Uma viagem à Croácia permitiu- -me conhecer melhor um país que tem tanto de diferente de Portugal como a partilha de características e problemas em comum. No final, ficou a sensação de que a miopia nas análises gera equívocos e abre a porta aos populismos e extremismos. Comecemos por uma diferença importante: ao contrário de Portugal, a Croácia de hoje é um país jovem, independente há pouco mais de 30 anos. Por isso, não surpreende, que seja profundamente patriótico e que tente afirmar a sua identidade em cada ato individual ou coletivo. Um bom exemplo é a importância dada à religião. Os croatas são maioritariamente católicos, como os portugueses, mas os seus vizinhos sérvios são ortodoxos e os bósnios muçulmanos. Portanto, a importância da religião não se circunscreve à fé, mas como elemento de diferenciação. A língua, as etnias e as referências culturais e históricas são também bastante diferentes e a população é cerca de metade da portuguesa. No entanto, a Croácia é mais parecida connosco do que supomos. Pertence à União Europeia, à União Económica e Monetária e à NATO. É um país relativamente periférico, com peso político reduzido e uma costa continental relevante. Na gastronomia local, é fácil encontrar pratos como chocos com tinta, peixe grelhado, polvo ou mexilhões. O turismo tem um peso importante e crescente na economia, tal como cá. Quais as preocupações dos croatas? As mais frequentes são a falta de trabalhadores, os preços da habitação – para compra ou arrendamento – a emigração dos mais jovens, a imigração vinda da Ásia e o peso do turismo. Faz-lhe lembrar algo? Achei interessante, e um regresso de mais de 20 anos ao passado, constatar a desconfiança em relação ao euro, que a Croácia adotou em janeiro de 2023. Há muitas queixas com a inflação e pouca perceção acerca dos benefícios presentes e futuros do euro que geram saudosismo em relação à antiga kuna croata. O panorama não é muito diferente quando analisamos, com atenção, boa parte das economias mundiais. É muito frequente a existência de problemas ou dificuldades que parecem (mas só parecem) idiossincráticas ou localizadas apenas a um país. Essa miopia cria um terreno fértil para extremismos e para prescritores de soluções de rutura e de divisão. É um canto de sereia que devemos rejeitar. Não podemos sacrificar a exigência quanto à qualidade das decisões públicas, mas não será no extremismo revolucionário, à direita ou à esquerda e sempre autocrático, que se encontrará uma solução sustentável, justa e abrangente.