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AIP: Escassez de recursos humanos é o principal travão à competitividade

Inquérito à Atividade Empresarial realizado pela Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) identifica o mercado de trabalho como o maior travão à competitividade, seguido da elevada carga fiscal.
29 Agosto 2024, 09h31

Nunca houve tantas pessoas empregadas, mas não são suficientes. “Portugal vive praticamente em situação de pleno emprego, com muitas empresas a sentirem enormes dificuldades em encontrar os perfis que necessitam para reforçar as suas equipas para prosseguirem com as suas estratégias de crescimento. Os recursos humanos são, por isso, vistos como o maior entrave ao crescimento, mas também à competitividade das empresas portuguesas, superando até a carga fiscal que recai sobre o tecido empresarial”, revela um inquérito da responsabilidade da Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI).

Os resultados indicam que uma em cada quatro empresas que participaram no inquérito à atividade empresarial aponta o ‘Mercado de Trabalho’ como o maior desafio que enfrentam, sendo ao mesmo tempo o maior entrave à competitividade. “Este resultado verifica-se numa altura em que há um recorde de 5,1 milhões de trabalhadores empregados, assistindo-se a uma crescente necessidade de trabalhadores estrangeiros para suprir as necessidades nacionais”.

“Há um crescimento expressivo no número de empresas que enfrenta um problema grave de falta de recursos humanos. Há negócio, há vontade de crescer e de internacionalizar, mas muitas vezes vemos as empresas de mãos atadas por falta de pessoas qualificadas que possam ajudar a esse crescimento”, refere Paulo Alexandre Caldas, diretor de Economia, Financiamento e Inovação da AIP-CCI, responsável pelo Inquérito à Atividade Empresarial e citado em comunicado.

A dificuldade em contratar novos trabalhadores surge como fator de stress para a gestão das empresas portuguesas, suplantando os fatores financeiros. Tendo em conta os resultados apurados nesta edição do Inquérito à Atividade Empresarial que a AIP realizada desde 1995, o ‘Mercado de Trabalho’ fica à frente do ‘Sistema Fiscal’ (23%) enquanto responsável pelo baixo crescimento e competitividade das empresas.

Portugal apresenta um regime fiscal muito pouco competitivo em que as empresas e os trabalhadores são sobrecarregados com uma série de impostos. José Eduardo Carvalho, presidente da AIP, vê nas respostas dadas pelas empresas o respaldo para o que tem vindo a defender: “Não podemos continuar com um quadro fiscal que é composto por 4.300 impostos e taxas e, ainda por cima, quando neles incidem e 451 benefícios fiscais. Não faz sentido. É preciso que o Governo olhe para este problema que asfixia as empresas e a economia”, diz.

À falta de recursos humanos, à fiscalidade excessiva, junta-se, obviamente, o contexto internacional, seja pelo nível de tensão geopolítica, seja pela conjuntura macroeconómica desafiante, enquanto fatores que limitam a capacidade das empresas portuguesas de crescer e de serem competitivas num mercado global. Isto apesar de, globalmente, as empresas respondentes revelarem uma situação financeira estável, com vontade de investir.

Segundo o inquérito, quando questionadas sobre a sua situação financeira, 52% das empresas consideram como ‘Normal’ e cerca de 40% consideram como sendo ‘Boa’ ou mesmo ‘Muito Boa’. Entre as cerca de três centenas de empresas que responderam ao inquérito realizado no início do segundo semestre deste ano, apenas 7% dizem que é ‘Má’ e 1% assume como sendo ‘Muito má’.

Tendo em conta o panorama positivo da situação financeira das empresas, há 35% que faz uma gestão assente exclusivamente em fundos próprios, sendo que 49% assume que pontualmente recorre a capitais alheios e 16% trabalha regularmente com crédito bancário. Neste ponto, é importante salientar a muita reduzida expressão de outras fontes de financiamento como sejam emissões de dívida ou o recurso ao mercado de capitais.

A dependência do financiamento bancário é reflexo de uma reduzida literacia financeira por parte de muitas empresas, situação que a AIP pretende alterar através de um conjunto de iniciativas que visam reforçar as competências de mil Pequenas e Médias Empresas (PME) na utilização e acesso a soluções de financiamento inovadoras.

A solidez financeira abre a porta ao investimento, embora fruto dos constrangimentos identificados ao crescimento. Das empresas que participaram no Inquérito à Atividade Empresarial, 47% consideraram que o valor do investimento realizado/a realizar situar-se-á num nível ‘Igual’ ao realizado em 2023. Apenas 22% consideraram que o investimento será num nível ‘Superior’ ao do ano passado e 6% dizem que será ‘Muito Superior’.

Este investimento será canalizado essencialmente para ‘Equipamento Produtivo’ (29%), seguido de áreas como as ‘Tecnologias de Informação e Comunicação’ (11%) e a ‘Qualificação de Recursos Humanos’ com 10,8%. “Estes resultados deixam transparecer a necessidade que as empresas sentem de reforçar a produção, mas também de serem cada vez mais digitais, essencial para o seu crescimento, bem como o foco na qualificação e retenção de talento num contexto desafiante para a atração de novos colaboradores”.

Preocupante é o facto de a grande maioria das empresas ignorar a importância do investimento e ‘Investigação & Desenvolvimento’ para o futuro das suas organizações. Das empresas que responderam, 47% revela que raramente investe nesta área fundamental para a diferenciação dos seus negócios, sendo também motivo de preocupação a reduzida relevância atribuída ao investimento em ‘Ambiente/Sustentabilidade’, isto num momento em que a transição energética se assume como determinante para o crescimento sustentável das empresas.

No Inquérito à Atividade Empresarial de 2024, cuja recolha de respostas decorreu no segundo semestre, junto de um universo de 298 empresas, a maioria estas são do sector dos Serviços (32%), seguido dos setores da Indústria (31%), Comércio (23%) e da Construção (7%). 63% das empresas inquiridas apresenta um volume de negócios até dois milhões de euros, sendo que 53% das empresas apresentam um número de colaboradores inferior a dez.

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