Um dos problemas de discutir o turismo é que demasiadas pessoas confundem o passado com o futuro. Uma coisa é esta actividade ter sido uma resposta interessante a problemas difíceis, e outra, completamente diferente, é se constitui uma opção estratégica de futuro, sustentável e prenha de vantagens.

O turismo foi interessante, no passado, mas muito menos do que se imagina. Em primeiro lugar, trouxe crescimento, mas não desenvolvimento. Gerou emprego, mas não ganhos de produtividade, um dos maiores problemas da economia portuguesa desde 2000.

Criou empregos que os portugueses não querem: tem os segundos salários mais baixos, apenas acima aos da agricultura; tem um nível muito elevado de imigração (de baixa qualificação), acima de 30% do emprego no sector.

Tem um impacto muito negativo em muitas outras actividades para os residentes, aquilo que os economistas designam de “externalidades negativas”, desde a habitação a muitos serviços locais.

O seu peso no PIB subiu de 12,6% em 2016 para 16,5% em 2023, uma trajectória que é simultaneamente indesejável e insustentável que continue.

Sabendo que este caminho não é sustentável, resta perguntar-nos se os principais decisores envolvidos estão conscientes disto. Os empresários do sector não se mostram convencidos disso, parecendo que estão cada um a tratar dos seus interesses particulares, sem uma visão de conjunto do sector. Se não tomarem a iniciativa, poderão acordar um dia com surpresas desagradáveis, a que terão de reagir, com perdas que poderiam ter evitado se tivessem despertado a tempo.

O Governo ainda não mostrou consciência dos limites do crescimento do turismo, tendo mesmo aprovado um conjunto de apoios ao sector.

As autarquias têm recorrido à “taxa” turística, que é de uma enorme perversidade, porque faz que fiquem monetariamente interessadas na maximização do número de turistas e nem sequer da maximização da receita do turismo. O pior desta perversão é que têm muito maior incentivo a aprovar um hotel do que um edifício de habitação, pelo que são as últimas interessadas em mudar o statu quo.

Se a mudança não for preparada, com tempo e racionalidade, o mais provável que venha como resposta a gritos e distúrbios, caracterizando-se, então, pelo pior dos dois mundos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.