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Porque é que o Hezbollah ainda usa ‘bips’? E como é que 5 mil explodiram?

Os serviços secretos de Israel terão implantado explosivos em cinco mil bips durante a fase de produção.
18 Setembro 2024, 15h05

Os pagers estiveram na moda há mais de 30 anos. Os mais novos não deverão ter ouvido sequer falar deste aparelho que servia essencialmente para receber um alerta que dava origem a uma chamada telefónica para ouvir uma mensagem de voz.

É um pequeno aparelho eletrónico que permitia receber “mensagens em qualquer país de forma rápida, segura e a um custo relativamente baixo”, recorda a Anacom. Um dos defeitos do sistema é que não permitia responder diretamente. Quem recebia o alerta no bip (na versão portuguesa) ou pager (em inglês) ligava para um número para ouvir a mensagem de voz gravada. Mais tarde, passou a ser possível enviar mensagens de texto, mas o aparelho tinha de estar preparado.

Em 1998 havia mais de 264 mil utilizadores em Portugal, mas o serviço já estava em recuo e desapareceu por completo em 2002, ano em que o o serviço foi desativado. A chegada do telemóvel matou o serviço, mas há um país no Médio Oriente onde ainda existe um grande uso destes aparelhos.

Os serviços secretos israelitas plantaram explosivos em cinco mil bips usados pelo grupo libanês Hezbollah. Os explosivos foram instalados há meses, revela a “Reuters”.

Doze pessoas morreram, incluindo duas crianças, e quase três mil ficaram feridas, incluindo combatentes do grupo e um enviado do Irão a Beirute.

Os aparelhos detonaram quando receberam uma mensagem codificada.

“A Mossad injetou um chip dentro do aparelho com material explosivo que recebe um código. É muito difícil de detetar. Mesmo com aparelhos ou scannes”, disse uma fonte libanesa à agência noticiosa.

Porque é que usam bips?

Os operacionais do grupo começaram a usar estes aparelhos para escaparem à vigilância de Israel, que usa os telemóveis para localizá-los.

Cerca de 170 combatentes já tinham sido mortos por operações de Israel no Líbano.

O secretário-geral do Hezbollah Hassan Nasrallah avisou, em fevereiro, que os telemóveis são mais perigosos do que os espiões de Israel e ordenou que fossem destruídos, enterrados ou fechados numa caixa de ferro.

O grupo optou por distribuir bips aos seus membros, desde combatentes a médicos.

Os smartphones representam um risco mais elevado de terem as comunicações interceptadas. Depois do ataque, os operacionais do grupo deverão deitar fora “não só os bips, mas também os telefones, tablets ou outros aparelhos eletrónicos”, disse à “Associated Press”, Nicholas Reese do Center for Global Affairs na New York University’s School of Professional Studies.

Os aparelhos são da marca Gold Apollo, sediada em Taiwan, que já veio a público garantir que estes modelos foram produzidos por uma empresa na Europa que tem o direito de usar a marca. O modelo é o AP-924, como na foto.

A BAC está sediada em Budapeste, Hungria, mas não tem uma presença física na morada da sede.

Uma fonte libanesa disse à “Reuters” que os aparelhos foram modificados pela agência secreta israelita durante a produção.

A tensão entre Israel e o Hezbollah tem aumentado de nível com a invasão de Gaza, com ambos os lados a lançarem ataques desde outubro do ano passado.

O Hezbollah pode vir a desvalorizar “a sua maior falha de contrainteligência em décadas”, mas o aumento da tensão pode provocar uma guerra entre Israel e o Hezbollah, que é apoiado pelo Irão, avisa Jonathan Panikoff, ex-responsável dos EUA para o Médio Oriente.

Um responsável da TrustedSec aponta que a bateria do bip devia ser “metade explosivo, metade bateria”, segundo Carlos Perez.

Já Sean Moorhouse, ex-responsável do exército britânico com experiência em explosivos, apontou que os sinais indicam o envolvimento de um Estado, com a Mossad a ser o principal suspeito, pois tem os recursos necessários.

No ano passado, Israel tentou sabotar o programa de mísseis de longo alcance do Irão, através da sabotagem de componentes para causar a sua explosão.

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