Os sectores de tecnologia e media & telecom representaram 45% do volume de absorção no período em análise, um crescimento de ABL ocupada na ordem dos 75%. “Os resultados do mercado de escritórios no Porto no primeiro semestre de 2024 são muito animadores e mostram um desempenho sólido, com um crescimento no volume de absorção em comparação ao ano anterior”, salienta Graça Ribeiro Cunha, offices associate da Savills.
Olhando para o segmento de industrial & logística, os dados do primeiro semestre indicam um volume de absorção total de 430 mil m2, o que representou um crescimento de 90% face à média dos últimos três anos, com a Grande Lisboa a ter um peso de 41% no volume de absorção.
O eixo logístico Montijo-Alcochete absorveu 46% do volume total de negócios. Para os próximos dois anos, a Grande Lisboa conta com um pipeline de cerca 590 mil m², sendo que cerca de metade já tem ocupação assegurada por contratos de pré-arrendamento ou aquisições de projetos para ocupação própria.
“O mercado logístico português atravessa uma fase crucial de transformação. Com o maior pipeline de desenvolvimento dos últimos 15 anos, o setor tem atraído um volume significativo de investidores internacionais que reconhecem no mercado nacional um grande potencial de crescimento, impulsionado pela recuperação económica e pela sua localização estratégica na Europa”, sublinha Pedro Figueiras, head of I&L da Savills.
No sector do retalho, o segmento de F&B (food and beverage) foi responsável por mais de 50% do total de aberturas de retalho de rua em Lisboa e no Porto. No período em análise, a renda prime de comércio de rua em Lisboa atingiu os 140 euros/m2, representando um crescimento de 3,7% face ao valor registado em 2023, enquanto no Porto, o valor permaneceu estável nos 70 euros/m2.
“As marcas low-cost têm expandido as suas operações em Portugal, com a abertura de novas lojas que combinam valor, preço acessível e qualidade. Estas marcas têm conseguido atrair uma vasta base de consumidores que continuam sensíveis ao fator preço”, realça José Galvão, Head of Retail na Savills.
No segmento residencial, somente no mês de junho foram registadas cerca de 1,6 mil milhões de empréstimos à habitação, o montante mais baixo de 2024 do primeiro semestre do ano, ao mesmo tempo que as taxas de juro desceram pelo nono mês consecutivo, fixando-se nos 3,68%.
O volume de transações de casas desceu 0,7% em relação ao primeiro semestre de 2024, com um total de 65,206 casas vendidas no país, com a cidade do Porto a registar os preços de venda mais elevados nos primeiros seis meses do ano, com aumentos entre 7,5% e 9,4%, dependendo do tipo de oferta (nova ou usada) e do mercado alvo (classe média ou média alta).
Já na cidade de Lisboa, os preços ficaram abaixo do Porto, com os valores de venda a registarem uma subida entre 1,8% e 5,4%. No segmento de arrendamento, Lisboa observou um aumento de 5,7% no número de contratos celebrados face ao primeiro semestre de 2023, enquanto o Porto apresentou uma descida de 5,1%.
Nota ainda para o facto de que no final de junho foram negociados 72% e 61% dos imóveis residenciais em pipeline em Lisboa e no Porto, respetivamente. “A Grande Lisboa é a zona com maior percentagem de casas vendidas nestes primeiros seis meses do ano, representando 30% das transações a nível nacional, que se traduz em 19.451 unidades”, refere Miguel Lacerda, Lisbon residential director da Savills.
Por fim, o segmento do turismo verificou um volume de investimento próximo dos 250 milhões de euros, o que significou uma quebra de 9% face ao período homólogo do ano passado e 11% abaixo da média de cinco anos, com a Área Metropolitana de Lisboa a representar mais de 50% do pipeline do país até ao final de 2024.
“Mesmo com um ligeiro decréscimo no investimento imobiliário comercial observado no primeiro semestre do ano, o setor hoteleiro destacou-se ao apresentar o maior volume de investimento. Este dado confirma o dinamismo contínuo deste segmento, que tem mostrado capacidade contínua de atração de capital, refletindo a confiança dos investidores na sustentabilidade e no crescimento do turismo em Portugal”, afirma Paulo Silva.
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