Na hora de pagar, poucos são os que têm consciência dos custos implícitos que acarreta. Segundo um estudo do Banco de Portugal (BdP), em 2017, estima-se foram realizadas 5,6 mil milhões de operações de pagamentos, cujos custos dos instrumentos de pagamento de retalho em Portugal ascenderam aos 1,9 mil milhões de euros, o que correspondeu a 0,99% do Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano.
Dito de outra forma, no total, pagar custou a cada português 185,5 euros. Mas mais de 90% dos custos totais foram suportados pelos comerciantes (48,7%) e pelo sistema bancário (41,6%), que, no estudo, abrangeu sete bancos: o BPI, o BCP, o Banco Montepio, o Santander Totta, a Caixa Geral de Depósitos, o Crédito Agrícola e Novo Banco, representativos de cerca de 82% dos custos totais do sistema bancário. Já os consumidores assumiram 9,7% dos custos totais.
No estudo “Custos sociais dos instrumentos de pagamento de retalho em Portugal”, realizado em junho de 2018, o supervisor bancário apresentou “os custos sociais dos instrumentos de pagamento de retalho em 2017, estimados com base nas perspetivas privadas do sistema bancário, dos comerciantes e dos consumidores”.
Seis em cada dez pagamentos foram realizados em numerário, apurou o BdP. “O numerário destaca-se como o instrumento que mais contribuiu para os custos sociais com os instrumentos de pagamento (57,3%)”, diz o estudo. Ainda assim, foi o segundo método de pagamento mais eficiente para efetuar pagamentos, custando à sociedade 34 cêntimos por operação, à frente dos pagamentos por cartão de crédito (38 cêntimos) e as transferências a crédito (39 cêntimos). Segundo o estudo do supervisor bancário, os débitos diretos constituíram o método de pagamento mais eficiente, custando à sociedade 27 cêntimos por transação. Já pagar com cheque acarreta um custo acima dos 3,5 euros, enquanto pagar com cartão de crédito custa 1,88 euros.
Ainda assim, o BdP explica que “a composição dos custos sociais permitiu ainda apurar o valor a partir do qual um instrumento de pagamento é mais eficiente para a sociedade do que outro”. Para pagamentos abaixo dos 1,58 euros, o supervisor bancário concluiu que pagar em numerário é mais eficiente. E, “acima desse valor, é o cartão de débito o mais vantajoso para a sociedade”.
Pagar custou aos consumidores o equivalente a 0,41% do PIB em 2017
Pela utilização dos métodos de pagamento, os portugueses pagaram 789 milhões de euros, ou seja, 0,41% do PIB. Pagar com cartões custou 478 milhões de euros, enquanto “os custos com numerário totalizaram 212 milhões de euros”, lê-se no estudo do BdP.
Entre os custos suportados pelos consumidores, incluem-se “os encargos associados ao tempo necessário para efetuar o pagamento”, que o BdP estimou em 185 milhões de euros, assumindo maior expressão no caso dos pagamentos em numerário, que representaram 66% dos custos ‘temporais’ para pagar.
No entanto, os pagamentos em numerário foram, a par dos débitos de diretos, os métodos de pagamento com menor valor unitário, cifrando-se nos 6 cêntimos por pagamento. Já os cartões de crédito e os cheques constituíram os métodos de pagamentos mais caros por transação: 2,56 euros e 3,42 euros, respetivamente).
Os portugueses suportaram ainda os custos associados às comissões pagas aos bancos, que ascenderam aos 604 milhões de euros.
Bancos tiveram custos de 793 milhões, mas comissões ajudaram a gerar proveitos
Do lado do sistema bancário privado, a disponibilização dos instrumentos de pagamento de retalho custou aos bancos 793,3 milhões de euros, ou seja, 0,44% do PIB, em 2017. Mas os proveitos da banca, neste domínio, superaram os custos, cifrando-se nos 925,4 milhões de euros, o que correspondeu a 0,5% do PIB, em igual período. “Verificou-se, assim, pela primeira vez desde a realização deste estudo, que a subsidiação cruzada entre instrumentos de pagamento foi suficiente para gerar uma situação global positiva de 132,1 milhões de euros, que corresponde a uma taxa de cobertura de 116,7%”, assinala o BdP.
Para o excedente dos proveitos sobre os custos para os bancos em análise, foi determinante “a inclusão das comissões cobradas através dos pacotes de gestão e de manutenção de contas”, concluiu o estudo do BdP. Nos casos dos cartões de débito, pré-pagos, cartões de crédito e transferências a crédito, os proveitos superaram os custos associados em 230%, 110%, 170% e 114%, respetivamente.
Entre 2013 e 2017, a banca nacional tornou-se mais eficiente, depois de ter reduzido 10% o valor dos custos totais e também do custo por cliente bancário. Este último, em 2013, acarretava um custo de 109 euros e baixou para os 98 euros, em 2017.
Entre os métodos de pagamento que acarretam maiores custos para os bancos, encontram-se o numerário, que representa 32% dos custos totais suportados pela banca (255,2 milhões de euros), seguindo-se os pagamentos por cartões de pagamento, que representaram, no conjunto, 45% dos custos assumidos pelo bancos (334,7 milhões de euros).
Comerciantes pagaram a maior parte da ‘fatura’
Para aceitar pagamentos, o BdP estimou que os comerciantes pagaram 1206,4 milhões de euros, o que representou 0,62% do PIB, em 2017. A maioria dos custos resultou do facto de os comerciantes aceitarem pagamentos em numerário, que representaram 58% dos custos totais (702,8 milhões de euros).
A aceitação dos diferentes métodos de pagamento não é indiferente para os comerciantes. “Um dos elementos de custo mais relevante (…) são as comissões pagas aos bancário e às empresas de transporte de valores”, que representaram 25,3% do custo total assumido pelos comerciantes, revela o BdP.
Pagamentos em numerário são mais utilizados pelos mais velhos e pelos menos instruídos
Regra geral, os pagamentos em numerário são tanto mais utilizados quanto menor a formação académica dos pagadores. As pessoas que apenas têm a instrução primária, e as que a não têm, utilizaram notas e moedas para fazerem pagamentos em 90% e 97% das vezes, respetivamente. No plano oposto, os doutorados apenas pagam em numerário 56% das vezes, enquanto os detentores de um mestrado o fazem-no 57% do tempo. Quanto ao uso do cartão débito, ambos utilizam-no 27% das vezes para efetuarem pagamentos.
Por idade, são os mais velhos que recorrem aos pagamentos em numerário. Os cidadãos entre 65 e 74 anos pagam com notas e moedas 85%. Nos outros escalões de idades analisados pelo BdP, a percentagem de utilização do numerário oscila entre os 61% e os 67%. Os que mais utilizam o cartão de débito têm entre 25 e 34 anos, e os que mais utilizam o cartão de crédito têm entre 55 e 64 anos.
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