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Consumo privado e investimento castigam crescimento da zona euro no terceiro trimestre

As revisões em baixa em França e na Irlanda levaram ao corte de 0,1 pontos percentuais em relação à estimativa inicial, com o consumo privado e o investimento a recuarem em cadeia. Em sentido inverso, as exportações foram o suporte do crescimento, sobretudo do lado dos serviços.
9 Setembro 2024, 07h30

A zona euro voltou a ficar próxima da estagnação no segundo trimestre deste ano, com um avanço de apenas 0,2% do PIB depois de uma revisão em baixa de 0,1 pontos percentuais (p.p.) em relação à estimativa rápida avançada no início de agosto. Esta revisão deveu-se sobretudo a cortes nas leituras francesa e irlandesa (onde a preponderância das multinacionais leva a ajustes frequentes desta natureza) e os analistas esperam mais revisões nos próximos meses, dado que o Eurostat está a levar a cabo uma reavaliação sistemática das séries de indicadores.

A economia da moeda única cresceu apenas 0,2%, ao contrário dos 0,3% inicialmente estimados (e que se mantiveram para a UE como um todo), o que, sendo um resultado próximo da estagnação, constitui a segunda leitura trimestral em cadeia mais forte desde o último trimestre de 2022.

Em termos homólogos, a estimativa inicial de um avanço de 0,6% foi confirmada, o que representa o crescimento mais forte em mais de um ano.

A atualização em baixa deveu-se sobretudo ao corte de 0,1 p.p. no crescimento francês, que avançou assim 0,2%, e da total inversão na Irlanda, que afinal caiu 1%, em vez de crescer 1,2% em cadeia. Recorde-se que, dado o peso das multinacionais na economia irlandesa, as estimativas rápidas são frequentemente alvo de profundas revisões, dadas as oscilações criadas pelos termos de troca.

No detalhe, o consumo privado caiu 0,1% e o investimento recuou 2,2%, evoluções que foram compensadas pelo avanço de 0,6% nos gastos públicos. Do lado externo, as exportações cresceram 1,4% enquanto as importações avançaram apenas 0,5%, com esta componente a registar um contributo positivo para o crescimento de 0,2% do segundo trimestre.

A Pantheon Macro destaca o regresso do consumo público a um crescimento mais forte na segunda metade do ano, embora argumente que “as exportações líquidas fizeram o trabalho sujo no último trimestre”. Os serviços, em particular, mostraram uma subida assinalável nas exportações – subida essa que mais do que compensou a queda nas vendas de bens da zona euro ao exterior.

O think tank alerta ainda os seus clientes que são expectáveis “revisões maiores do que o habitual este ano”, dado que o Eurostat está a proceder a uma revisão sistemática e alargada das várias séries temporais de indicadores macroeconómicos.

Alemanha continua a pesar

Por outro lado, os analistas da Pantheon lembram que os indicadores de mercado voltaram a tomar um sentido negativo, apontando para nova recessão (ou, pelo menos, uma estagnação) da economia. O cenário podia ser mais negativo, dado que a economia está próxima do pleno emprego, o que também permite algum otimismo quanto ao consumo privado até final do ano, mas a situação atual deverá ser próxima da recessão.

A Alemanha, em particular, continua a preocupar. As perspetivas até final do ano não são as melhores, como mostra o índice de gestores de compras (PMI): em queda há três leituras, julho trouxe o indicador de mercado de novo a valores de recessão, cenário consolidado em agosto com nova descida para 48,4 pontos. Com uma economia altamente dependente das exportações e a fraqueza em vários parceiros chave, como a China, o cenário parece difícil de inverter.

Acresce a isto a perda de confiança dos consumidores germânicos, com o indicador compilado pela GfK a tocar mínimos de maio, em linha com a deterioração do lado das empresas, que também renovou em agosto mínimos de fevereiro (tanto medido pelo índice ZEW, como pelo Ifo).

Como tal, o motor industrial europeu voltou a recuar no terceiro trimestre, perdendo 0,1% em cadeia. Em jeito de comparação, Portugal viu o seu PIB avançar 0,1%, o pior resultado dos últimos trimestres, mas ainda assim 0,2 p.p. acima do alemão.

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